O assunto batismo esteve na pauta da IECLB desde a década de 80, e emergiu com maior ênfase na segunda metade de 90, com a polêmica suscitada pela prática do rebatismo em algumas comunidades sob influência da expressão carismática. Diferentes documentos da igreja, aprovados ao longo dos anos, condenam a prática do rebatismo e exortam seus praticantes para a sua interrupção. Em maio de 2004, com o Fórum da Unidade: Contexto e Identidade da IECLB, esse assunto retornou. Com a convicção de que, no atual contexto, a IECLB tem como seu desafio central aprofundar a reflexão e o diálogo acerca da identidade confessional e da unidade da igreja, a Presidência liderou um processo de diálogo com representantes do Movimento de Renovação Carismática (MC), devidamente respaldado pelo Conselho da Igreja.
Esse difícil, porém necessário diálogo teve uma significativa intensificação em 2004 e 2005. A polêmica central se deu em torno das distintas compreensões teológicas da relação entre graça e fé, sobretudo na compreensão do batismo. O batismo é oferta da graça de Deus acolhida em fé, mas sem poder a fé constituir-se em condição para o batismo. A prática do rebatismo, portanto, representa uma auto-exclusão da base confessional da IECLB.
Ao promover o diálogo, havia a esperança de que o mesmo pudesse conduzir a uma maior identificação do movimento carismático com a base confessional da IECLB, a que o próprio movimento carismático viesse a coibir radicalizações e a que pudéssemos em conjunto encontrar modalidades alternativas para legítimos anseios do movimento carismático. Esse propósito infelizmente não se concretizou, embora os esforços de parte a parte. O processo resultou em pedidos de desligamento do quadro de obreiros e um limitado número de saída de membros de comunidades da IECLB, por conta de divergências doutrinárias. Não se trata, neste momento, de distribuir responsabilidades quanto a esse fato, mas sim registrá-lo, e fazê-lo com muito pesar, pois se um membro sofre, todos sofrem com ele (1 Coríntios 12.26). Entretanto, parece não restar dúvida de que havia questões teológicas profundas a nos dividir.
A diversidade de espiritualidade existente na IECLB é, em princípio, bela e enriquecedora para a igreja. Não são poucas pessoas que têm se sentido atraídas para a IECLB ou a apreciam particularmente porque há nela um espaço bastante amplo para desenvolver, de maneira peculiar e característica, a experiência de fé, a edificação comunitária e o projeto missionário. A diversidade tem, porém, seus limites, que são ultrapassados precisamente quando de algum modo são atingidos os pilares da confessionalidade luterana e/ou se instala na vida da comunidade um espírito divisionista que é incompatível com a compreensão de igreja como corpo de Cristo, em que os diferentes membros cooperam, uns com os outros, para sua edificação.
Com a presente coletânea estamos disponibilizando, em ordem cronológica, as principais correspondências havidas entre a Presidência e lideranças do Movimento Carismático, entre 2004 e 2005. Da mesma forma, incluímos, em anexo, outros textos relacionados a essa temática e que foram divulgados, em diferentes setores da igreja. Desta forma, objetivamos disponibilizar mais amplamente os conteúdos deste diálogo. Fazemos isso com a constatação de que há na IECLB uma crescente tomada de consciência quanto à sua identidade confessional. É fundamental que os membros da IECLB saibam as razões pelas quais somos de confissão luterana, em contexto de grande pluralismo religioso, sobretudo em torno de temas tão centrais como o batismo. Queremos continuar crescendo como igreja na compreensão e no compromisso comunitário com a prática responsável do batismo.
Porto Alegre, 29 de setembro de 2006
P. Dr. Walter Altmann
Pastor Presidente
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