1. Fundamentação
O que diz a Confissão de Augsburgo sobre a Ceia do Senhor:
A igreja é a congregação dos santos, na qual o evangelho é pregado de maneira pura e os sacramentos são administrados corretamente.
(...)
Da ceia do Senhor ensinam” [isto é, as igrejas da Reforma] “que o corpo e sangue de Cristo estão verdadeiramente presentes e são distribuídos aos que comungam na ceia do Senhor.
(...)
Com respeito ao uso dos sacramentos se ensina que foram instituídos não somente para serem sinais por que se possam conhecer exteriormente os cristãos, mas para serem sinais e testemunhos da vontade divina para conosco, com o fim de que por eles se desperte e fortaleça a nossa fé. Essa também a razão por que exigem fé, sendo usados corretamente quando a gente os recebe em fé e com isso fortalece a fé.
(...) o santo sacramento foi instituído não para com ele estabelecer um sacrifício pelo pecado - pois o sacrifício já sucedeu anteriormente - , mas a fim de que por ele se nos desperte a fé e se consolem as consciências, as quais pelo sacramento percebem que Cristo lhes promete a graça e a remissão dos pecados. Razão por que esse sacramento requer fé, sendo em vão seu uso sem fé.
Confissão de Augsburgo - 1530
Texto completo da Confissão
O que diz o Catecismo Menor de Martim Lutero sobre a Ceia do Senhor:
Que é a ceia do Senhor? É o verdadeiro corpo e sangue de nosso Senhor Jesus Cristo para ser comido e bebido por nós, cristãos, sob o pão e o vinho. Este sacramento foi instituído pelo próprio Cristo.
Onde está escrito isto? Assim escrevem os santos evangelistas Mateus e Lucas, e o apóstolo Paulo:
Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e o deu aos seus discípulos, dizendo: Tomem, comam; isto é o meu corpo que é dado por vocês; façam isto em memória de mim.
A seguir, depois de cear, tomou também o cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos dizendo: Bebam dele todos; porque este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês para remissão dos pecados; façam isto, todas as vezes que o beberem, em memória de mim.
Para que serve este comer e beber? Isto nos mostram as palavras: Dado e derramado em favor de vocês, para remissão dos pecados. Por estas palavras nos são dados, no sacramento, perdão dos pecados, vida e salvação. Pois onde há perdão dos pecados, também há vida e salvação.
Como pode o simples comer e beber fazer coisas tão grandes? Não é o comer e o beber que fazem tudo isto, mas sim as palavras:
Dado e derramado em favor de vocês para remissão dos pecados. Estas palavras são, junto com o comer e o beber, o mais importante na ceia do Senhor. E quem crê nestas palavras tem o que elas dizem: perdão dos pecados.
Quem recebe dignamente este sacramento? Jejuar e preparar-se exteriormente é, sem dúvida, uma boa disciplina. Mas verdadeiramente digna e bem preparada é a pessoa que crê nestas palavras: Dado e derramado em favor de vocês para remissão dos pecados. A pessoa, porém, que não crê nestas palavras ou delas duvida é indigna e não está preparada. Pois as palavras em favor de vocês exigem que a pessoa creia de fato.
Catecismo Menor de Martim Lutero
Texto completo do Catecismo
O que diz a Constituição da IECLB sobre a Ceia do Senhor:
A Comunidade congrega os membros da Igreja em torno de um centro comum de culto, pregação e celebração dos sacramentos. (Art. 8º, parágrafo único)
Em obediência ao Senhor da Igreja, a Comunidade tem as seguintes incumbências (...) realizar a pura pregação da palavra de Deus e a reta administração dos sacramentos; (Art. 11, inciso I)
Constituição da IECLB
texto completo da Constituição
O que diz o Guia Nossa Fé – Nossa Vida sobre a Ceia do Senhor:
Pelo sacramento da ceia do Senhor une-nos no mistério do corpo de Cristo, fortalecendo-nos para a missão de servir a Deus e ao próximo.
(...)
O batismo e a Ceia do Senhor nos transmitem a promessa do evangelho em palavra visível e atuante.
(...)
A Ceia do Senhor é a celebração da comunhão mais íntima possível com Cristo, com as irmãs e os irmãos na comunidade. Cristo - que por nós morreu, ressuscitou e voltará no final dos tempos para erguer em definitivo seu reino - realmente se torna presente.
Ele nos serve como hospedeiro e alimento. Dá-nos seu corpo e sangue, em forma de pão e vinho. Convida-nos a participar alegremente de sua ceia. Proclama a vitória sobre nosso pecado, fracasso, egoísmo e desunião. Permite-nos antecipar a alegria do banquete eterno. Ele nos envolve, pelo perdão e pela partilha, numa nova relação com Deus, conosco mesmos, com irmãs e irmãos. Liberta-nos para repartir o pão nosso de cada dia.
Onde celebramos a Ceia do Senhor? Celebramos a Ceia do Senhor sempre na reunião com os irmãos e as irmãs: na igreja, no lar, no hospitalou em outro lugar.
Como nos preparamos? A fim de participarmos dignamente da Ceia do Senhor, analisamos nossa situação perante Deus e o meio em que vivemos, à luz da vontade dele. Ao constatar nossa situação precária, dirigimo-nos a Deus, em oração, ao próximo, em conversa franca, e nos arrependemos de nossas faltas. Estamos dispostos a melhorar o modo de viver, aceitando o perdão de Deus e do outro e concedendo-o ao próximo.
Como celebramos a Ceia do Senhor? Lembrados da ordem de Cristo, realizamos a ceia em sua memória. Comemoramos a vinda, vida, morte, ressurreição e a volta de Cristo. Segundo as palavras da instituição, ele se oferece a nós, em seu corpo e seu sangue, para a remissão dos pecados. Quando a comunidade celebra, com pão, vinho e as palavras da narrativa da instituição da ceia, Cristo recria e cria a comunhão.
O que acontece na Ceia do Senhor? Ao recebermos a palavra de perdão junto com pão e vinho, experimentamos na fé a libertação da culpa. Assim é renovada a comunhão com Deus, com os irmãos e as irmãs e com o meio em que vivemos.
O amor de Deus, que se reparte em nosso favor, nos liberta e motiva para o repartir solidário.
Através da Ceia do Senhor experimentamos, já agora, um antegozo do que ele nos dará, em plenitude, no seu reino: a eterna comunhão em justiça, paz e amor.
Por que oramos na Ceia do Senhor?
Por meio da oração na Ceia expressamos gratidão e louvor pelo amor de Cristo. Ele vem a nós, torna-se nosso irmão, e nos reveste com amor e dignidade. Pedimos seu auxílio para perdoar e amar o próximo e promover paz e justiça no mundo.
Guia Nossa Fé – Nossa Vida
texto completo do Guia
O que diz o Regimento Interno da IECLB sobre a Ceia do Senhor:
Em obediência aos mandamentos de Deus e na confiança de sua promessa, os membros são chamados a participar do culto na Comunidade e atender ao convite para a Ceia do Senhor;
Regimento Interno da IECLB, art. 18, inciso I
Texto completo do Regimento
O que diz o Livro de Culto sobre a Ceia do Senhor:
Na Ceia do Senhor, Jesus está presente em, com e sob os elementos do pão e do vinho e se dá a nós de graça. Na Ceia do Senhor recebe-se o Cristo inteiro. Isto significa que a Ceia reafirma e concede o benefício inteiro do sacrifício de Jesus. E esse benefício abrange vários aspectos. Neste sentido, Ceia do Senhor é: a) presença real: Jesus disse com clareza que “isto [o pão] é [!] meu corpo” e “este cálice é [!] a nova aliança no meu sangue” (1Co 11.24-25); b) comemoração: Jesus ordenou celebrar a Ceia “em memória de mim”. Fazê-la em sua memória é atualizar, tornar presente e afirmar a eficácia de toda a obra de Deus em Cristo (anámnesis), desde a criação até o retorno de Cristo; c) comunhão: a Ceia cria e estabelece comunhão com Cristo (1Co 10.16) e, por ser comunhão com e em Cristo, cria, é e sustenta comunhão entre as pessoas que comungam; d) compromisso: participação na Ceia do Senhor implicará compromisso solidário na promoção e defesa da vida criada por Deus; e) ação de graças: Jesus deu graças na instituição da Ceia. Celebrar a Ceia por ele ordenada é manifestar alegria, gratidão, louvor (At 2.46). Ceia do Senhor é expressão de gratidão e louvor (articulada por meio da Oração eucarística) efusivos pelo que ali é recebido, atualizado, experimentado. f) ação e presença do Espírito Santo: na sua Ceia com discípulos, Jesus agiu. Na Ceia da comunidade cristã, o Espírito Santo age. Essa Ceia é do Senhor porque o Espírito Santo a faz; g) antecipação do banque-te messiânico: a Ceia do Senhor antecipa a comunhão plena com Deus. Ela proclama a ressurreição de Jesus na expectativa da sua volta (1Co 11.26); h) remissão de pecados e reconciliação: Cristo morreu por nós. Esse sacrifício concedeu perdão dos pecados. Fomos reconciliados com Deus mediante o sacrifício de Jesus (Rm 5.10). A Ceia do Senhor celebra esse benefício. E porque Deus perdoa e reconcilia, quem participa da Ceia está capacitado e incumbido por Deus de perdoar e reconciliar-se com seu próximo. Daí o lugar do Gesto da paz no culto da comunidade (Tg 5.16).
Livro de Culto
Texto completo do Livro de Culto
O que dizem manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB sobre a Ceia do Senhor:
O cuidado com a seriedade da Ceia não nos autoriza a sermos juízes da fé alheia, o que é sempre reservado ao próprio Deus. Em contraposição, se hoje a Ceia, comparando-se à prática do passado, é celebrada com mais alegria e espírito festivo, gerados pela dádiva de Deus, essa percepção correta não pode significar que se deixe de lado a dignidade que deve caracterizar a celebração de toda e qualquer Ceia. Ela não é um piquenique comunitário! Desleixo no preparo da liturgia, abandono de vestes litúrgicas, lida descuidada com o pão e o vinho, bem como inobservância de elementos essenciais da Ceia não são admissíveis num exercício ministerial responsável. Assim, não se faz necessário apenas o estudo da Ceia do Senhor, mas também um constante exame de nossa prática eucarística.
(...) estudando-se o Livro de Culto, encontramos, no tocante ao perdão dos pecados, à página 34, por exemplo, a possibilidade de que o voto inicial em todo culto, portanto também no culto eucarístico, possa ter a forma de confissão de pecados. Aliás, essa possibilidade é aqui reforçada, recomendando-se que sempre esteja presente quando temos a celebração da Ceia. Mas no Livro de Culto são aventadas também outras opções: celebração da penitência comunitária, ofício da absolvição individual; o momento do gesto da paz como espaço propício para a confissão e a reconciliação. “Uma música, uma canção do coral, um hino podem servir de estímulo para este momento. Pode ser útil um instante de silêncio para a confissão individual.” (p. 34)
Em síntese: o Livro de Culto contempla a dimensão de perdão dos pecados em relação à Ceia (e em outros espaços litúrgicos e na prática poimênica), mas não limita seu sentido ao perdão dos pecados, o que não seria teologicamente sustentável. À página 25, segunda coluna, lemos: “Na Ceia do Senhor recebe-se o Cristo inteiro. Isto significa que a Ceia reafirma e concede o benefício inteiro [realce no texto original] do sacrifício de Jesus.” A seguir temos, até a p. 26, primeira coluna, uma descrição do benefício que nos traz a Ceia, em suas múltiplas dimensões. Entre elas estão arroladas “remissão de pecados e reconciliação: Cristo morreu por nós [realce no texto original]. Esse sacrifício concedeu perdão dos pecados. Fomos reconciliados com Deus mediante o sacrifício de Jesus (Rm 5.10).”
São palavras claras que aqui só podemos relembrar e enfatizar.
As palavras de instituição da Ceia do Senhor - Tendo observado acima que o Livro de Culto não exclui a compreensão de que a Ceia do Senhor é “para remissão dos pecados” (embora essa dimensão não esgote o benefício que nos é conferido na Ceia), a questão das palavras da instituição pode ser resolvida mais facilmente. Entre os quatro relatos da última Ceia de Jesus com seus discípulos (Mateus 26.26-30; Marcos 14.22-26; Lucas 22.14-20; 1 Coríntios 11.23-26) não há qualquer hierarquia. Não deixa de chamar a atenção, porém, que apenas o evangelista Mateus tem em seu relato a expressão “para remissão de pecados” (Mt 26.28). Embora, segundo boa técnica exegética, se possa reconhecer a expressão como acréscimo a uma versão anterior mais breve, em que a cláusula não se encontrava, como é o caso em Marcos (evangelho mais antigo), isso de modo algum desqualifica a expressão em Mateus como “inautêntica”. Bem ao contrário, ela expressa uma compreensão essencial do sentido da Ceia que Jesus celebrou com seus discípulos e legou a nós.
No entanto, seria absurdo se alguém quisesse concluir, numa estranha inversão de papéis com os autores bíblicos, que Marcos, Lucas e Paulo estariam distantes da base confessional da IECLB, pelo fato de em seus relatos não constar a expressão “para remissão dos pecados”! Por que, então, tirar precisamente essa conclusão em relação ao Livro de Culto, quando ele emprega a versão paulina das palavras de instituição, se, além do mais, o livro deixa absolutamente claro na fundamentação teológica que o perdão dos pecados e a reconciliação são dimensões inerentes à Ceia do Senhor, como acima exposto? O “por vós” (“em favor de muitos”) identifica o benefício recebido na Ceia. O “perdão dos pecados” está incluído nessa expressão usada por Paulo e também o está quando essas palavras são proferidas segundo a liturgia-modelo constante no Livro de Culto. Por que estaria incluído no texto bíblico, mas não mais quando as mesmas palavras são proferidas na celebração da Ceia?
(...) O Ofertório como resposta à dádiva divina - A inclusão do ofertório na liturgia oficial da IECLB tem gerado desconforto entre membros e ministros e ministras. É óbvia e felizmente muito forte nossa consciência cunhada pela redescoberta do evangelho por parte de Lutero, de que nossa justificação vem exclusivamente pela graça de Deus e a recebemos tão-somente pela fé. Nada que possamos ofertar tem qualquer serventia para nossa salvação. Então, como poderíamos incluir legitimamente um “ofertório” na liturgia da Ceia do Senhor?
Reconhecendo essa dificuldade, o próprio Livro de Culto diz explicitamente que “precisa haver cautela no processo de recolocar o Ofertório na liturgia, para que não dê margem ao mal-entendido de que se trata de obra meritória humana” (Livro de Culto, p. 28, nota 18). Seria, porém, um mal-entendido, sim.
O Ofertório é parte do todo de uma liturgia, de um culto. (É o que de resto deve ser dito em relação a qualquer elemento do ordo). Embora sendo parte do todo, o Ofertório não está no início do culto! Ele está antes da instituição da Ceia, é verdade, mas está colocado após a confissão de pecados (onde reconhecemos que somos pessoas pecadoras e que a salvação não é mérito algum nosso), o anúncio da graça (quando é reiterado o que Deus fez e faz em favor de nós), o Credo (onde confessamos nossa fé) e especialmente após as leituras bíblicas e a pregação (que nos falam da salvação por graça e não pelas obras da lei). Portanto, o Ofertório é encarado e pode ser visto tão-somente como resposta ou reação à ação primeira e graciosa de Deus. É por isso que um culto nunca pode iniciar com o Ofertório e é adequado ter bastante no início a confissão de pecados.
Como entender, então, que o Ofertório venha antes das palavras de instituição da Ceia? Já realçamos que no contexto do culto ele constitui resposta ao que veio antes dele. Porém, o Ofertório não é um elemento isolado, posto antes da Ceia, mas é parte de outro todo, a saber, a Ceia enquanto refeição.
A argumentação de fundo é a exposta a seguir. A Ceia é composta por quatro atos: 1) Jesus tomou (pegou) o pão e o vinho; 2) Jesus abençoou; 3) Jesus partiu o pão; 4) Jesus deu. Eram os quatro atos de uma refeição judaica tradicional. E a última ceia de Jesus com seus discípulos foi uma refeição segundo essa tradição. Aí se deu a instituição da Ceia. A novidade está no significado novo que Jesus atribuiu a ela, sobretudo ao alimento: isto é meu corpo e meu sangue. Desses quatro atos derivaram e se desenvolveram quatro ações litúrgicas: 1) do “tomou/pegou”, o levar dos alimentos e preparar a mesa, que dá origem ao Ofertório; 2) do “abençoou”, a instituição como tal, que hoje está traduzida na Oração Eucarística (e não somente nas palavras de instituição!); 3) do “partiu”, a Fração; 4) do “deu”, o momento da comunhão propriamente dita.
O Ofertório, portanto, não é uma ação nossa para receber ou merecer a ação de Jesus de dar-se a nós na Ceia. O Ofertório é (a) nossa resposta ao amor de Deus por nós proclamado e reafirmado na Palavra e (b) é parte do todo da refeição eucarística. É parte do todo que não dá margem para obra meritória nossa, mas que é sempre obra misericordiosa e gratuita de Deus “por nós”. Nossa “obra”, derivada da Ceia, e ela própria fruto da graça divina, será entender, acolher na fé e assumir o Ide, e servi ao Senhor com alegria!, proferido ao final do culto, após a bênção.
Não dá para esquecer que o Ofertório, não como obra ou ação, mas sempre como parte da nossa reação ou de nossa ação diaconal em resposta ao amor de Deus, ajuda a sublinhar a dimensão mais ampla da Ceia. A Ceia do Senhor tem a ver com comida repartida (ou não repartida) – lembremos de 1 Co 11.17ss, outra vez um texto paulino! A Ceia tem a ver com irmos juntos ao redor de uma mesa, estabelecendo comunhão muito estreita uns com os outros. A Ceia tem a ver com uma refeição (Livro de Culto, p. 39, “Preparo da mesa”). A Ceia tem a ver com a nossa vida, nua e crua. Daí que os alimentos usados na Ceia não são de origem mágica, mas são parte daquilo que Deus já nos deu; e que nós reunimos para que Deus use e venha a nós como presença real. Em suma: aqui convém lembrar o hino bem conhecido: Tudo vem de ti, Senhor. E do que é teu te damos. Amém. (Hino baseado em 1 Cr 29.14 e citado no Livro de Culto, p. 352)
Assim, o Ofertório não está voltado para a Ceia que vem, mas deriva da Palavra que já foi lida e pregada. Ele é resposta diaconal (cf. Livro de Culto, p. 39-40). Em relação à Ceia, ele é parte dela. Nesse sentido, a lógica litúrgica e teológica é que pelo Ofertório, sempre em resposta ao amor de Deus, flua a contribuição dos membros, inclusive a monetária das ofertas, e se visibilizem (através de produtos ou de símbolos) a ação ou as ações diaconais da comunidade.
Posicionamento sobre a Ceia do Senhor – 2010
texto completo do Posicionamento
2. Desdobramentos práticos da Ceia do Senhor:
O que diz o Guia Nossa Fé-Nossa Vida sobre desdobramentos práticos da Ceia do Senhor:
Por que pão e vinho? Na véspera de sua morte, Jesus confraternizou com seus discípulos, comemorando, na ceia pascal, a libertação do povo de Deus. Ao dar-lhes pão e vinho, ele se ofereceu a si mesmo, fazendo-os participantes da libertação universal, oferecida a todos e todas, por sua morte e ressurreição. Por isso usamos o pão ou a hóstia, feitos de farinha e água, bem como o vinho. Por amor e solidariedade com crianças e pessoas que se abstêm de bebida com teor alcoólico, oferecemos suco de uva.
Quando participamos da Ceia do Senhor? Participamos da ceia frequentemente, pois a comunhão com Cristo, os irmãos e as irmãs precisa ser alimentada sempre.
Quem distribui a Ceia do Senhor? A administração do sacramento da Ceia cabe ao pastor, à pastora ou a outra pessoa obreira ou colaboradora, incumbida desta tarefa.
Quem pode participar da Ceia do Senhor? Como pessoas batizadas, somos convidados a participar da Ceia quando livremente desejarmos que seja revigorada a comunhão com Deus, com a comunidade e com a criação. Nesta comunhão também crianças batizadas, ainda não confirmadas, podem participar.
Quem não está preparado? Não estamos preparados para participar da Ceia, quando não reconhecemos os pecados e deles não nos arrependemos; quando não estamos dispostos a melhorar nossa vida; quando não aceitamos o perdão de Deus e não perdoamos ao próximo; quando não repartimos as dádivas recebidas.
Guia Nossa Fé – Nossa Vida
texto completo do Guia
O que dizem manifestos e posicionamentos da Direção da IECLB ref. desdobramentos práticos da Ceia do Senhor:
Há ainda muito, entre nós, uma concepção individualista da Ceia, negligenciando a dimensão comunitária, o que se reforça quando o recebimento da Ceia se dá em “fila indiana”, ao invés de em grupos ou em círculos. Cálices individuais, justificados em situações de risco de contágio de enfermidades, desvalorizam simbolicamente a Ceia, quando são descartáveis. Nos casos de risco, pode-se usar a modalidade da intinção, em que a hóstia é colocada em contato com o vinho no cálice comum pela pessoa comungante. Há muitas vezes também uma compreensão um tanto mágica da Ceia, como se ela produzisse seus efeitos salvíficos, independentemente da fé que acolha suas promessas.
(...) a liturgia “oficial” da IECLB não é nenhuma camisa de força que devesse ser tomada em espírito fundamentalista. É perfeitamente possível que uma liturgia em vigor venha a ser revista, assim como o Livro de Culto veio a substituir, com muitas vantagens deve-se observar, o Manual do Culto anteriormente em uso. Tal revisão haverá de ser resultado de um meticuloso processo de estudo, diálogo, consulta, discernimento e, por fim, decisão dos órgãos constituídos da IECLB. Enquanto isso – não devemos esquecer –, o próprio Livro de Culto propõe, com toda clareza e repetidamente, que toda liturgia deve ser moldada. Esse esforço de “moldagem”, por conseguinte, não apenas dá margem para ênfases específicas, também teológicas, bem como adequações às necessidades e contextos particulares, como inclusive as sugere e recomenda. Naturalmente, essa “moldagem” também tem seus limites; ela deve ocorrer sempre sem ferir a concepção essencial de que no culto é Deus quem nos serve por sua palavra e seus sacramentos, cujas promessas acolhemos em fé e a elas respondemos em gratidão, louvor, testemunho e serviço de amor ao próximo.
(...)fica reiterado, para fins de clareza, o que a Presidência manifestou no Concílio da Igreja de Estrela / RS (2008), num sentido alternativo, quando a moção referida foi apreciada:
“1 – Sejam incentivados o estudo e o exame permanente da fundamentação bíblico-confessional da Ceia do Senhor e da liturgia em vigor na IECLB.
2 – Seja fomentada uma coerente conscientização, estudo e vivência da Ceia do Senhor em todas as instâncias e instituições da IECLB.
3 – Seja dado especial estímulo à pregação e ao ensino acerca da Ceia do Senhor nas comunidades da IECLB.
4 – Seja dada ênfase na prática pastoral e comunitária à dádiva da confissão e à absolvição dos pecados.”
Essa formulação foi aceita pelo Concílio da Igreja e, portanto, a exortação nela contida continua válida para toda a igreja.
(...)
Carta recebida pela Presidência em janeiro também manifesta “inquietação com a prática crescente de substituição das palavras da instituição por canções, paráfrases ou outras formulações”, porque, assim o argumento, “abre caminho à arbitrariedade e às interpretações teológicas individuais”. De fato, o uso de canções, paráfrases ou outras formulações em lugar das palavras de instituição é de todo desrecomendável. Essa desrecomendação não se aplica quando as próprias palavras de instituição são cantadas, mas a paráfrases ou canções com letra diferente das palavras de instituição. Alguma paráfrase, normalmente cantada, pode, isto sim, ser usada durante a comunhão ou, eventualmente, cantada após as palavras de instituição terem sido pronunciadas. Hinos que podem ser cantados durante a comunhão são, por exemplo, o texto da Missa Salvadorenha e o da Comunidade de Taizé, além de outros hinos referentes à Ceia contidos nos dos volumes do Hinos do Povo de Deus, hinário oficial da IECLB.
No entanto, a discussão em torno de quais palavras de instituição devemos recitar denota, paralelamente a uma legítima preocupação, também uma certa expectativa quase mágica de que o emprego das palavras “certas” pudesse garantir que as comunidades viessem a compreender e, talvez, sentir o “verdadeiro” significado da Ceia. Se o não mencionar as palavras “para remissão dos pecados” pode contribuir para “esquecer” essa dimensão da Ceia, a sua acentuação unilateral não pode ter contribuído para uma compreensão nitidamente individualista da Ceia, negligenciando sua dimensão de comunhão? Como seja, mais importante é termos presente que sempre que celebrarmos a Ceia, será preciso fazê-la acompanhar, no culto, da pregação quanto ao seu significado e alcance. Ou seja, deve-se evitar celebração da Ceia em que não haja pregação da palavra ou a pregação não faça referência à Ceia a ser celebrada.
Por isso mesmo, tampouco há qualquer razão para considerar-se a versão paulina como a “única verdadeira”. Nem é essa a pretensão do Livro de Culto ao empregar a versão paulina, talvez sim a de abrir a compreensão para o sentido mais amplo da Ceia. Não se veja, pois, nisso uma questão dogmática, mas, antes, empregue-se o princípio da liberdade evangélica. Onde se considerar que é oportuno (ou mesmo necessário), por razões pastorais, consideradas suscetibilidades de membros da igreja, dar-se ênfase especial à dimensão do perdão dos pecados, é perfeitamente legítimo empregar-se outra versão bíblica ou, mesmo, a composição dos vários textos bíblicos empregada por Lutero no Catecismo Menor, pois reconhecemos nela uma interpretação correta da mensagem bíblica no tocante à Ceia do Senhor. Não se transforme, porém, a questão do emprego do texto paulino num tópico essencial de nossa confessionalidade ou de cumprimento do compromisso de ordenação do ministério pastoral.
(...)
Reitero a recomendação do Concílio da Igreja de 2008, no sentido de que “seja dado especial estímulo à pregação e ao ensino acerca da Ceia do Senhor nas comunidades da IECLB”. Trata-se de elemento central de nossa prática comunitária e vivência de fé. É um tesouro preciosíssimo que temos. Devemos dar-lhe toda atenção e todo cuidado. Afinal, através dela, crendo nas promessas de Deus, recebemos o próprio Cristo e, com ele, “remissão dos pecados, vida e salvação”.
Posicionamento sobre a Ceia do Senhor – 2010
texto completo da Carta