Bíblia como Sagrada Escritura

Para a igreja cristã, a Bíblia é mais do que um simples livro de história. É uma escritura a que se atribui qualidade sagrada. Por ela Deus mesmo fala. A Bíblia, pois, é palavra de Deus e, como tal, possui singular autoridade. Na cristandade exerce a função de cânon, isto é, de “regra”, de critério normativo em assuntos de fé e de conduta. Não pode haver doutrina cristã contrária aos dizeres da Bíblia. Fé cristã tem natureza bíblica, razão pela qual teologia deve necessariamente recorrer ao texto sagrado e mostrar sua conformidade com ele. A Bíblia fornece a orientação fundamental para a vida da comunidade cristã.

Já um rápido exame de textos bíblicos evidencia a diferença com relação a outros textos históricos. A Bíblia fala, sim, de fatos acontecidos e de eventos do passado, mas, no fundo, não quer informar, e sim, motivar para a fé, o amor e a esperança. Fala das grandes obras de Deus, de sua vontade, de sua promessa. Identifica o pecado na história humana e as desastrosas consequências que acarreta. Dá testemunho do amor de Deus que se compadece de sua criatura, perdoando-lhe as dívidas e curando suas enfermidades. Este Deus não é história passada, de modo algum. É o mesmo ontem, hoje e amanhã, e sua palavra permanece para sempre (Isaías 40.8).

Exatamente por isso a Bíblia não “envelhece”. Embora arcaica, escrita em línguas entrementes mortas, é um livro altamente “moderno”. Trata de assuntos sempre atuais. Em que podemos crer? Qual será nosso futuro? Esta vida terá um sentido? Por que existe tanto sofrimento no mundo? Eis apenas algumas das perguntas ventiladas na Bíblia. E ela fornece consolo, abre perspectivas, tem bem-aventuranças para os abatidos, boa-nova para os pobres. Como palavra de Deus formula exigências, mandamentos, cujo desrespeito produz a ruína humana. Simultaneamente exalta o amor de Deus, que vem para reconciliar o mundo consigo mesmo e abre futuro até para além da morte. Em termos de informação científica, a Bíblia não rende muito. Ela pouco se interessa por física, biologia ou química. Mas quem dela se aproxima aflito, perplexo, confuso, com perguntas sobre a vida e a morte, vai perceber ser ela fonte de singular ajuda.

O tema bíblico por excelência não são os direitos humanos, e, sim, os direitos de Deus. Deus tem o direito de ver cumprida sua vontade, de condenar a infração e de infligir castigo. Da mesma forma, porém, tem o direito de perdoar e acolher o perdido novamente em sua casa. E este direito, o de ser bondoso, está em primeiro lugar. A Bíblia é um livro “evangélico”, de boa notícia, de alegria para todo o povo, de libertação aos cativos. Deus quer a vida de sua criatura. Por isso mesmo, quem respeita os direitos de Deus vai respeitar também os direitos humanos. Estes estão embutidos naqueles. E o resultado será vida para todos, e vida em abundância (João 10.10).

A Bíblia é Sagrada Escritura não porque alguma instância eclesiástica assim decidiu. Ela o é por fazer valer a voz de Deus e convidar a dar-lhe crédito. Vale a pena fazer o teste, lançando-se à leitura.

Pastor Dr. Gottfried Brakemeier, em “Por que ser cristão?”, Editora Sinodal

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O ponto principal do Evangelho, o seu fundamento, é que, antes de tomares Cristo como exemplo, o acolhas e o reconheças como presente que foi dado a ti, pessoalmente, por Deus.
Martim Lutero
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