Batismo - aspectos litúrgicos

Ato litúrgico no seio da comunidade reunida.
Comunidade cristã nasce do batismo. Pessoas pertencem a uma comunidade cristã porque foram batizadas. Portanto, o batismo diz respeito à comunidade toda e precisa ser um ato coletivo dessa comunidade. Não só porque é a partir do batismo que ela nasce e cresce, mas também porque no batismo ela se compromete a conduzir as pessoas batizadas a uma vivência da sua fé batismal.

Não pode haver dúvida, então, de que o batismo só pode ser celebrado no seio da comunidade reunida, no culto regular, principal, normalmente dominical. Qualquer outra solução litúrgica só pode ser encarada como excepcional, motivada por alguma emergência.

Batismo é um rito de passagem a ser vivenciado.
Sacramento que é, o batismo manifesta a generosidade encarnacional de Deus que se digna a tornar-se acessível aos nossos sentidos. No batismo, a entrega de Deus por nós se torna perceptível, experimentável ao nosso tato. Cabe-nos a responsabilidade litúrgica de não tolher essa generosidade encarnacional de Deus, mas de fazer tudo para que ela ganhe a maior expressão possível na liturgia batismal, tanto no uso abundante da água quanto na configuração do espaço litúrgico e nos demais gestos e atos simbólicos que acionam nosso corpo e sentidos.

É preciso recuperar a inteireza do rito batismal.
Sob o postulado da inteireza do rito abrigam-se os seguintes aspectos: – todo o colorido buquê de significados do batismo, que encontramos no Novo Testamento precisa estar presente na liturgia batismal; – elementos como a renúncia ao domínio do mal e a imposição das mãos com a outorga do Espírito Santo não deveriam faltar na liturgia batismal; – também não deveria faltar a grande oração de ação de graças, chamada oração das águas, com a devida epiclese batismal; – a ceia do Senhor é parte essencial da liturgia batismal e não deveria ser excluída; – forçosamente tudo isso resulta na admissão de crianças à ceia, seja qual for sua idade ou capacidade de percepção, porque para participar da ceia do Senhor, basta que a pessoa seja batizada.

Ministrantes, ministérios integrados e equipe de apoio batismal.
O batismo é ministrado pelo pastor ou pela pastora, que podem delegá-lo também a outros obreiros e obreiras ou a uma pessoa da comunidade, devidamente incumbida.

Obviamente, o desenvolvimento de uma ação pastoral integral a partir do batismo não é tarefa para uma só pessoa. Sempre que possível, ela deveria apoiar-se numa coordenação harmoniosa dos diversos ministérios: pastoral, catequético, diaconal, missionário e também musical. Independentemente de ser possível tal conjugação dos diversos ministérios, uma ação pastoral integral a partir do batismo exige a atuação de uma equipe de apoio batismal, muito bem preparada.

O lugar litúrgico batismal
(Para uma introdução geral à questão do lugar litúrgico, recomenda-se o estudo de TEAR: liturgia em revista, São Leopoldo, n. 14/15, out. 2004) A fonte batismal (também chamada pia ou piscina batismal) é um dos três centros do lugar litúrgico do culto cristão. Os outros dois são a mesa do altar e a estante de leitura. Nenhum dos três centros é mais importante que o outro. Cada um deles deveria receber destaque igual, dentro do ambiente arquitetônico.

Se a comunidade cristã nasce do batismo, se não existe comunidade cristã sem aquela ação fundamental que acontece na fonte batismal, essa relevância essencial do batismo teria que manifestar-se também arquitetonicamente. Ela não deveria ser representada por um prato que, em dias de batismo, é colocado sobre a mesa do altar e depois é guardado num armário da sacristia. Nem por uma pia batismal móvel que, nos domingos sem batismo, é colocada num canto.

Coerente com o sentido original do batismo, a arquitetura eclesiástica recente se empenha por fontes maiores e mais profundas, em que as pessoas batizadas (sejam adultas ou crianças) possam ser efetivamente imersas ou submersas.

A recuperação do significado pleno do batismo tem a ver também com a localização adequada da fonte batismal dentro do lugar litúrgico. Para expressar que o batismo é o lugar do nascimento da Igreja, muitas comunidades preferem situar a fonte em local bem próximo à entrada, para que, a cada culto, as pessoas passem por ela, ao entrarem na igreja, e sejam lembradas do seu batismo.

O círio pascal.
As comunidades que celebram a vigília pascal contam com o círio e têm, assim, a bela oportunidade de valer-se dele, para estabelecer um vínculo entre o batismo que está realizando e a vigília pascal que é a máxima ocasião litúrgica batismal da igreja. As seguintes explicações (GEORG, Sissi. Tríduo Pascal. São Leopoldo: EST/CRL, 2001) esclarecem o significado do círio pascal: A Vigília Pascal cristã (...) reúne uma série de elementos que não se configuraram por acaso, mas têm o seu sentido. A noite mais santa do ano não poderia deixar de ser inaugurada com uma solene festa da luz. Essa tem três partes: o círio pascal, o Exsultet e o Fogo Novo. Essas três compõem o lucernário da Vigília Pascal. O uso do círio pascal é anterior ao século VI. (...) O rito de acender o círio pascal nasceu de um costume diário dos cristãos. Sem eletricidade, o ato de acender a luminária, ao cair da noite, se tornara um rito familiar, que trazia alegria e segurança. O círio pascal representa Jesus que é a luz que ilumina a noite da humanidade. O Exsultet é um canto (...) que reúne o conteúdo teológico da Vigília Pascal. (...) O Fogo Novo é o último rito a ser incorporado na liturgia da Vigília Pascal. No século VIII, era costume que a igreja permacesse no escuro depois de terminada a celebração vespertina da Quinta-Feira da Paixão até o Sábado. Não eram permitidas luzes de velas na igreja na Sexta-Feira da Paixão. Para conservar uma chama do fogo, uma lamparina permanecia guardada acesa num outro lugar que não fosse a igreja. A luz era trazida de volta para dentro da igreja no Sábado da Paixão à noite. Essa luz possibilitava a leitura dos textos bíblicos para a comunidade. Somente mais tarde se tem notícia a respeito do costume de se fazer uma fogueira no Sábado da Paixão. Do fogo da lenha, pega-se o Fogo Novo que iluminará o novo tempo, o tempo pascal. A origem do rito do Fogo Novo não é definida com certeza. Possivelmente vem dos países em que faz muito frio. Era um costume pagão que foi cristianizado. O rito já era praticado na Alemanha no século VIII. (...) O fogo é o símbolo do Espírito Santo. Ele é a força vital da Igreja. O círio reúne ainda outros ritos ao redor de si. Ele é aceso, no Fogo Novo, pelo diácono. A seguir, o diácono apresenta o círio para a comunidade, dizendo: “A luz de Cristo”. Segue uma procissão até o recinto da reunião. O círio vai na frente, levado pelo diácono, e a comunidade segue logo atrás. (...) O recinto da reunião está totalmente no escuro. Antes de entrar nele, todos acendem suas velas no círio pascal. O círio representa o Cristo ressurreto. Costuma-se fazer algumas inscrições no círio, as quais estão ilustradas na imagem. A coluna de fogo (símbolo de Cristo) significa o fogo que conduz o povo de Israel através do deserto. O círio, como um todo, representa o Cristo ressuscitado. A primeira e a última letra do alfabeto grego – alfa e ômega – significam que Deus é o princípio e o fim (Ap 21.6). Os 5 grãos de incenso cravados no círio simbolizam as chagas, cujas marcas permanecem no corpo de Jesus. Com um estilete, inscreve-se uma cruz e os algarismos do ano em curso no círio. (...) tanto inscrever as letras gregas A e Ù no círio quanto traçar nele os numerais do ano são costumes que apareceram na Espanha e dali se espalharam para a Itália e a França. Cravar cinco grãos de incenso no círio pascal é um costume da Idade Média tardia. Os cinco grãos cravados simbolizam as chagas, cujos sinais permaneceram no corpo de Jesus. Talvez tenha sido a última inovação acrescentada ao rito da Vigília. Segundo antigo costume cristão, o círio pascal permanece na igreja após a vigília até o encerramento do ciclo pascal, em Pentecostes. Depois é trazido para a igreja e colocado junto à fonte batismal em domingos especiais do ano litúrgico ou sempre que é celebrado um batismo. Na liturgia do batismo, a vela batismal é acesa no círio, antes de ser entregue às pessoas recém-batizadas.

A cor litúrgica.
Nos cultos batismais e de recordação do batismo, usa-se a cor litúrgica branca.

Branco: É a cor preferida para o culto cristão desde suas origens mais remotas (citado por Clemente e Jerônimo). Branco é a cor de destaque entre as cores litúrgicas. É a cor da veste resplandecente na transfiguração (Mt 17.2), dos anjos (At 1.10) e é a cor escatológica (Ap 7.9ss.). É a cor da inocência, da pureza, da veste nupcial da parábola de Mt 22.2-14. O branco está reservado às festas de Jesus.( GEORG, Sissi (Coord.). Lecionário Comum Revisado da IECLB. São Leopoldo: Oikos,2007)

Para cultos batismais e de recordação do batismo realizados em Pentecostes, recomenda-se manter o vermelho. No caso de uma liturgia batismal inserida em culto regular, convém utilizar a cor do respectivo tempo litúrgico.

Cultos especiais de batismo em datas escolhidas.
A comunidade cristã fará bem em realizar seus batismos em cultos especiais. Um culto especial de batismo é todo ele de cunho batismal, desde a acolhida até o envio, passando pelas liturgias de entrada, da Palavra, do batismo e da ceia. Textos, alocuções, orações, cantos, ações, todos giram em torno do batismo. Juntamente com a celebração do batismo de uma ou mais pessoas, a comunidade toda pode participar, ela mesma, com a celebração da recordação do seu próprio batismo.

Os cultos especiais de batismo deveriam realizar-se em datas escolhidas, cerca de quatro vezes por ano. As datas privilegiadas para tais cultos especiais são aquelas que têm afinidade particular com o batismo: a vigília pascal, Pentecostes, Epifania e a data de fundação da respectiva comunidade. O ideal seria se todos os batismos de uma comunidade fossem concentrados nesses cultos especiais. Só excepcionalmente seriam realizados ritos batismais dentro de cultos regulares.

Um só rito para adultos e crianças.
O batismo de crianças deriva-se do batismo de adultos. No entanto, os livros litúrgicos costumam apresentar uma liturgia batismal para crianças, como sendo a liturgia normal e típica. E, além desta, acrescentam um rito para o batismo de adultos, como algo excepcional. Tal prática é duplamente problemática: inverte o que é regra e o que é derivado, e sugere que há, pelo menos, dois batismos.

Para testemunhar que, efetivamente, há um só batismo (Ef 4.5), este livro litúrgico não oferece ritos distintos para adultos e crianças. Com um pouco de flexibilidade e providenciando alternativas para um e outro caso, cada liturgia batismal proposta pode ser utilizada para pessoas que têm condições de responder por si próprias e para pessoas que não têm condições de responder por si próprias.

O princípio de moldar liturgia.
Fazer liturgia é moldar liturgia, como é de praxe na prática litúrgica da IECLB. Entende-se que é tarefa da pessoa ou da equipe responsável pela liturgia moldá-la de tal maneira que ela possibilite o melhor encontro possível entre Deus e a comunidade. Os parâmetros para a moldagem de qualquer liturgia são: o motivo especial da celebração; o lugar onde ela se realizará; o tempo que se tem à disposição e as características da comunidade que participará.

Dois requisitos são necessários para se moldar uma liturgia: a) conhecer os elementos imprescindíveis e os elementos úteis que a compõem; b) conhecer as regras de combinação desses elementos. Podem ser encarados como elementos imprescindíveis da liturgia de batismo: a apresentação das pessoas a serem batizadas, o compromisso de pais, padrinhos e comunidade, a oração das águas, a renúncia e adesão, a profissão de fé, o ato batismal, a imposição das mãos e o ato de selar, a recepção pela comunidade. Cada uma dessas partes pode ser realizada de modo mais longo e elaborado ou mais breve. As regras de combinação desses elementos evidenciam-se a partir do significado de cada parte, o que deve ter sido trabalhado na formação litúrgica das equipes de liturgia ou de quem preside uma liturgia batismal.

Fonte: Livro de Batismo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
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O amor só é verdadeiro quando também a fé é verdadeira. É o amor que não busca o seu bem, mas o bem do próximo.
Martim Lutero
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