Ambiente celebrativo - Igreja da Ressurreição

A Igreja da Ressurreição teve a pedra fundamental colocada no dia 27 de outubro de 1968 - data de fundação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB, decidida no Concílio Extraordinário realizado em Santo Amaro.

A inauguração da igreja, do centro diaconal e das demais instalações foi no dia 10 de julho de 1970.

Abaixo, aspectos da beleza plástica e da riqueza de significados que alguns detalhes da igreja têm e que nem todas pessoas percebem. O texto foi elaborado em alemão pelo pastor Ulrich Fischer e complementado pelo pastor Guido Tornquist.

1. Conceitos fundamentais

  • Igreja na cidade grande tem que abrigar pessoas sem raizes;
  • Igreja na desalmada selva de concreto tem que oferecer comunhão;
  • Igreja numa ruidosa região industrial tem que transmitir silêncio e meditação;
  • Igreja na metrópole urbana tem que ser fonte de alimento para a vida diária;
  • Igreja como construção sacra na grande cidade apenas tem razão de existir se for um centro de acolhida e de envio; tanto do mundo quanto ao mundo;

A partir dessas condições ousou-se a construção da Igreja da Ressurreição em Santo André e rejeitou-se a idéia de uma sala polivalente. Ao mesmo tempo valeu o que a igreja deve ser arquitetonicamente tão bem concebida que venha a tornar-se modelo para a construção de igrejas em toda a IECLB.

Para isso, as seguintes condições tiveram que ser levadas em consideração:

  1. A igreja deve abrigar no máximo 250 a 300 pessoas;
  2. Deve ser moderna e contemporânea, mas não descartável.
  3. Como materiais de construção somente entram em cogitação elementos modernos da tecnologia, como concreto armado e vidro. No entanto, não deve transmitir a impressão de frieza técnica nem deve parecer um pavilhão industrial.
  4. O interior da igreja deve ser construído somente com materiais naturais e originários do Brasil.
  5. Acima de tudo, os custos de construção devem vislumbrar os limites de uma pequena Comunidade luterana no contexto de pequena minoria urbana.

2. A entrada

O acesso á igreja, visto do nível da rua, deve ser percebido como uma subida ao altar. Isto traz em si uma diversidade de signficados (por exemplo, a subida dos romeiros ao templo de Jerusalém).

Com 6 metros de largura, a porta de entrada em vidro escuro e opaco à primeira vista parece rejeitar. No entanto, ao mesmo tempo torna-se atraente, pois leva a pessoa a querer descobrir qual o segredo que está escondido atrás dela.

Quando a porta se fecha silenciosamente, então ela protege a pessoa e a torna imune às agressões do mundo que deixou para trás.

De dentro para fora a porta é transparente.

Olhando dos bancos, do altar ou do púlpito a porta de vidro conduz para a cidade, com seu sempre crescente número de casas e para suas ruas sempre movimentadas. Assim, a pessoa que procura abrigo e refúgio no Senhor é enviada de volta ao mundo, para nele dar seu testemunho de libertação e de salvação.

3. O piso

As pedras de arenito da Bahia não são lisas, mas ásperas, como a vida das pessoas que caminham sobre elas ao dirigirem-se aos bancos colocados em semi-círculo da igreja em seu formato pentagonal.

4. O altar

O olhar de quem entra na igreja recai no altar esquinado situado à frente. De forma sóbria ele se apresenta como simples refeitório, com uma pesada prancha de jacarandá sobre duas colunas quadradas igualmente maciças.

Foi uma única árvore nativa que cedeu sua madeira perfeita e quase que indestrutível para o altar.

A Bíblia aberta em frente ao crucifíxo mostra que não vivemos só de pão, mas da Palavra de Deus.

A mesa do altar está solta no espaço, de modo que o pastor possa colocar-se atrás dela e dirigir-se de lá para a Comunidade, como era na Igreja primitiva.

Em baixo do altar está a pedra fundamental (pedra angular) da igreja, com os documentos dentro de um tubo de cobre lacrado.

No altar prevalecem a simplicidade e a humildade evangélica: uma toalha de linho branco caindo em ambos os lados, dois pratos simples de cerâmica marrom para pequenos arranjos de flores, dois castiçais de bronze para velas amarelas baixas e um crucifixo de bronze sem o corpo de Cristo.

(O pé de jacarandá bem como a execução do altar e da balustrada do mesanino foram doados pelo arquiteto da igreja e do Centro Social, sr. Rolf Täubert. - Os modelos para os castiçais e a cruz foram manufaturados por um membro da Comunidade - sr. Erich Max Fickert. Outro membro - sr. H. Lehmann, assumiu a fundição do bronze em sua empresa).

5. O púlpito

A partir do altar se alcança o púlpito, feito do mesmo pé de jacarandá. Ele coloca o pregador num patamar bem pouco elevado, pois na Igreja protestante o pregador deve ficar próximo da Comunidade. Nada pior do que a distância que isola o pregador. A Palavra anunciada quer ter um encontro direto com a Comunidade e possibilitar o diálogo.

Assim, o púlpito também é giratório, para que quando queira, o pregador possa dirigir-se para o lado onde o povo está concentrado e se dispõe a ouvir a Palavra com os ouvidos e com o coração.

6. A pia batismal

Palavra e Sacramento são inseparáveis na Igreja de Jesus Cristo. Em ambos ele vem ao nosso encontro e nos torna seus filhos/as.

Na verdade, não se trata de uma „pia batismal“ convencional. Assim como o Batismo acontece na nossa vida de forma bem real, assim também as crianças são batizadas na „realidade brasileira“ que tem seu significado simbólico expressado de forma marcante no velho e original „pilão“, cujas marcas mostram que ele garantiu e preservou diariamente a vida física de muitas pessoas.

Dentro dele está colocado um velho tacho de cobre do século XIX, doado pela família Stützner. Sobre o fogão, ele diariamente proporcionou vida, assim como no Batismo se é convidado para a comunhão daquelas pessoas chamadas com a oferta da vida eterna.

O bloco que serve de base para o conjunto tem a forma de uma grande Bíblia: sobre a Sua Palavra de vida se funda nossa vida na comunhão eterna das pessoas batizadas – tanto com Deus como com nosso próximo.

7. A gravura

Se ficarmos de frente para o púlpito, à esquerda está fixada uma gravura original de Hans Suliman Grudzinski, o qual veio da Rússia para Mauá.

Esta obra de arte original confeccionada em diversos processos de impressão, foi um presente do artista para a sua Igreja.

Ela lembra o segundo Sacramento da nossa Igreja: a Santa Ceia. Ele deu-se por nós para perdoar nossos pecados e experimentarmos renovadamente Sua presença salvífica em cada Santa Ceia celebrada nesta igreja.

8. O painel esculpido

O olhar da pessoa que está sentada na igreja é irresistivelmente dirigido para o painel em relevo na parede angular ligada ao poço de luz.

O painel de madeira é uma prédica matreializada sobre o centro da nossa fé. Proclama a ressurreição de nosso Senhor, porque sem a ressurreição de Jesus nossa fé seria vazia, diz o apóstolo Paulo (I Coríntios 15).

Desta forma, o painel em relevo é o centro que dá significado à igreja da ressurreição. Ao mesmo tempo, o painel em seu módulo central aponta para o envio dos discípulos de Jesus, que levam a Palavra libertadora ao mundo. Palavra que conquista pessoas que a transmitem até os dias de hoje. Pelo Batismo ela agrega sempre mais seguidores de forma que a Comunidade – a Igreja – tem crescido mesmo entre os arranha-céus.

Tudo isso mostra o painel em relevo que foi extraído de uma única cerejeira. Por acaso o então pastor Fischer descobriu Agenor, o artista que tornou plástica sua concepção da ressurreição e do envio missionário da comunidade de Jesus Cristo. Um baiano marrom-café que nunca frequentou uma Escola, mas que expressou na madeira a sua vida e a sua piedade.

9. A parede de madeira

A Comunidade de ouvintes que buscam comunhão e abrigo nesta igreja é abraçada e acolhida pelo piso de pedras vivas e pela aconchegante parede de madeira nobre do Brasil.

Quase oposta ao púlpito, a parede de madeira em jacarandá flui em tod altura da igreja, do teto até o chão, em degraus e múltiplas pregas de diversos tamanhos.

Esta parede não só serve para definir a acústica e para a acolhida calorosa, mas também é símbolo da água viva que vem do alto.

10. As janelas laterais

A luz penetra na nave da igreja por três janelas estreitas na lateral direita. Elas abrandam a luz ofuscante do dia. As duas janelas de tom azul foram colocadas no fundo do nicho para que só possam ser vistas de frente ou de lado, ao passo que a primeir janela, junto ao altar, foi colocada na frente para oferecer suas cores brilhantes a todos.

É a janela do Batismo no simbolismo do fogo do Espírito Santo, o qual vindo do alto se liga às pessoas agregadas pelo Batismo através do azul escuro da água.

A janela batismal recebe o seu signficado mais profundo se, desde a entrada o olhar atravessar um vazio. O ser humano, vindo de sua escuridão deve ser lembrado do novo ser em que foi transformado pelo seu batismo. Se, então, dirigir sua visão para o lado, olha para a quietude do mundo divino. (A janela batismal foi doada pelo sr. P. Fabian).

11. O mosaico do mesanino

Além das janelas laterais e da porta, outra janela drena luz para o espaço: o mosaico em grade de madeira formado por pedaços de vidro em diferentes tons amarelos, permeados por pedaços verdes que transmitem a esperança.

(Todos os vidros, também os das janelas laterais são peças artesanais originais, fabricadas e instaladas pela firma Artesul. O mosaico do mesanino e as duas janelas laterais em tons de azul foram doados pela família Weissflog).

„Ó SENHOR DEUS, EU AMO A CASA ONDE VIVES, O LUGAR ONDE ESTÁ PRESENTE A TUA GLÓRIA“ (Salmo 26, 8).

(Até aqui as anotações que foram escritas pelo pastor Ulrich Fischer em 11 de junho de 1982. As anotações a seguir foram redigidas pelo pastor G. Tornquist):

12. O sino da Ressurreição

(Inaugurado em 13 de julho de 1980). Com frequência os membros da Comunidade expressavam a convicção de que a igreja deve ter um sino. O seu badalar deve chamar as pessoas para o encontro na casa de Deus.

Em especial aquelas pessoas que perderam as suas raízes no deserto da grande e barulhenta cidade. Por isso, a pequena Paróquia do ABCD presenteou-se com o SINO DA RESSURREIÇÃO ao festejar os 10 anos de inauguração da igreja da Ressurreição.

Ele pesa 43 quilos e foi fundido em bronze pela Fundição Artística de Sinos Crespi. Responsável pela fundição foi o sr. Giacomo Crespi, de 85 anos. Aliás, esta foi uma de suas últimas obras, pois logo depois ele faleceu. A Fundição Crespi surgiu em 1948 em Crema, na Itália, vindo para São Paulo em 1960.

O sino está colocado na marquise da entrada para a sacristia, no pátio interno das instalações. Em sua superfície está fundido o monograma de Cristo já utilizado pela cristandade nos primeiros séculos: XP.

Também consta a seguinte inscrição: „RESSURREIÇÃO – 12.07.1970“ e „EU VIVO E VÓS TAMBÉM VIVEREIS“ (João 14, 19). 13.07.1980

13. Círio pascal

(Introduzido no domingo da Páscoa, 22 de abril de 1984). A Páscoa é o centro de todas as festas cristãs e o centro da mensagem cristã. No início do cristianismo o domingo de Páscoa era o dia principal para os Batismos.

O círio pascal quer lembrar a ressurreição. Nas Igrejas católica romana e ortodoxa seu uso remete ao início da Idade Média ou ainda mais cedo. Também em igrejas de confissão luterana pode-se encontrar essa prática.

No domingo de Páscoa, 22 de abril de 1984, o círio pascal foi introduzido na Igreja da Ressurreição de Santo André, SP. Foi colocado ao lado da pia batismal sobre um pilar quadrado de belíssimo ipê. Tem a forma simples, mas expressiva da mesa do altar e do púlpito.

Na manhã daquele domingo a Comunidade celebrou o culto festivo com a Santa Ceia. O círio pascal aceso foi conduzido para dentro da igreja escura pelos jovens que fizeram sua Confirmação no domingo anterior, acompanhado de cânticos e antífonas. Então, as velas do altar foram acesas no círio.

Sob o repicar do sino da Ressurreição, a Comunidade em pé cantou o hino de Páscoa. Só então as luzes do interior da igreja foram acesas. As leituras bíblicas lembraram a comunidade sobre o Batismo, pois Páscoa chama a todos que foram batizados em Cristo a viverem a misericórdia de Deus.

Desde então o círio pascal é aceso em todos os cultos entre Páscoa e Pentecostes. É o tempo da alegria pascal na liturgia da Igreja de Cristo. Nos demais domingos do ano, o círio fica aceso do início ao fim do culto sempre que o sacramento do Batismo é oficiado.

Ao final do rito de Batismo, o batizando ganha sua vela batismal. Os pais e padrinhos recebem em lugar da criança a vela acesa no círio pascal.

Nos anos seguintes a vela batismal deve ser acesa neste dia em casa novamente, lembrando do amor de Deus que nos foi conferido pelo ressurreto Senhor Jesus Cristo. É desejo da Comunidade que o batizando siga a luz de Cristo enquanto viver.

A „Rosa de Luther“ na vela recorda o reformador Martin Luther que nunca deixou de alegrar-se por seu Batismo. Certa vez ele afirmou: „Não falta tesouro, mas falta que se o agarre e se o retenha firme. Cada cristão tem muito para aprender e para praticar no Batismo. Deus me deu aí um marco para que eu esteja consciente de que ele tem misericórdia de mim, que quer santificar-me e que me deu de presente em Seu Filho tudo que possui.

 

Quando Deus não está no barco, não se navega bem.
Martim Lutero
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