P. Alfredo Jorge Hagsma, formado em Teologia pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, exerceu o Ministério Pastoral na Paróquia em Estância Velha/RS e é co-autor de ‘Celebrar Natal em Família e Comunidade’, ‘Celebrar Páscoa em Família e Comunidade’, ‘Pequenas Histórias: sábias lições’. Atua na Paróquia Cristo Salvador, em Curitiba/PR
A cruz no meu cotidiano
Em uma Igreja, algumas lideranças implicaram com o crucifixo que ficava na parede atrás da mesa do altar. Com o argumento de que o significado teológico estava na cruz vazia (lembrava do Cristo ressuscitado), a imagem do crucifi cado foi retirada. O crucifi xo apontava para o Cristo morto e não era nada agradável ver aquele semblante de dor e sofrimento a cada culto. Por algum tempo, o crucifixo não fez parte daquela Igreja como símbolo sagrado e litúrgico. Com o passar do tempo, o impasse teológico foi esquecido e o crucifi xo foi recolocado no seu lugar de origem, ao lado da cruz vazia.
De fato, em poucas das nossas Igrejas ainda encontramos o crucifixo. Os argumentos para isto são diversos. É interessante observar a nossa dificuldade com o Cristo crucificado. Rapidamente apontamos para o Cristo ressuscitado, fundamento da nossa fé, e temos razão em fazer isto! No entanto, o Cristo vivo não quer que nos esqueçamos do crucificado de forma tão automática. Tanto é verdade que, após a ressurreição, ele continua mostrando as marcas dos cravos nas mãos. Não existe ressurreição sem morte. Não existe Páscoa sem a passagem pela sexta-feira da Paixão, sem a crucifi cação. Cruz vazia qualquer pessoa carrega, alguns como amuleto, já o crucifixo... Paulo disse que a mensagem da morte de Cristo na cruz é loucura... é o poder de Deus (1Co 1.18). Em Fp 3.18, Paulo alerta para o perigo de se tornar inimigo da morte de Cristo na cruz, ou seja, não compreendê-la em toda a sua dimensão.
Cada pessoa tem a sua cruz! Quantas vezes já ouvimos esta frase ou talvez já a utilizamos? Em Lc 9.23, Jesus dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Falamos na nossa cruz e não da cruz de Cristo. Esta frase de Jesus muitas vezes tem sido interpretada no sentido de que ‘o meu sofrimento, a minha carga é a minha cruz e já é demais!’. No entanto, a cruz de Cristo aponta não apenas para o meu sofrimento, mas para o sofrimento de toda a humanidade, para o sofrimento de toda a Criação.
O Crucificado continua mostrando o seu rosto no dia a dia em milhões de pessoas que sofrem as mazelas da nossa sociedade (Mt 25.42-43). A expressão de dor, de sofrimento do crucifi cado (Cristo fixo) é a expressão do pecado humano, que faz toda a Criação gemer. É ali que a cruz de Cristo se manifesta, mostrando toda a sua crueldade. Neste sentido, falar na ressurreição sem apontar para o Crucifi cado ameaça diminuir a obra de Cristo, dá margem para uma Teologia da glória que foge da cruz. É celebrar festivamente em plena Sexta-feira da Paixão.
Só experimenta e compreende a ressurreição aquela pessoa que não foge da cruz, não da sua, mas da cruz de Jesus Cristo. Enquanto aguardamos a plenitude do Reino, o crucifixo e a cruz vazia estarão lado a lado. Que o Espírito Santo de Deus nos ajude a perceber as cruzes no cotidiano e, a partir da cruz de Cristo, proclamar a vitória da vida.
Para refletir, leia Mateus 25.42-43
P. Yedo Brandenburg, graduado em Teologia pela Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, com pós-graduação (Lato Sensu) em Aconselhamento e Psicologia, exerceu o Ministério Pastoral em Tenente Portela/RS, Campo Bom/RS, Teutônia/RS e Novo Hamburgo/RS.
Atualmente, é Editor da Comissão Interluterana de Literatura (CIL), em São Leopoldo
A ressurreição no meu cotidiano
Quem ri por último, ri melhor! Esse provérbio caracteriza a ressurreição de Cristo. Na Sexta-feira da Paixão, pessoas riram de Jesus. Com a sua morte na cruz, pensavam: ‘É o fi m!’. A morte parecia rir por último, mas, com a ressurreição de Cristo, tudo mudou. Deus ri por último e não a morte. A ressurreição é a mensagem central da fé cristã. É notícia fantástica: traz esperança e anima a colocar sinais de vida neste mundo, em que a morte está tão presente.
Quando jovem Pastor, fui confrontado com a morte repentina do meu pai, aos 54 anos de idade. Foi um choque! Quantas vezes eu levara o consolo da Palavra de Deus em situações de perda de pessoas significativas! Naquele momento, porém, eu estava fragilizado e necessitando de apoio. Foi marcante a presença de familiares, de pessoas amigas e da Comunidade no ofício litúrgico da despedida e do sepultamento do meu pai. Ser carregado por pessoas, pela Comunidade de fé e pela Palavra de Deus foi um sinal da ressurreição já aqui e agora e trouxe luz para dentro da fase de luto.
A última palavra sobre nós pertence a Deus. O Reformador Martim Lutero disse: ‘Cristo Jesus, Filho de Deus, do céu foi enviado; venceu a morte e os males seus, venceu todo o pecado. Perdeu a morte o seu poder, Jesus a conseguiu vencer; seu aguilhão tirou-lhe. Aleluia’ (Hinos do Povo de Deus 57.3).
A morte, contudo, é como um polvo que lança os seus tentáculos para dentro da própria vida. A morte marca presença quando nos afastamos de Deus, somos egoístas e nos assemelhamos a um lobo voraz. Então, esfriam o amor e a solidariedade.
Lutero afirmou, a partir do Batismo, que toda a nossa vida é um processo constante de morte e ressurreição. A ‘velha pessoa’ em nós deve morrer diariamente para ressurgir, em Cristo, a ‘nova pessoa’, que ama a Deus e ao próximo, zela pela integridade da Criação e alegra-se com o milagre da vida.
Por um lado, a ressurreição de Cristo revela a paixão de Deus pela vida e é o seu protesto contra os sinais de morte que invadem o nosso cotidiano, prejudicando a nossa boa convivência. Então, caminhemos unidos visando à integridade de toda a Criação. Amemos pessoas e nos utilizemos de coisas. Respondamos ao mal com o bem. Deixemos de lado o amor ao poder e mostremos o poder do amor que emana da fé em Cristo.
Por outro lado, a ressurreição de Cristo nos fortalece para entregar a Deus o que não nos pertence: a vida dos nossos familiares e a própria vida. Quandochegar a hora, entreguemo-la em confi ança ao Deus que ri por último.
As frágeis experiências de ressurreição aqui e agora são um aperitivo do que Deus tem reservado para nós no fi nal dos tempos por meio do presente da fé naquele que disse: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, vi- verá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá (João 11.25-26).
Para refletir, leia Romanos 6.1-11