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Carta de Contagem

23/11/2016

Carta de Contagem

Nós, juventudes ecumênicas reunidas no Encontro Nacional “Desafios e possibilidades no cuidado da casa comum” realizado pela Rede Ecumênica da Juventude/REJU e pela Pastoral Popular Luterana/PPL vinculada a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil/IECLB, entre os dias 12 a 16 de novembro de 2016, em Contagem/MG, acreditamos que a oikumene deve expressar os encontros e a convivência entre as diferenças sociais, culturais e religiosas a fim de superar todas as formas de intolerância. Partilhamos, assim, nosso desejo e nossa luta por justiça, igualdade e dignidade a todas as pessoas que habitam essa casa comum tendo em vista a atual conjuntura em nosso país marcada pelo recrudescimento das violações aos mais diversos direitos. Por conta disso, denunciamos:

• Os casos de desrespeito às pessoas pertencentes às diversas manifestações religiosas e ataques aos seus lugares de culto que acometem principalmente as religiões de matrizes africanas e indígenas;

• Grupos e setores cristãos que utilizam, de forma descontextualizada e sem diálogo com as diversidades humanas, valores religiosos e narrativas bíblicas para promover um fundamentalismo de cunho político que os permitem disputar e garantir seus lugares em espaços de poder em suas igrejas, na sociedade e nos legislativos e executivos;

• Às violências contra a pluralidade de identidades de gêneros e sexuais validadas por uma sociedade patriarcal, machista e misógina;

• O golpe jurídico-parlamentar cujas decorrentes propostas visam à implementação de politicas motivadas pela sobreposição do interesse na expansão do lucro sobre a dignidade humana e que ameaçam os direitos sociais, humanos, trabalhistas, previdenciários conquistados pela população brasileira com a Constituição de 1988;

• Às violações do direito à terra e ao território e à soberania alimentar e o genocídio dos povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, campesinos e povos das águas, dos campos e das florestas agenciadas pelos setores do agronegócio, grandes latifundiários e pelos grandes empreendimentos;

• À PEC 55/2016 que propõe o congelamento por 20 anos nos investimentos do governo federal em diversas áreas e políticas sociais – educação, saúde, benefícios sociais, congelamento do salário mínimo – que atingem diretamente as camadas mais pobres da população brasileira;

• À proposta de Reforma do Ensino Médio conduzida de forma verticalizada e não dialogada com os setores sociais interessados;

• O Projeto de Lei denominado Escola sem Partido que tramita no legislativo e propõe que as educações básicas e universitárias deixem de ser pautadas pelo contraditório, pelas divergências de ideias, pela pluralidade e diversidade cultural e, o mais grave, pela laicidade do Estado;

• A criminalização jurídica, política e midiática dos movimentos sociais e das ocupações nas escolas e nas universidades públicas que protestam de forma legítima e democrática contra as medidas propostas pelo governo Temer como a PEC 55/2016;

• A impunidade do Grupo Samarco (Vale/BHP), do Governo do Estado de Minas Geral e do Governo Federal responsáveis pelo crime ambiental que matou pessoas e destruiu ecossistemas por completo na região do Vale do Rio Doce, evento que completa um ano;

• O ataque sofrido pela Pastoral da Juventude da Diocese de Itabira/Coronel Fabriciano por grupos católicos que se opõem a perspectiva do diálogo inter-religioso, na ocasião do Dia Nacional da Juventude/DNJ, ocorrido na cidade de Timóteo/MG;

• Os diversos casos de abuso sexual e de estupro de jovens, crianças e mulheres que atestam a validade da cultura do estupro em nossa sociedade;

• A retomada de estereótipos sobre as mulheres e seus corpos para deslegitimar sua participação na política confinando-as novamente ao imaginário de belas, recatadas e do lar validando, assim, diversas formas de violência àquelas que ocupam espaços de decisão e de poder na sociedade;

Diante do nosso testemunho público e nossa prática ecumênica contra essas e tantas outras violências que comprometem uma casa comum de vida plena a todas as pessoas, estabelecemos para nossa agenda nacional no biênio 2017/2018 o “Estado laico e superação das intolerâncias” como questão articuladora dos eixos temáticos que pautarão nossas incidências políticas, a saber: Juventudes, Desenvolvimento e Justiça socioambiental; Juventudes, Sexualidades e Lutas feministas; Juventudes e Democratização da educação e Enfrentamento ao Racismo.

Assumimos assim, um lugar de resistência constante diante de formas homogêneas e fundamentalistas de entender e viver a espiritualidade no contexto atual. Esse lugar implica em disputas de sentidos e de práticas no campo político cotidiano. Também significa vivermos maneiras que evidenciem o amor e a justiça que são os imperativos que movem nossa fé plural e diversa e que alimentam nossa caminhada de luta. Nessa caminhada conjunta nos reencantamos com novas utopias acreditando que as nossas espiritualidades dançantes transcendem os muros institucionais.

Contagem/MG, 23 de Novembro de 2016.

Rede Ecumênica da Juventude – REJU
Pastoral Popular Luterana –PPL

Apoio:
Fundo Ecumênico de Solidariedade, Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), Fundação Luterana de Diaconia (FLD), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, Minas Gerais, SOS Corpo.

 

Um pregador deve fazer três coisas: ler a Bíblia com afinco, orar de coração e permanecer um discípulo e aluno.
Martim Lutero
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