“Somente por graça – Deus nos renova e chama para o Reino”:
Hoje é o dia da Reforma. Há 503 anos, foram publicadas as 95 teses de Martim Lutero contra as indulgências. Além de criticar o que via como uma prática errada e enganosa na igreja da época, Lutero voltou seu olhar para a fonte da fé, o Evangelho, que é tudo o que promove o Cristo no testemunho da Escritura. Sem ter essa intenção, acabou criando não apenas uma Reforma, mas uma revolução: a Bíblia foi traduzida dos originais hebraico e grego para o alemão, revolucionando inclusive a língua alemã, pois Lutero prezava não apenas para a proximidade aos originais, mas pela compreensão do texto na língua da “boca do povo”. Para poderem ler, tinha que ter instrução: Lutero defendeu a educação universal, paga pelo poder público, para meninos e meninas.
Democratizou a leitura da Bíblia, tirando-a do monopólio da poderosa elite eclesiástica entregando-a ao povo, não para uma leitura aleatória e individualizada, mas para assimilarem cada uma e cada um a Boa Nova da salvação em Cristo. Em vez de medo da morte do pós-morte, querendo diminuir o período no purgatório – pelo que se vendeu “descontos” sob forma de cartas de indulgência, usando o lucro para construir a Basílica de São Pedro in Vaticano – semeou-se confiança: “somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo, e não por nosso mérito, Deus nos renova e chama para o Reino”.
Assim o formula a música que estreia hoje à noite no Culto da Reforma, composta pelo musicista católico e mestre em Teologia pelo PUCPR, José Luis Manrique, e pela musicista luterana Lislie Moraes de Carvalho. Com isto, lembra-se não apenas a Reforma Protestante, mas os 21 anos da assinatura da Declaração Conjunta Luterana-Católica. Em 31 de outubro de 1999, o então presidente da Federação Luterana Mundial, o bispo luterano alemão Christian Krause, e o cardeal católico Edward Idris Cassidy, então prefeito do Pontifício Conselho pela Promoção da Unidade dos Cristãos, assinaram este importante documento.
Após séculos de separação, superou-se o entrave teológico neste quesito tão central, estabelecendo um consenso nas questões fundamentais. Para a salvação, dependemos tão somente da vida, da cruz e da ressurreição de Deus em Jesus Cristo. A Graça é uma dádiva que recebemos por meio da fé. Este presente se mostra visivelmente no ato do Batismo, quando um bebê ou um adulto recebem para o qual nada contribuíram. E com esta dádiva o chamamento para viver o Batismo a cada dia. Como canta a música: “A graça frutifica nas boas obras. No amor aos irmãos e irmãs que é o amor que recebo de Cristo.”
Uma orquestra e um coral ecumênicos contribuíram para colocar em som esta linda e significativa composição, que contou com assessorias teológicas católicas e luteranas no processo de sua confecção. Um presente neste dia que celebramos, mais do que uma pessoa, Lutero, e mais do que um movimento, a Reforma, a dádiva da fé que nos permite uma vida em gratidão e em liberdade.
P. Dr. Rudolf von Sinner