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São Luís (MA) recebe Jornada Nem Tão Doce Lar - pela superação da violência doméstica e familiar

09/05/2022



Entre os dias 26 de abril e 1° de maio, a Jornada Nem Tão Doce Lar movimentou a cidade de São Luís (MA). A programação envolveu atividades, realizadas pela Fundação Luterana de Diaconia (FLD), visando sensibilizar a sociedade para o tema da superação da violência doméstica e familiar. Por meio de formações, exposições e rodas de diálogo, a iniciativa propõe métodos preventivos, incentiva denúncias, propaga serviços de acompanhamento e de proteção e busca fortalecer articulações entre organizações que integram as redes locais de apoio.

A oficina de acolhedoras e acolhedores, que aconteceu nos dias 26 e 27, contou com a participação de mais de 70 representantes de organizações das redes de São Luís e dos municípios vizinhos. Os encontros foram realizados na Casa da Mulher Brasileira, organização vinculada à Secretaria de Estado da Mulher e que atua na defesa e no acompanhamento às mulheres em situação de violência.

Turmas do ensino fundamental e do ensino médio de escolas públicas da região foram recebidas, entre os dias 28 e 29, na exposição itinerante e interativa da Nem Tão Doce Lar. O espaço, que traz a réplica de uma casa com evidências de violência, esteve aberto ao público no Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis, no Centro Histórico. Visitante e estudantes puderam circular pelos cômodos, identificar pistas deixadas nos cenários e expor as impressões em uma roda de conversa conduzida pelas acolhedoras e acolhedores que participaram da formação.

Maria Ieda, membra da Comunidade de São Luís, atuou nesses momentos como acolhedora junto a demais membros da igreja. Ela diz que se sente capacitada para ajudar e afirma que o protagonismo e o compromisso da igreja contra a violência doméstica e familiar é de suma importância. “Muitas questões que foram discutidas me fizeram refletir o que pode ser enquadrado como violência. Algumas coisas são sutis. Nos dias que passei sendo acolhedora, recebi relatos e pude perceber o quanto essas situações são comuns”, afirmou.

No sábado, dia 30, aconteceu a roda de diálogo Masculinidades e Diversidades – impactos do machismo estrutural na comunidade LGBTQIA+, na sede do Reocupa. O encontro contou com apoio do Observatório de Políticas Públicas LGBTI do Maranhão. Ricardo Lima, psicólogo e coordenador do observatório, evidenciou a importância de ampliar as abordagens e os públicos ao falar sobre violência doméstica e familiar.

“Fiquei feliz em ver que a população LGBTQIAP+ também foi contemplada na programação. Precisamos de muito apoio para sensibilizar outras pessoas de que nossa luta é coletiva.” Para ele, o preconceito, gerador de violência, é estrutural e impede a vivência de uma masculinidade saudável. “Temos uma formação social patriarcal, machista e misógina, que constrói homens e mulheres aprisionadas a um ideal de sociedade que exclui outras expressões. A população LGBT vivencia todos os dias, e de diversas formas, o preconceito estrutural nas famílias, nas organizações religiosas, nas instituições públicas e privadas, nas escolas e nas ruas”, explicou.

A assistente social Nair Barbosa conta que a Jornada lhe trouxe aprendizados de acolhimento, de partilha e de vivências. “Foi um espaço de esperançar. Foi possível perceber essa conexão, esse compromisso com a eliminação de todas as formas de violência e mais: lutar para que viver sem violência seja um direito de todes! Senti isso, particularmente, nas oficinas para a Rede de Enfrentamento à Violência e durante a roda de conversa Masculinidades e Diversidades”, realçou.

O domingo, dia 1° de maio, data que se celebra o dia das trabalhadoras e dos trabalhadores, foi marcado pelo ato Pela Vida das Mulheres. A ação teve um caráter informativo e de incidência. Neste dia, foram distribuídos panfletos sobre as diferentes formas de violência sofridas pelas mulheres no lar, nos espaços de trabalho e no transporte público. Assédio moral e sexual também são violência e estão entre as cinco tipificações previstas na Lei 11.340/2006 (Maria da Penha) e na Lei 10.224/2001 (Lei do assédio).

O protagonismo das ações de articulação e mobilização de parcerias foram fruto de esforços da Comunidade Luterana de São Luís da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil – Sínodo Espirito Santo à Belém (SESB/IECLB), que firmou parcerias com o Núcleo de Defesa da Mulher e da População LGBT da Defensoria Pública do Maranhão; Casa da Mulher Brasileira; Núcleo de Pesquisa de Gênero e Sexualidade da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Observatório de Políticas Públicas LGBTI do Maranhão; Reocupa – Resistência Cultural; Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis; e contou com apoio da Agência Tambor; da Comissão da Mulher e da Advogada da Ordem dos Advogados Seccional Maranhão; e de movimentos sociais.

Para a ministra da Comunidade, pastora Francielle Sander, a expectativa de receber a exposição vinha de mais tempo, sendo um projeto adiado devido à pandemia. “Com a retomada das ações presenciais, constituímos um grupo de trabalho para as definições e encaminhamentos. Então, definimos, de forma coletiva, as parcerias e os apoios. Em uma reunião inicial, apresentamos o projeto, que foi acolhido pela Defensoria Pública e pela Casa da Mulher Brasileira. A partir da reunião, definiram-se os locais nos quais as ações aconteceriam e, como consequência, as demais parcerias”, explicou.

Ingrid Costa, presidenta da Comunidade, ressaltou a relevância do protagonismo e do compromisso da igreja contra a violência doméstica e familiar. “Acolhermos a Nem Tão Doce Lar foi uma experiência com muitos ensinamentos, como nos colocarmos como igreja de Cristo, agentes contra qualquer tipo de violência. Além disso, foi uma oportunidade para nossos membros serem ativos e aprenderem sobre as mais diversas temáticas relacionadas à violência e, assim, termos a oportunidade de acolher mulheres, crianças e idosos nessa situação”, comentou.

Para a defensora pública Lindevania Martins, a parceria entre a comunidade, as organizações governamentais e as organizações da sociedade civil fortalece as redes de apoio e a aplicabilidade das políticas públicas de defesa. “Quando as representantes da Comunidade Luterana nos procuraram para firmar a parceria para a Jornada Nem Tão Doce Lar, ficamos muito felizes, porque nos foi apresentado um projeto inovador. A metodologia é muito bem construída, tem um olhar plural sobre a violência que atinge grupos vulneráveis e apresenta formas de combatê-la. Logo identificamos sua grande capacidade para produzir mudanças sociais concretas, que é exatamente o que a sociedade precisa.”

As atividades da Nem Tão Doce Lar previstas para esse ano contam com o apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana (IECLB) através do Fundo de trabalho com vítimas de violência doméstica, constituído a partir do plano de ofertas nacional. A programação integra as ações previstas no calendário da exposição entre os meses de março e novembro de 2022.

Ninguém deve fazer tudo o que tem direito a fazer. Cada qual deve olhar para o que é útil e o que é benéfico para o seu irmão, para a sua irmã.
Martim Lutero
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