A Diaconia das Américas e o Caribe (Dotac), um grupo internacional e ecumênico de diáconas, diáconos e diaconisas, reuniu-se de 14 a 20 de agosto na University of British Columbia, em Vancouver, Canadá, para trabalhar o tema Respeito à aliança – arriscando a Jornada para a Reconciliação. O ato de reconciliação e o pedido de perdão referem-se ao genocídio cultural imposto pelos governos canadenses às populações originárias do país, as Primeiras Nações, por meio das “Escolas Residenciais”.
O formato perverso de “internato”, criado no século XIX, sequestrou mais de 150 mil crianças, separando-as de suas famílias e colocando-as em escolas pagas pelo Estado e mantidas pelas igrejas Anglicana, Católica, Presbiteriana e Metodista. Ali não era permitido falar o idioma indígena e todos os costumes autóctones eram negados.
O objetivo era formar “europeus de pele escura”, eliminando o contato com suas comunidades e com seu passado cultural. Muitas crianças foram submetidas a violências de toda a ordem, inclusive sexuais. A Comissão da Reconciliação e da Verdade do Canadá (Truth and Reconciliation Commission of Canada), criada em 2008, com o intuito de registrar a história e os impactos das escolas residenciais indígenas, já documentou um total de 3.200 mortes de crianças, decorrentes de maus tratos, abandono e suicídio. “O governo canadense manteve essa política de genocídio cultural porque queria se desvincular de suas obrigações legais e financeiras com os povos indígenas e assim poder controlar suas terras e seus recursos”, denuncia. A última escola foi fechada somente em 1996.
No encontro de Dotac, o tema da reconciliação foi apresentado a partir de três enfoques:
Indigeneidade, por Carmen Lansdowne, membra da Primeira Nação de Heiltsuk e diretora executiva da Primeira Igreja Unida, Vancouver; Melanie Delva, animadora de reconciliação da Igreja Anglicana do Canadá.
Ecojustiça, por Albert Bicol, engenheiro e defensor do meio ambiente; Laurel Dykstra, sacerdote anglicana, ativista e estudiosa da comunidade de discipulado da igreja Salal e Cedar / Vancouver.
Migração Global, por Dan Hiebert, professor da University of British Columbia, estudioso internacional na área de migração global; Jennifer Mpungu, do Programa de Migração, Reassentamento e Pessoas recém-chegadas, do Comitê Central Menonita de British Columbia.
As 160 pessoas participantes vieram da Austrália, Brasil, Caribe, Estados Unidos e Canadá. Sete pessoas da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) estiveram presentes: diáconas Enedíria Foesch e Marli Blos, diácono Dionata de Oliveira, diaconisas Lovani Lilge e Arlete Prochnow, a professora da Faculdades EST, Marie Wangen Khran, e o professor e coordenador da Biblioteca da Faculdades EST, Allan Khran. O português foi a segunda língua mais falada e os cultos eram bilíngues. Além das plenárias, o encontro teve workshops, estudos bíblicos, atividades gerais lideradas por anciãos indígenas, visitas guiadas e espaços para conversas e momentos informais.
O encerramento do encontro contou com a participação da Arcebispa da Igreja Anglicana do Canadá para a região de British Columbia e Yukon (a primeira mulher a assumir o cargo mais elevado da igreja, em 2018), do reverendo Paul Gehrs, assistente para Justiça e Liderança da Igreja Evangélica Luterana no Canadá, e do reverendo Richard Bott, moderador da Igreja Unida do Canadá. O culto foi conduzido por diaconisas metodistas do Caribe, que também fizeram o convite para o próximo evento, em 2023, no Caribe.
Fontes: http://www.iela.ufsc.br/povos-originarios/noticia/tragedia-indigena-no-canada; https://www.cafehistoria.com.br/primeiras-nacoes-canada/; https://www.vancouver.anglican.ca/news/dotac-conference-report
Foto: Ann Blane (Presbyterian Church in Canada)