Aconteceu na sexta-feira, 21 de agosto, uma reunião virtual de monitoramento da execução do Projeto Rede CAPA de Agroecologia: Semeando o Bem Viver, firmado entre a Fundação Banco do Brasil (FBB) – Programa Ecoforte e a Fundação Luterana de Diaconia (FLD), junto aos cinco núcleos do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA). Participaram da reunião o Gerente de Monitoramento de Projetos da FBB, Robson V.Paula, as coordenações do CAPA, a coordenação ampliada de FLD-COMIN-CAPA, integrantes da equipe do projeto e três representantes do público beneficiário. A reunião foi aberta pela secretária executiva de FLD-COMIN-CAPA, Cibele Kuss, com poema “Perguntas quando caminhas”, de Pedro Casaldáliga.
O objetivo principal do encontro virtual foi monitorar a implementação das unidades de referência em agroecologia e dialogar sobre eventuais ajustes necessários em razão das mudanças impostas, principalmente, pela pandemia por Covid-19 e a forte estiagem que atingiu o sul do Brasil.
O projeto Rede CAPA busca responder ao desafio da ampliação da produção e comercialização de alimentos agroecológicos, a partir da implantação de unidades de referência, do acompanhamento à famílias em transição agroecológica, da gestão do conhecimento, por meio de processos de formação e planejamento participativo, da incidência pública, com ampliação da participação coordenada em espaços de controle social e com uma maior divulgação da Rede em âmbito regional e nacional.
De acordo com Robson, o estatuto da FBB exige a visitação e o acompanhamento de pelo menos 10% dos projetos executados, já que ajustes são quase sempre necessários. “Vemos com alegria o comprometimento da FLD-CAPA com a agroecologia. O trabalho realizado ao longo dos anos, inclusive na recente ação conjunta de ajuda humanitária apoiada pela FBB, com entrega de cestas de alimentos da agricultura familiar e camponesa e produtos de higiene de empreendimentos da economia solidária, foi muito assertiva e vocês foram bem referenciadas dentro da FBB”, ilustra.
Uma das Comunidades apoiadas com o projeto é a Comunidade Kilombola do Algodão, em Pelotas/RS, que recebeu a visita virtual por ter implantado duas unidades de referência (URs) – um quintal orgânico e um sistema agroflorestal (SAF) – com 250 mudas de frutíferas (nativas e exóticas) e ainda árvores para a produção de madeira.
De acordo com Nilo Dias, uma das lideranças da comunidade e que recebeu na sua propriedade o SAF, a comunidade tem atualmente 106 famílias que plantam para a sua subsistência, trabalham eventualmente nas propriedades das famílias vizinhas e vendem o excedente da produção quando tem. “O SAF foi implantado aqui na comunidade em forma de mutirão, que é o sistema que utilizamos para realizar muitas atividades. O SAF vai beneficiar a todas as pessoas e um dos aspectos mais importantes é que a própria comunidade pôde escolher as mudas que gostariam de implantar, não foi uma decisão que veio de cima para baixo”, explica Nilo.
Dentre as mudas que integram o SAF estão guabiju, erva-mate, araçá, guabiroba, cedro, canjerana, uma variedade de citros e a proposta é que esse sistema seja replicado em toda a comunidade através de oficinas. No CAPA Pelotas estão sendo implantados oito SAFs e quintais agroecológicos em comunidades kilombolas e indígenas e o projeto todo prevê a implantação de 18 unidades na região.
Márcia Scheer, agricultora que integra a Associação Regional dos Produtores Agroecologistas da Região Sul – Arpasul de Morro Redondo/RS, também foi beneficiada com o projeto e participou da reunião. Assim como ela, outras mulheres agricultoras da Associação, que há 25 anos industrializam e comercializam a sua produção nas feiras ecológicas em agroindústrias informais e em condições precárias, terão aporte em equipamentos, tecnologias e suporte para legalização, atendendo uma demanda histórica dos grupos de mulheres, beneficiando 105 mulheres organizadas em nove grupos.
O projeto aportou para o grupo a que Márcia pertence diversos equipamentos para a sua agroindústria de panificados, aumentando a produção e gerando trabalho e renda para outras famílias. “Produzir a gente sabe, mas precisamos de apoio para projetos e equipamentos para também permitir que as pessoas jovens se mantenham nas propriedades. Com a agroindústria é possível agregar valor aos nossos produtos, ter uma oferta maior e ainda aproveitar melhor as frutas e os produtos disponíveis”, acrescenta.
A Arpasul tem histórico de feiras na região há 25 anos e está recebendo 3 unidades de referência com panificados em Morro Redondo, Pelotas e Arroio do Padre/RS.
“A importância e o diferencial deste projeto é que ele conversa com a realidade das comunidades e o que é entregue dialoga com as necessidades das famílias”, acrescenta Zamir Cardoso, da equipe técnica do CAPA Pelotas que assessora as atividades realizadas a família Scheer.
Outra família que participou da reunião virtual foi a da agricultora Marineuza Aparecida de Castro Zarista, de Alto Alegre, no município de Verê/PR, acompanhada pelo CAPA Verê. Para a família de Marineuza o projeto aporta ações de assessoria técnica para a transição agroecológica e a certificação orgânica dos seus produtos.
Atualmente, a família Zarista precisa trabalhar em outras atividades fora da propriedade para que possa complementar a renda, realidade que Dona Marineuza pretende mudar logo. “Eu adoro trabalhar na terra e produzir. A nossa meta é que logo a gente possa tirar o nosso sustento apenas da propriedade e que tenhamos os nossos produtos certificados como orgânicos”, completa.
Em todo o projeto estão previstas a instalação de 46 Unidades de Referência de quintais agroecológicos, SAFs, frango, processamento de grãos, sementes e feiras das juventudes, nos três estados do sul do país, beneficiando famílias da agricultura familiar e camponesa, mulheres de grupos de saúde, povos indígenas e comunidades kilombolas. O projeto Rede CAPA de Agroecologia: Semeando o bem-viver é executado pela FLD-CAPA, com o apoio da FBB e BNDES.