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Primeiro culto evangélico luterano em São Paulo

Deus arma a sua tenda em uma botica

26/12/1858

botica ao veado de ouro
Pastor Georg Hoelzel - Predica - 26.12.1858 - Sao Paulo
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Nas ruas estreitas de São Paulo homens, mulheres, jovens e crianças se deslocam para um local muito especial. É domingo, dia 26 de dezembro de 1858, segundo dia de Natal. Todos vão até a Botica “Ao Veado de Ouro” na Rua São Bento. Um nome um tanto estranho para a cidade. A família Schaumann, vinda de Campinas, fundara a botica há pouco tempo. Rapidamente ela se tornou um ponto de referência para os imigrantes alemães da cidade.

A notícia sobre a presença de um pastor, vindo da Colônia Dona Francisca (Joinville-SC), movimentou o pequeno grupo de evangélicos/protestantes alemães da pacata cidade de 27 mil habitantes. A informação se espalhou rapidamente e todos haviam esperado ansiosamente por aquele dia.

O Pastor Georg Hoelzer tinha chegado à cidade após longa e atribulada viagem. A subida da Serra do Mar fora bastante complicada. Na verdade, ele estava a caminho para o interior de São Paulo. Tinha como missão acompanhar pastoralmente os evangélicos alemães que trabalhavam nas fazendas de café nas imediações de Limeira. Mas por que não atender ao clamor dos filhos e filhas de Deus da cidade de São Paulo que estavam sequiosos pela palavra de Deus?

A botica estava lotada. Sobre uma mesa ornada com uma toalha branca estavam duas velas acesas e uma cruz. Uma Bíblia aberta, ladeada por flores, completava o altar improvisado. A presença do sagrado estava sinalizada. O evento apontava para novos tempos. Indicava para a possibilidade de um cristianismo de múltiplas expressões. Comunicava a pluralidade religiosa em terras paulistanas. De forma discreta, num canto da sala, uma pequena árvore decorada revelava que as tradições familiares européias não haviam sido esquecidas.

O culto começou sem o toque de sinos. Era terminantemente proibido para os acatólicos ostentarem qualquer aspecto exterior que lembrasse algum templo. Quando o Pastor Georg Hoelzer surgiu com seu talar escuro e peitilho branco, o ar impregnado pelo cheiro dos remédios da botica foi tomado por uma emoção muito forte. Lágrimas brotaram nos olhos quando a melodia do hino “Vom Himmel hoch da komm ich her” ecoou na sala. O que dizer então quando „Ihr Kinderlein, kommet, o kommet doch all“, “Es ist ein Ros entsprungen“, “ O du fröhliche, o du selige”, e “Stille Nacht, heilige Nacht! “ foram entoados?

Pastor Georg Hoelzer pregou sobre e eeMateus 16.13-16.   Tal qual Pedro em sua confissão, o Natal era um convite para afirmar, reafirmar e confirmar a fé bem clara em Jesus Cristo. O credo apostólico e a oração do Pai Nosso, pronunciados em alemão, estabeleceram uma sintonia profunda e muito emotiva com todo o povo de Deus. Sim, quantas cenas vieram à mente nesta hora! A memória se encheu de lembranças da convivência com parentes, familiares e amigos distantes no tempo e no espaço. Os corações ficaram aquecidos pela comunhão intensa e pelo tom da emoção lingüística. Aqueles momentos foram simplesmente indescritíveis. Afinal, quantos anos sem a celebração de um culto! Quantos anos sem entoar os hinos natalinos! Quantos anos sem ouvir uma pregação!

A bênção final enviou a todos para a dura vida daquela que viria a ser a maior cidade brasileira. O culto preenchera um vazio. Este fora o primeiro culto evangélico-luterano em São Paulo e não seria o último. Foi um começo muito especial - a natividade de novos tempos. Natal-natividade em meio a receitas, fórmulas, frascos, embalagens.

Jesus nascera em uma botica em São Paulo.

Rolf Schunemann


 

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Salmo 105.4
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