Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas - OASE



ID: 2543

Lucas 10.38-42

Centenário da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas

15/08/1999

Centenário da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas

Celebração em Rio Claro/SP, em 15 de agosto de 1999. Prédica sobre Lucas 10.38-42

O que seria eu sem você?! Assim pergunta, ou melhor, afirma quem se sabe agraciado por seu parceiro, respectivamente sua parceira. Está ciente de que todo o seu ser, pensar e agir tem a ver com a pessoa amada e, em parceria com ela, são gerados — seja em forma de estímulo e inspiração, seja por meio de crítica ou mesmo admoestação. De maneira semelhante afirmo, como presidente da IECLB: O que seria a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil sem vocês, mulheres, especialmente sem vocês, tantos grupos de OASE?! Com gratidão lembro que, nos primórdios, quando ainda não havia hospitais, eram mulheres evangélicas que atuaram nas comunidades como parteiras. Também eram predominantemente mulheres que trabalhavam em festas e promoções beneficentes em prol de construções de templos e casas pastorais ou da aquisição de utensílios litúrgicos e domésticos para a comunidade. Em muitos lugares, ainda hoje é assim que as mulheres atuam atrás do palco dos acontecimentos da vida comunitária, enquanto os homens tomam as decisões nos grêmios diretivos. Esse fato, contudo, frequentemente é ignorado por nós, homens, educados numa cultura mais ou menos opressora. Deus, porém, assim me parece, atua justamente através de mulheres que o mundo machista pouco reconhece e pouco valoriza.

Esse Deus nos estimula e motiva hoje, na celebração do 100° aniversário do primeiro grupo de OASE no Brasil, fundado em 15 de agosto de 1899 como Evangelischer Frauenverein von Rio Claro. A Deus, sobretudo, agradecemos e louvamos. Pois foi ele que gerou, criou e manteve o Frauenverein, através da ação de pessoas como Julie Kölle e seu marido pastor Theodor Kölle. Foi Deus que motivou as senhoras evangélicas a largarem o seu serviço doméstico e o trabalho da roça a fim de se reunir em grupos. Elas estavam e continuam estando cientes da necessidade de apoio mútuo em sua caminhada. Ainda hoje, quando participo de cultos em nossas comunidades, registro que a presença feminina predomina. De muitas maneiras vocês demonstram que são importantes para a vida da igreja. Por isso, a todas vocês, uma por uma, eu gostaria de dar um abraço e dizer: Você é muito preciosa aos olhos de Deus! Sim, isso mesmo! Pois exatamente isso podemos deduzir da conhecida história que Lucas nos conta sobre a visita de Jesus na casa de Maria e Marta, constante no Evangelho de Lucas 10.38-42. Naquela singela visita, Jesus nos quer mostrar o que realmente importa na vida, seja em nível particular, grupai ou mesmo na igreja como um todo.

Adapto a versão da Bíblia na Linguagem de Hoje:

Jesus e os seus discípulos continuaram a sua viagem e chegaram a um povoado, onde uma mulher chamada Marta o recebeu na sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor (Jesus) e ficou ouvindo o que ele ensinava. Marta, porém, estava ocupada com todo o trabalho de casa.

Marta é a mulher que sabe como se recebe bem um visitante e efetua aquilo que toda pessoa bem educada faz, como p. ex., oferecer o banheiro para que o visitante possa refrescar-se da viagem, arrumar quarto e cama, colocar uma flor, preparar uma gostosa refeição, pôr a mesa de maneira convidativa e aconchegante. Afinal, o visitante deve sentir-se bem acolhido. Desde pequeno temos aprendido convenções de etiqueta e boas maneiras; elas têm caráter de leis que prescrevem o que é bonito e o que é feio, bom ou ruim, ou que está na moda ou ultrapassado. Ter que corresponder a tantas regras, prescrições e exigências já pode cansar, seja porque não consigo acompanhar e muito menos financiar o ritmo acelerado da moda, ou seja por precisar fazer tudo sozinho, como é o caso de Marta.

Olhemos o rosto dela: amargura e frustração em relação à irmã acomodada que não colabora; rugas de sobrecarga; costas curvadas de fardos pesados; boca que acusa pessoas e estruturas, sistemas e mesmo a Deus.

Diz o texto (v. 40b): Então (Marta) chegou perto de Jesus e disse: Será que o senhor não se importa que a minha irmã me deixa sozinha com todo esse trabalho? Mande que ela venha me ajudar!

Sozinha com todo esse trabalho! Quem de nós já não pensou ou mesmo se queixou dessa maneira! Lembro, p. ex., da mãe e dona-de-casa que trabalha na fábrica e depois faz todo o serviço doméstico, enquanto o marido e os filhos deixam servir-se e, como se não bastasse, ainda têm a petulância de reclamar da falta de tempero na sopa. Lembro da presidente do grupo de OASE, que se sente na obrigação de ter que fazer tudo sozinha para que o grupo possa literalmente consumir uma reunião aconchegante e envolvente; ou lembro do presidente e da pastora de comunidade que se sacrificam para atender bem os membros das comunidades em suas expectativas religiosas. Posso entender a queixa de Marta: Será que o senhor não se importa que meu marido e meus filhos, minhas colegas de diretoria e os participantes do grupo me deixem sozinha com todo esse trabalho? Mande que ela, ou seja, que todos esses eleitos para um cargo, assumam a sua responsabilidade e venham me ajudar!... 0 que fazer?

O pior que se pode imaginar é engolir a sua dor; pois faz adoecer a pessoa em alma e corpo. Marta, entretanto, fala, se queixa e lamenta, coloca sua dor para fora. Isso e o primeiro passo para a superação e libertação. Importante é que ela se lamenta diante do Senhor Jesus.

Pois Jesus não a recrimina, nem a rejeita. Ele a compreende em sua dor, quando diz (v. 41): Marta, Marta, você está ocupada, agitada e atrapalhada com tantas coisas. Jesus não despreza o serviço da boa acolhida. Mas ele percebe, com empatia, o quanto ela se desdobra e cansa. Ele realmente a entende. Como isso faz bem!

Contudo, Jesus não quer apenas entender, mas também quer ajudar a superar a situação de dor. Por isso ele diz para Marta (v. 42a): mas apenas uma coisa é necessária. Assim ele desperta o interesse dela, faz levantar a cabeça para ouvir melhor e desafia a perguntar pelo que importa. Ao que ele responde (v. 42p): Maria escolheu a (coisa) melhor, e esta ninguém vai tomar dela. Pouco e necessário. E tão simples, que nos passa despercebido. Isso chega a me incomodar. Contudo, Maria percebeu o que nessa hora era necessário.

Maria está sentada. Olhando para cima, ela parece estar atenta, com os olhos, a boca e naturalmente também com os ouvidos para ouvir o Mestre. Postura de aluna atenta e aberta para receber ensino. Aliás, naquela época, mulheres não tinham direito a ensino. Parece que Maria percebe a chance única de ouvir falar daquele que tem palavras de vida eterna. Por isso deixa de lado todas as convenções de boa acolhida. Ela está ciente de que agora não veio qualquer um, mas veio o Senhor. Ele não está em qualquer viagem, mas está a caminho para Jerusalém, onde vai dar a sua vida em favor de toda a humanidade e todo o universo. Dara a sua vida para vencer todos os poderes de opressão e marginalização, de não-vida e morte. Diante desse fato único, todo bom costume deve e pode ser colocado em segundo piano. Nesta hora importa somente uma coisa: Parar, sentar, dispor-se como aluna, aberta e ansiosa para ouvir o ensino da vida.

Vocês sabem qual é! Lembre-se da leitura bíblica: Amar a Deus acima de tudo — e amar ao próximo como a si mesmo. Tão simples! Mas tão difícil, que o sacerdote, ou seja, o pastor e a pastora bem como o levita, ou seja, o zelador do templo, perderam a chance de colocar em pratica esse amor. Mas um estrangeiro, sem a religião oficial, um samaritano, percebeu a hora de praticar o amor ao pr6ximo junto aquele que necessita de ajuda. Vocês sabem que foi através do socorro prestado ao assaltado que o estrangeiro manifestou o seu amor a Deus. Nessa situação era necessário que o seu culto se expressasse e materializasse em forma concreta de serviço diaconal. Nessa situação era convincente apenas tai forma concreta de testemunho sobre o amor de Deus. HA hora para ouvir a Palavra de Deus e para orar, e há hora para prestar serviço diaconal. O critério de distinguir entre ambos e relacionar um com o outro —esse e o mistério do ensino sobre a vida para o qual Maria se dispõe.

Com todo o seu ser ela escuta e recebe essa palavra da vida. Permite que esse mistério perpasse todo o seu corpo. Algo semelhante acontece conosco na Santa Ceia. Pelo pão e o fruto da uva, o mistério do corpo de Cristo nos envolve e perpassa todo o nosso ser, assim como a circulação sanguínea passa por todos os vasos capilares, alimentando e colocando em funcionamento os órgãos do nosso corpo. Assim Cristo nos faz ver e ouvir a pessoa esquecida que precisa de nós para desabafar e chorar. Ele nos liberta para que partilhemos o nosso pão com quem tem fome; para que compartilhemos o nosso saber na diretoria, no grupo, na escola e comunidade e aprendamos uns com os outros.

Dessa maneira podemos experimentar como é fascinante e belo ser participante, somando o saber e o fazer. Assim o grupo da OASE deixa de ser um clube onde a gente paga para ser servida. Mas o encontro transforma-se em acontecimento que envolve as participantes com o ensino da vida, assim como Maria se deixou cativar. Cristo vai fazer com que cada senhora descubra a sua capacidade e potencialidade e com elas contribua, para que o encontro se torne prazeroso e o grupo cresça na pratica do amor ao próximo. Assim, cada senhora é valorizada por ser preciosa aos olhos tanto de Deus quanto dos outros.

Sentadas aos pês de Jesus, interiorizando o ensino da vida, aprenderam a alegrar-se com outras manifestações de engajamento e envolvimento de mulheres. Com satisfação saúdam, p. ex., o grupo de mulheres jovens que se reúnem a noite, visto que durante o dia trabalham fora de casa. Não encaram tal grupo como uma concorrência, mas muito antes uma alternativa necessária, uma complementação.

Que possamos ser, na hora certa, uma Maria para ouvir, uma Marta para arregaçar as mangas, um bom samaritano para socorrer quem está esquecida e ignorada, na estrada da vida! Assim, todos os grupos de mulheres, seja em forma de OASE que se reúne a tarde ou a noite, seja que elas se encontrem como um clube de mães ou como fórum de mulher — todos eles estão comprometidos com o ensino de Cristo.

Que ele possa usar a todos nós na edificação de comunidades terapêuticas em serviço e cura! Que assim possamos ser um pequeno Cristo para os outros, para a honra e a glória de Deus, para a bênção de muitos e para a nossa própria alegria! Amém.

E a paz de Deus, que excede todo o nosso entender, falar e ouvir guardará as nossas mentes em Cristo Jesus. Amém.

Fonte: Novo Jeito de Ser igreja. Textos Selecionados. Editora Sinodal São Leopoldo/RS, 2002.

 


Autor(a): Huberto Kirchheim
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Mulheres / Organismo: OASE - Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 38 / Versículo Final: 42
Título da publicação: Novo Jeito de Ser Igreja. Textos Selecionados / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2002
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 30045
Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar que Cristo Jesus tinha.
Filipenses 2.5
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