João 13.12-17
Um exemplo de humildade
¨Vocês entenderam o que eu fiz?¨ Não. É mesmo muito difícil entender a proposta do projeto de Cristo para a humanidade. São valores que se chocam com os valores da sociedade vigente. Como pode o Mestre querer lavar os pés dos discípulos? A ordem é o contrário e ela está sendo convertida. Lavar os pés de outras pessoas, naquela época, era serviço para escravos. E uma completa inversão de papéis. Para os valores estabelecidos sob a visão dos senhores do mundo, baseado também no ¨ter¨ e não no ¨ser¨ não pode ser entendido que o MESTRE sirva. Serviço que suja as mãos, a roupa e faz abaixar-se. Os pés estão mais baixos que a cabeça.
Nikolaus Hermann, em seu hino de Natal, compreendeu muito bem a proposta de Cristo. Vejamos o que ele diz:
Jesus é servo, eu sou senhor;
que troca singular!
Não há no mundo amor maior
do que seu amor sem par.
trocou a glória por desdém,
tornou-se nosso irmão!
Na manjedoura de Belém
eis nossa salvação.
Como Igreja de Jesus Cristo temos dele o ensinamento, a palavra, e temos o seu exemplo prático e concreto. Como essa mensagem de amor é vivida hoje pelos adeptos diretos de Cristo, que somos nós, os cristãos? ¨Eu sou o Senhor e o Mestre e lavei os pés de vocês. Por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros, porque dei o exemplo para que façam o que eu fiz.¨
Se Cristo hoje perguntasse a mim e a você onde lavamos os pés de um próximo nosso, o que responderíamos? Estamos conseguindo traduzir esta ordem em nossa realidade prática de hoje? Qual é a profissão que escolhemos? E mais ainda, qual é o desempenho mais rentável economicamente para o qual motivamos o/a nosso/a filho/a, amigo/a, irmão/ã? Enfim, todos precisamos sobreviver!
Profissões na área humana, como, por exemplo, a enfermagem, a educação, os serviços na área social, sempre são mal pagos. O doente não traz retorno econômico, por isso o sistema que se ocupa em acumular, lucrar, produzir, não investe alto nestas profissões. Além disso, elas exigem muita força e habilidade. Elas lidam com o ser humano - como sujeito e não como objeto.
A técnica e a modernização de nossa época facilitam muito certos serviços que só podem ser realizados com amor. O amor não é pagável. Amor é doação. É mais do que se pode pagar com dinheiro e com bens materiais. Amor é inversão dos valores estabelecidos por uma sociedade onde o ¨ter'¨ de poucos é mais valorizado do que o ¨ser¨ de muitos. A este respeito parece não haver dúvida. O que muitas vezes não está claro, creio eu, é saber de que lado estão os cristãos. Qual é o lado da corda que puxam? Ou então, sob que ótica é lido, pregado e entendido o exemplo de humildade e a proposta de Cristo como resposta ao sofrimento, à injustiça, na qual estamos inseridos?
O quanto estes valores são de fato levados a sério em nossa prática comunitária e em nossa vida de cristãos?
Onde está a libertação que Cristo nos trouxe em seu projeto de salvação? Livres para amar; livres para agir, livres para ser e não mais escravos do ter. Esta é a proposta. Neste sentido teria espaço e teria vida digna para todos.
Repetimos: ¨Vocês me chamam de Mestre e de Senhor e têm razão, pois eu sou mestre. Sou o Senhor e o Mestre e lavei os pés de vocês. Por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros porque dei o exemplo para que façam o que eu fiz.¨
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO
1. Como é lido e entendido este capítulo de João 13 em sua comunidade?
2. Que exemplos concretos de lava-pés a OASE/comunidade está testemunhando para o meio no qual vive?
3. Qual é a profissão para a qual já motivei alguma pessoa que levasse em conta a proposta de Cristo?
4. Qual é a diferença entre o ¨ter¨ e o ¨ser¨ para um cristão?
Ir. Hildegard Hertel, Roteiro da OASE, 1995, p.34-35.
