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Como surgiu a MEUC e sua relação com a IECLB

01/12/1995

Como surgiu a MEUC e sua relação com a IECLB

Nelso Weingärtner

Raízes do pietismo

A Missão Evangélica União Cristã (MEUC) tem as suas raízes no movimento do pietismo na Igreja Evangélica da Alemanha. Com a reforma da Igreja, liderada por Martim Lutero, surgiram ou nasceram por toda a Alemanha comunidades, nas quais muitos membros viviam intensamente a sua fé. O sacerdócio geral dos crentes era praticado. Cada pai era o sacerdote em sua família: com ela lia a Bíblia, orava e cantava os hinos da fé. Também no dia-a-dia do trabalho e do lazer a fé cristã era verdadeiro tempero.

Fervor da fé se apaga

Esse fervor de fé, que caracterizava muitos cristãos evangélicos no tempo de Martim Lutero, se apagou nas gerações seguintes. Na guerra dos 30 anos (1618 - 1648: uma guerra de cunho religioso entre evangélicos e católicos) morreu mais que a metade da população alemã. No tratado de paz de 1648 foi reeditada uma lei que dividia as províncias e os condados alemães em territórios evangélicos e em territórios católicos. Esta lei já fora estabelecida dois anos após a morte de Martim Lutero, quando 80% da população alemã era evangélica. A lei rezava: ¨Cuius regius, eius religio¨ = ¨de quem a região deste a religião¨. Agora ser evangélico ou católico não era mais uma opção ou decisão e sim, consequência do Território em que se morava. É compreensível que com isso o fervor da fé de muitos se apagou.

Nasce o pietismo

Foi nesta época que nasceu o movimento do pietismo. O pietismo visava despertar pessoas para uma fé viva e dinâmica através de evangelizações. As pessoas que se sentiam tocadas pelo Evangelho se reuniam em grupos para se aprofundar no estudo da Bíblia, para orar, para experimentar comunhão e santificação. Esse trabalho era liderado por pastores, que foram verdadeiros reformadores em sua época. Logo também foram envolvidos muitos membros leigos da Igreja, que passaram a dirigir estudos bíblicos e grupos de oração.

Oposição no pietismo

O pietismo foi uma grande bênção para muitas regiões da Alemanha. Mas ele também enfrentou muita oposição. Nem todos queriam comunidades participativas. No decorrer dos séculos o movimento do pietismo, às vezes, se identificava com a Igreja oficial e outras vezes realizava um trabalho paralelo à Igreja. Quem estuda a história da Igreja fica triste pelos desencontros que aconteceram na Igreja de Jesus Cristo.

Orgulho no pietismo

Em muitos lugares a Igreja oficial era por demais tradicionalista e estagnada e não oferecia espaço para avivamento e renovação. Mas de igual modo é preciso dizer, que em muitos lugares os representantes do pietismo eram extremamente bitolados. Eles não enxergavam a realidade no seu dia-a-dia, sua vida, fé e sua maneira de ser e viver não combinavam. Muitos dos assim chamados ¨convertidos¨, apresentavam-se com um doentio orgulho e se consideravam verdadeiros super-homens e olhavam com desprezo para os que não se enfileiravam em seus grupos.

Como esse movimento do pietismo chegou ao Brasil?

Com os imigrantes alemães

Já entre os primeiros imigrantes evangélicos, que chegaram ao Brasil no século passado, havia famílias de formação pietista. Estas famílias trouxeram ao lado de suas Bíblias e hinários, livros de devoção e literatura de edificação espiritual. Estas famílias procuravam levar uma vida piedosa com devoções e orações em família e em pequenos grupos.

Com alguns pastores

Muitos de nossos pastores que atuaram em nossas comunidades no século passado e até nossos dias, tiveram a sua formação teológica em instituições ligadas ao pietismo. Esses pastores moldaram muitas pessoas de nossas comunidades segundo as tradições do pietismo. O pietismo, portanto, tem lugar vivencial na IECLB desde os seus primórdios.

O missionário Alfred Pfeiffer

Em dezembro de 1927, o missionário Alfred Pfeiffer chegou em Santa Catarina e fixou residência na região de São Bento do Sul. Ele fora enviado ao Brasil pelo ¨Gnadauer Gemeinschaftsverband¨, uma associação pietista, que tinha como lema de trabalho: ¨Evangelização e propiciar ambiente para viver em comunhão de fé.¨ Alfred Pfeiffer formou-se em Wuppertal - Barmen, na Alemanha, numa escola para evangelistas: no Johanneum. Ele foi enviado ao Brasil com tarefa de atuar como evangelista e reunir grupos de pessoas que, através de estudos bíblicos e círculos de oração, aprendessem a viver como verdadeiros seguidores de Jesus Cristo. Rapidamente o trabalho do missionário Pfeiffer alcançou as principais comunidades evangélicas de Santa Catarina. Em todos os lugares viviam pessoas que ainda tinham alguma memória duma vida de fé mais aprofundada. Por isso, havia participação maciça de membros de nossas comunida-des nas evangelizações e cresciam os grupos de estudo bíblico e a participação em retiros.

Missionário Friedrich Jacob Dietz

Em 1931, chegou a Blumenau o segundo missionário enviado pelo ¨Gnadauer Gemeinschaftsverband¨, na pessoa do missionário Friedrich Jacob Dietz, que também fora formado na escola para evangelistas de Wuppertal - Barmen, no Johanneum. Atuando agora com dois missionários o trabalho de evangelização alcançou praticamente todas as comunidades evangélicas em Santa Catarina e no Paraná. Mais tarde esse trabalho também foi levado ao Rio Grande do Sul, iniciando por Ijuí.

Posição da Conferência Pastoral

Em 1933, a Conferência Pastoral do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná se manifestou da seguinte maneira sobre o trabalho realizado pelos missionários Pfeiffer e Dietz: ¨Em princípio, a Conferência Pastoral da Igreja Evangélica Alemã de Santa Catarina e do Paraná endossa uma Evangelização que acontece no Espírito do Novo Testamento, mesmo se ela não é organizada à partir da Igreja. No entanto, esperamos e confiamos que os preparativos da Evangelização aconteçam em harmonia com a Comunidade e seu respectivo pastor e que não seja criada uma Organização religiosa independente.¨

União Cristã

Em 1937, foi registrada a Sociedade Religiosa União Cristã, que hoje é a Missão Evangélica da União Cristã.
Há 69 anos o trabalho iniciado pelos missionários Pfeiffer e Dietz acontece em comunidades da IECLB. Mas também trouxe muito sofrimento. De parte à parte aconteceram discriminações, calúnias e falta de amor. Muitos atritos poderiam ter sido evitados se tivesse havido de parte à parte mais humildade e disposição ao diálogo.

Nesses 69 anos a IECLB cresceu muito e tem hoje suas próprias instituições de formação teológica.

Também a MEUC cresceu e tem hoje as suas próprias instituições de formação.

O relacionamento entre pastores e missionários ainda não é o desejável em muitas regiões de nossa Igreja. Ainda é necessário muito diálogo, muita paciência e persistência e acima de tudo, muita humildade e muito amor para podermos trabalhar lado a lado e unidos na seara do Senhor.


O autor é pastor da IECLB, atuando como evangelista e pesquisa histórica na RE II, e reside em Timbó, SC.


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