Evidencia-se cada vez mais a necessidade de nos ocuparmos numa reflexão séria e profunda sobre uma das fases mais bonitas da vida de um ser humano: a juventude. Infelizmente, muitos acreditam que essa é uma fase muito complicada da vida. Alegam que jovens são “difíceis de lidar”. Surgem então grandes preconceitos como: “jovens são todos irresponsáveis”, “não querem nada com nada”, “eles são um problema” “estão perdidos”, “o que será dessa gente no futuro?”.
Esse tipo de preconceito vai criando uma grande lacuna entre adultos e jovens. Isso se reflete também na Igreja, na vida comunitária. Não raras vezes se vê os grupos de jovens, ou os próprios jovens, distantes do todo da comunidade. Grupos que têm sua organização e vida totalmente desconectados do que acontece no seio comunitário. Um dos reflexos mais evidentes dessa lacuna é: “os jovens não participam do culto!”.
Não deveríamos querer achar culpados por essa situação. Precisamos considerar que os interesses de jovens e adultos são diferentes e isso já é um bom motivo para que haja uma lacuna entre eles. No entanto, a situação se agrava quando numa comunidade ambas as partes não procuram uma convivência harmoniosa, respeitando as características de cada fase da vida.
Conforme o apóstolo Paulo, a comunidade é o corpo de Cristo e congrega diferentes membros que se completam uns aos outros. Por isso os jovens não podem formar um grupo a parte ou estar completamente fora da vida comunitária. Ao contrário, precisam estar completamente integrados em tudo que acontece. Porém, para que isso aconteça é necessária boa vontade por parte de todos os membros desse corpo – tanto dos jovens, como dos adultos. Precisamos sempre lembrar que sem os jovens o corpo não está completo.
Completar esse corpo, que é a comunidade, é uma missão nada fácil. Ainda é necessário derrubarmos vários tabus. O primeiro deles é a dificuldade que temos de abordar a temática juventude. As comunidades somente poderão realizar um bom trabalho com jovens quando seus membros (incluindo os jovens), presbitérios e obreiros se ocuparem numa discussão aberta e sem preconceitos sobre a participação dos jovens na vida comunitária. O segundo tabu que precisamos derrubar é acreditar que trabalho com jovens somente se faz quando existe um grupo de jovens na comunidade. Essa é uma visão errada da missão. O trabalho com jovens é na verdade todo e qualquer esforço que uma comunidade pode fazer na tentativa de envolver os jovens em qualquer de uma das suas atividades, inclusive o grupo de jovens.
Essa construção do trabalho com jovens precisa necessariamente considerar dons e vocações dos jovens e da comunidade. Entre os jovens há muitos dons que podem servir para enriquecer a vida comunitária. Entre os adultos há muitos dons que podem servir para o estímulo à participação dos jovens na vida comunitária. O segredo está em descobrir esses dons e deixar que eles sirvam à Igreja de Jesus Cristo.
Eis algumas dicas de como envolver jovens na comunidade: permitir que desempenhem pequenas tarefas nos cultos ou que participem do presbitério da comunidade, envolvimento em ações diaconais, formação de grupos musicais, cultos voltados especialmente ao público jovem, retiros, acampamentos, evangelizações, participação em atividades sinodais, visitas a lares de idosos, apresentação de peças teatrais, grupos de danças, noites culturais, atividades esportivas, passeios ciclísticos e certamente poderíamos seguir a lista. Qualquer uma dessas atividades pode fazer despertar nos jovens um grande interesse para participar ativamente em sua comunidade.
Por fim, não podemos esquecer do principal. Tudo exige muito trabalho e investimento de recursos financeiros. Estes precisam ser vistos como um investimento para o crescimento da comunidade e a garantia de que ela existirá no futuro. Precisamos lembrar que Deus necessita de bons servos, que coloquem as suas vidas e dons a serviço do seu Reino. O restante Ele, por meio do Espírito Santo, fará.
P. Fábio Rucks
Orientador teológico da juventude
Sínodo Nordeste Gaúcho