Carta de Otto Kuhr (sênior) a seu irmão Fritz Kuhr em Ottenheim/Kentucky-USA
Primeiras impressões do Brasil
Estrada da Ilha, 23/01/1898.
Querido Fritz!
Com grande tristeza eu soube, através da carta da querida Anna, da perda e rápida morte da vossa querida filhinha Anna. Expresso a vocês dois os meus sentidos pêsames. Que o bondoso Deus, que sara todas as feridas, não vos abandone com o seu consolo, mas permita que vocês vejam em meio a esta dor também uma expressão de seu amor. O ano velho então trouxe mais um falecimento ao seio de nossa família, e o nosso querido e saudoso pai vê a sua netinha antes que a veria se ainda estivesse em vida. Os caminhos de Deus são insondáveis, mas abençoados.
Já há tempo eu queria ter escrito para vocês. Mas você sabe como são turbulentos os tempos por que tenho passado. Viajar, e nada mais do que viajar. Eu percorri nada menos do que 16.000 milhas, e — louvado seja Deus — tudo correu bem. Não me arrependo de minhas viagens e de minha decisão. Pelo contrário, estou totalmente fascinado pela nova situação em que me encontro aqui. Que miséria eu deixei para trás! Como eram minúsculas as comunidades a que servi até agora. E que diferença eu vejo aqui! Agora eu tenho sob meus cuidados pastorais mais de 2.000 almas, e todo o meu tempo está completamente tomado. Nesta situação o trabalho também faz sentido, e dá prazer!
Em que miséria os agricultores têm de se virar aí na América do Norte! E que país rico e abençoado eu vejo aqui. E a que preços baixos! É uma pena que este belo país esteja em descrédito tão grande na opinião pública, encontre tantos preconceitos e haja tanta ignorância sobre a situação aqui!
E mesmo assim: Quantos milhares de compatriotas nossos já estão aqui, estão ricos e sustentam todo o país! Eu tenho que confessar que nem de longe sonhava encontrar colônias alemãs tão prósperas aqui. Embora eu tenha querido vir para cá, minhas expectativas foram superadas em muito.
Que vida miserável e cheia de preocupações vocês levam aí! Você deveria ver as lavouras de milho e as plantações de cana-de-açúcar uma vez. E para tudo se ganha marcos e dinheiro vivo! Isto é a pura verdade, pois eu mesmo moro no meio dos colonos e vejo isto. Mas você não vai acreditá-lo do mesmo.
Eu não quero aconselhar você a vir para cá. Você mesmo deve ter este desejo. Pois você sabe que eu não o aconselho por minha causa. É no interesse de vocês que o faço. Aqui eu tenho tudo de que necessito, graças a Deus. Mas eu queria que vocês também fossem mais felizes. Eu deixei tudo para trás, e vocês todos tiveram pena de mim e me viam como um sonhador descabeçado e aventureiro. Mas nesta longa viagem se me deu tudo tão certo, que em tudo eu vejo acontecendo a vontade de Deus.
Por que eu tive de vir justamente para cá, onde existe a colônia mais bela e sadia, que possui o único e melhor porto? Por que eu tive que chegar justamente no momento em que todas estas comunidades estavam vagas, ou ficaram vagas a partir de janeiro? Isto não pode ser apenas mera coincidência!
Vê se você consegue vender (a sua propriedade) aí. Mande anunciar bastante. E venham todos de mala e cuia! Aqui você consegue comprar terra boa, praticamente cultivada a US$ 5 dólares. Terra melhor do que aí em Stanford. Aqui cresce capim e pasto o ano todo. Chuva a cada 29 dia. Mata virgem custa de 5 a 8 Marcos de entrada o Morgon (= 2.500 metros quadrados). O governo também doa terra de graça.
Venha com Anna via Hamburgo, e visite os nossos queridos em casa. De Hamburgo a Bamberg em 4ª. classe a passagem custa 12,70 marcos (na 32 classe custa 24,90 Marcos). Eu pago a tua passagem de navio no deck intermediário. Mas não demorem muito. Mandem carta logo, comunicando quando vocês viajam, e telegrama dizendo quando o navio zarpa.
Cuide para que Anna receba dinheiro. Mamãe tem tudo. Se Anna tiver o dinheiro em mãos, ela encomende e pague GENRARIA para mim. Pois para mim isto é bem difícil porque a moeda brasileira tem pouco valor no exterior. Mas para você isto é muito bom. 1.000 Marcos agora equivalem a 1.660 Mil Reis...
Então, fiquem com Deus, e receba cordiais saudações de seu fiel irmão.
Otto
Tradução de P. Dr. Osmar Zizemer
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