IECLB e Igreja Evangélica Luterana do Brasil - IELB



ID: 2724

Manifesto Conjunto das Comunidades da IECLB e IELB de Belo Horizonte

31/10/2001

COMUNIDADES EVANGÉLICAS LUTERANAS DE BELO HORIZONTE PUBLICAM MANIFESTO CONJUNTO


    A Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Belo Horizonte (CECLBH) e a Comunidade Evangélica Bom Pastor (da IELB) da mesma cidade realizam há 12 anos consecutivos culto celebrativo por ocasião da Reforma. Esse ano, além do culto, redigiram um manifesto conjunto se posicionando sobre o atual momento político regional e nacional. Lideranças das duas comunidades já refletem em conjunto há dois anos sobre a relação fé e política e o envolvimento dos cristãos luteranos na militância político-partidária.

IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL
IGREJA EVANGÉLICA DE CONFISSÃ0 LUTERANA NO BRASIL

PAZ COM JUSTIÇA!

1. Animados pela promessa do Evangelho que diz que os que têm fome e sede de justiça serão fartos (Mt 5.6), nós, cristãos luteranos, queremos tornar pública a nossa esperança, o nosso sonho de ver firmar-se em nosso país uma sociedade em que a graça e a verdade se encontrem e a justiça e a paz se beijem (Sl 85.10).

2. Entendemos que uma sociedade justa acontece, antes de mais nada, onde cada um/a tem a possibilidade de acesso ao pão. E como nos ensinou Martinho Lutero (1483-1546) ao explicar o quarto pedido do Pai-Nosso, o pão são muitas coisas: Tudo o que se refere ao sustento e às necessidades da vida, como por exemplo: comida, bebida, roupa, calçado, casa, lar, meio de vida, dinheiro e bens, marido e esposa íntegros e fiéis, bom governo, bom tempo, paz, saúde, disciplina, honra amigos leais, bons vizinhos e coisas semelhantes. (Catecismo Menor, 1529).

3.Pão é também bom governo! E Deus sabe como precisamos desse pão, pois nossos governantes, nossos representantes torcem a justiça, negam o que é direito da população (Dt 16.18-20, Sl 82.2-4, Is 10.2, Jr 5.28, Mq 3.11) e correm atrás de subornos (Pv 17.8, Is 1.23, Is 5.23, Mq 7.3). Até mesmo o Senado Federal, a mais alta câmara de representantes do povo, tornou-se cenário para exercício das piores virtudes: abuso de poder, chantagem, mentira, etc. Em nossa Assembléia Legislativa o cenário não é mais animador: emprego de parentes, altos salários e a conivência incompreensível da bancada evangélica. São raros os que conseguem exercer o seu mandato público com isenção, justiça e atenção às necessidades da população.

4. Há os que amaldiçoam a política porque vêem nela o domínio das forças demoníacas. Conclamam os cristãos a se afastarem dela para que não sejam maculados. Outros cristãos entram na política e atuam de forma tão lamentável que nos envergonham a todos. Nesse quadro tudo parece indicar que os cristãos não deveriam se envolver nas coisas públicas. No entanto, lemos no Salmo 115.16 que o céu é o céu do Senhor, mas a terra deu-a ele aos filhos dos homens. Temos, então, poder e autonomia e também o dever de cuidar da terra, pois tudo o que Deus criou é bom (Gn 1.31).

5. No Evangelho de Lucas é dito que Deus destituiu de seus tronos os poderosos. A propósito deste texto, Lutero chama a atenção para o fato de que não se diz que Deus destruirá os tronos, pois enquanto a terra existir tem que haver autoridade, governo, poder e tronos. O que não se pode tolerar, porque é contra a vontade de Deus, é o abuso do trono para infligir injustiça e violência ou que se faça uso dele em proveito próprio (Martinho Lutero. Magnificat, 1520-1).

6. Estamos cientes também de que a injustiça não é um problema localizado ou circunstancial, mas um sistema (Ec 5.8), um jeito de agir que atravessa toda a sociedade brasileira (Jr 5.1). O suborno, por exemplo, é sempre uma relação em que alguém oferece e alguém aceita (Pv 17.8). Infringir a lei, burlar o direito, é uma praga que vai desde a mais simples infração de trânsito até o desvio de verba destinada a construção de hospitais ou escolas (Jó 20.19). Por essa razão, entendemos que não adianta pôr remendo de pano novo em roupa velha (Mc 2.21). Precisamos de mudanças maiores: precisamos de uma nova cultura política em que o juízo corra como as águas e a justiça como um ribeiro perene (Am 5.24).

7. Ausentarmo-nos de uma participação como cidadãs/ãos na vida pública é fugir ao testemunho construtivo da nossa fé e, ao mesmo tempo, abandonar a nossa esperança. Porém, a prática isolada de uma justiça intra-muros faria com que nossa ética não tivesse relevância alguma para a sociedade. Cremos que no caminho da justiça está a vida (Pv 11.19, 12.28) e entendemos que esta vida deve alcançar toda a sociedade para que todos possam viver em abundância (Jo 10.10).

8. Por todas essas razões, nós, cristãos luteranos, afirmamos nosso compromisso de trabalhar, como cidadãs/ãos, para uma sociedade onde a paz e a justiça se beijem, porque estamos convencidos de que é em paz que se semeia o fruto da justiça para os que promovem a paz (Tg 3.18). Queremos fazer isso através do nosso voto consciente, através da fiscalização ativa das atividades dos governantes e legisladores e de nossa atuação concreta, através de nossas instituições sociais, em favor dos excluídos, dos injustiçados, dos fracos.

9. Nossa esperança está sintetizada no grande sonho do profeta Isaías quando diz: O efeito da justiça será a paz, e o fruto da justiça repouso e segurança, para sempre. O (...) povo habitará em moradias de paz, em moradas bem seguras, e em lugares quietos e tranqüilos (Is 32.17-18).

10. Às mulheres e homens públicos queremos dizer que todo poder e toda autoridade é sempre serviço (Mt 20.25-27) e aquela/e que anda em justiça, e fala o que é reto; o que depreza o ganho de opressão; o que com um gesto de mãos recusa aceitar suborno; (...), este habitará nas alturas; as fortalezas das rochas serão o seu alto refúgio, o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas (Is 33.15).

Belo Horizonte, 31 de outubro de 2001
 

Todas as nossas orações devem fundamentar-se e apoiar-se na obediência a Deus.
Martim Lutero
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