Seminário Teológico Luterano-Católico sobre a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação — Parecer
Porto Alegre, 14-15/11/1996
Os participantes deste seminário expressaram a alegria de suas Igrejas diante dos adiantados trabalhos para se chegar a uma profética declaração conjunta sobre a Doutrina da Justificação. Recolhendo os frutos de diálogos feitos até agora, esta declaração se propõe a oficializar um acordo teológico entre as Igrejas que compõem a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica Romana. Examinando criteriosamente o ensino das Igrejas e a interpretação de suas tradições, sem tentar corrigir a história, o documento apresenta convergências profundas ao lado de divergências não excludentes, que trarão repercussões para todo o movimento ecumênico. E ele constata que as condenações doutrinais de outrora, concernentes à justificação, não mais atingem os parceiros de hoje. O texto da declaração destaca a centralidade da doutrina da justificação na Igreja de Cristo e no diálogo oficial luterano/católico romano. O documento, a partir do testemunho bíblico, afirma que os seres humanos são por graça justificados pelo agir de Deus em Jesus Cristo, mediante a fé que produz frutos de solidariedade e justiça. Encontramos a explicitação da compreensão comum da justificação no n° 19: Confessamos juntos que o ser humano, no concernente à sua salvação, depende completamente da graça salvadora de Deus. A liberdade que ele possui para com as pessoas e coisas do mundo não é liberdade com relação à salvação. Isto quer dizer que, como pecador, ele se encontra sob o juízo de Deus, sendo por si só incapaz de se voltar a Deus em busca de salvamento, ou de merecer sua justificação perante Deus, ou de alcançar a salvação pela própria força. Justificação acontece somente por graça. Trata-se de uma concepção dinâmica da justificação onde a graça não despersonaliza o ser humano, que sempre de novo é chamado a responder à palavra e ao agir de Deus como pessoa viva.
Foi ressaltada a novidade do método usado na declaração. Ele está baseado em três princípios. O primeiro é o que busca compreender a intenção do que está por trás das formulações dogmáticas. O segundo é a busca das afinidades subjacentes às polêmicas. O terceiro pergunta pela verdade que está implícita nas unilateralidades. Este método traduz um novo espírito onde se sabe que a unidade de Cristo é anterior às divergências.
Para a Comissão Teológica Bilateral Internacional os participantes deste seminário apresentam as seguintes sugestões:
— que se explicite melhor a dimensão comunitária e eclesial da doutrina da justificação;
— que se estude melhor a questão da liberdade e do mérito humanos;
— que o texto da declaração acentue ainda mais a centralidade da doutrina da justificação para a vida da Igreja;
— que o documento mostre a convergência existente entre a expressão luterana centro do Evangelho com a expressão católica hierarquia de verdades;
— que explicite com mais clareza a oposição entre justificação por graça e fé e a justificação por obras de autoglorificação. Para isso que a citação de Ef 2,8 do n° 10 seja completada com o v. 9;
— que se busque uma formulação mais clara para a questão da concupiscência (cf. n° 30); que se estude a relação entre segurança psicológica e certeza teológica no que se refere à salvação (cf. n° 37);
— que entre as perguntas a serem esclarecidas, na continuidade do diálogo católico/luterano após a declaração, seja inserida a relação entre justificação e ética social (cf. n° 44).
Os participantes deste seminário solicitam às instâncias superiores de suas Igrejas:
— que sejam concluídos os trabalhos visando chegar à assinatura da declaração por ambas as Igrejas;
— que uma celebração simbólica e pública marque a assinatura desta declaração em que são levantadas as mútuas condenações;
— que se estude a possibilidade para que, na celebração do ano 2000, haja uma comunhão na Eucaristia, visibilizando a unidade que já nos é dada em Cristo.
A Declaração Conjunta deixa algumas tarefas para nossas Igrejas. Foram apontadas entre outras:
— que na celebração do ano 2000 haja atividades conjuntas como CF, campanhas de evangelização, empenho das Igrejas para o fim da dívida externa;
— que na recepção eclesial da declaração se mostre como a doutrina da justificação se opõe às consequências do neoliberalismo e a tendências da globalização que impedem a vida dos seres humanos com seus mecanismos de exclusão;
— que haja urna penetração do documento no cotidiano da vida das Igrejas; — que seja formulado um comunicado à imprensa;
— que o documento seja objeto de estudo das escolas de teologia; — que se realize um novo seminário em março de 1997, para exame do texto definitivo;
— que haja uma tradução exata para o português.
O clima dos estudos no seminário foi marcado pelo sentimento de que estamos vivendo um novo tempo do movimento ecumênico. Isto está pedindo de todos a docilidade para ouvir o que o Espírito diz às Igrejas e prontidão para executar as múltiplas tarefas que virão. Que Deus nos ajude!
Pastor Huberto Kirchheim - Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Dom Ivo Lorscheiter - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Setor Ecumenismo
Veja:
Doutrina da Justificação por Graça e Fé
Apresentação — Pastor Huberto Kirchheim
Apresentação — Dom Ivo Lorscheiter
Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação
Declaração conjunta da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica Romana sobre a doutrina da justificação — Dom Aloísio Lorscheider
Doutrina da justificação — no limiar de um acordo ecumênico? - Pastor Dr. Gottfried Brakemeier
A doutrina da justificação por graça e fé em Martim Lutero - Pastor Dr. Silfredo B. Dalferth
A Comissão Mista Nacional Católico-Luterana — Pastor Bertholdo Weber
Seminário Teológico Luterano-Católico sobre a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação — Parecer — Pastor Huberto Kirchheim e Dom Ivo Lorscheiter
Estudos bíblicos sobre o tema igreja e justificação - Prefácio
Estudo 1 - Justificação e Igreja
Estudo 2 - Jesus Cristo como único fundamento da Igreja
Estudo 3 - A Igreja do Deus Triúno
Estudo 4 - A Igreja como recebedora e mediadora da salvação
Estudo 5 - A missão e comunhão da Igreja