DECLARAÇÃO FINAL
Ministério e Ministérios Eclesiais
Seminário Bilateral Católico-Romano/Evangélico-Luterano
07-08 de setembro de 2000
Local: Casa Matriz de Diaconisas — São Leopoldo — RS
Motivados pelo desejo de dar continuidade ao diálogo ecumênico e à aproximação fraterna entre as Igrejas, representantes da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e da Igreja Católica Apostólica Romana se reuniram em São Leopoldo — RS, nos dias 07 e 08 de setembro de 2000, num Seminário conjunto sob o tema Ministério e Ministérios Eclesiais.
Ao final do trabalho, aprovaram o seguinte relatório conclusivo, que tem por finalidade também submeter à consideração de outras irmãs e irmãos algumas reflexões e de suscitar novos aprofundamentos.
Introdução
O nosso Senhor Jesus Cristo, através do seu ministério, particularmente pela sua Paixão e Ressurreição, gerou uma comunidade de discípulos, à qual confiou a missão de continuar sua obra. Como o Pai me enviou, assim eu envio a vós (Jo 20.21). Esta comunidade é toda ela profética e sacerdotal. Ela é, portanto, coletivamente portadora de um ministério que Cristo lhe confiou.
Como o mesmo Cristo elegeu, entre os discípulos, os doze e chamou outros para tarefas especificas, assim também, na Igreja, Cristo suscita diversos ministérios específicos, confiando-os a pessoas — homens e mulheres — que se dedicam ou se esforçam (lTs 5.12) pelo bem da comunidade, com vista ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo (Ef4.12).
Entre esses ministérios alguns representam mais de perto a Cristo, o Bom Pastor, prolongando seu cuidado amoroso e solícito para com as necessidades espirituais do povo, pregando sua Palavra e celebrando os seus sacramentos.
Pontos de convergência
Refletindo sobre a compreensão e a prática dos ministérios em nossas Igrejas, constatamos muitos pontos comuns.
Eles provêm, antes de tudo, do fato de que todos procuramos orientar a prática do ministério a partir da vontade de Cristo, que o instituiu e o confiou à Igreja.
Também nos aproxima e nos une a Declaração Conjunta Católico-Romana/Evangélico-Luterana sobre a Justificação por Graça e Fé, a qual ressalta a primazia da graça sobre as instituições humanas que devem servi-la e expressá-la.
Estamos convictos da importância essencial de entender todo o ministério como serviço, embora sabendo que desde os primeiros discípulos ele está exposto à tentação de se transformar em meio de exercer o domínio ou o poder (cf. Mc 10, 42- 45; Lc 22, 24-27). Em outras palavras, o ministério é sempre diakonia, e com tal espírito deve ser exercido, qualquer que seja o carisma que o anima (cf. Rm 12, 6-8; 1Cor 12, 28-30).
O espírito de serviço não é apenas a intenção interior que inspira o ministro, mas se exprime num estilo de liderança que anima e torna ativa e co-responsável toda a comunidade. Uma liderança que deixasse a comunidade cristã em atitude meramente passiva ou reprimisse sua liberdade não seria condizente com o papel do ministro, servidor do Evangelho, e não corresponderia à vontade de Cristo e da Igreja.
O ministério ordenado, como o de pastores, presbíteros e bispos, está a serviço do sacerdócio comum dos fiéis ou sacerdócio batismal.
O ministro ordenado, por sua vez, é chamado a exercer, antes de tudo, seu sacerdócio batismal e a viver plenamente sua vida cristã. Na escolha dos ministros e pastores a Igreja terá o cuidado de eleger, formar e acompanhar pessoas que revelam, antes de mais nada, ter recebido o dom da fé e a capacidade de tornar visível entre os irmãos e as irmãs a unidade na fé, pelo acolhimento da Palavra de Deus e a concórdia na confissão da fé.
O ministério confiado aos pastores (presbíteros ou bispos) não é uma mera função de liderança ou administração na comunidade, mas um sinal ou representação do Cristo que convoca e reúne sua Igreja. Ao mesmo tempo, o ministério é um elemento necessário e constitutivo dessa mesma Igreja, enquanto o ministro é sinal da união dos fiéis que se reconhecem irmãs e irmãos na mesma fé e amor.
Pontos e questões em aberto
Após concluir que existem aspectos fundamentais de convergência na apreciação do ministério na Igreja e em seus desdobramentos ministeriais específicos, o Seminário destacou pontos e questões que permanecem em aberto. Estes deverão ser objeto de um maior aprofundamento no futuro, na confiança de uma compreensão fecunda e dialogal.
Ao passo que existe um consenso básico no tocante à necessidade do rito de ordenação para o ministério especial e ao processo regrado e instituinte em que está inserido, há ainda divergências relativas à compreensão ao sentido profundo do rito. Os católicos romanos colocam sua ênfase na sacramentalidade da ordenação, enquanto que os evangélicos luteranos não a vinculam a uma promessa direta e específica da graça, embora a entendam como incumbência, bênção e envio de caráter vitalício.
Ao passo que existe um consenso básico quanto ao fato de que o ministério ordenado é uma forma de expressar a autoridade de Cristo na Igreja e a unidade requerida por ela, permanecem diferenças de ênfase no tocante ao exercício e ao sentido dessa autoridade.
Ao mesmo tempo que existe um consenso básico no tocante à necessidade de um ministério de supervisão ou direção na Igreja, que pode assumir a forma do episcopado na sucessão da fé apostólica (ou, inclusive, na sua sucessão histórica), permanecem diferenças de ênfase no tocante ao caráter conferido à indiscutível dignidade deste ministério específico de serviço. A ênfase católica romana acentua que o ministério de supervisão (episcopado na sucessão histórica) possui sua dignidade específica a partir de uma diferenciação diante do presbiterato. A ênfase evangélica luterana recai na dignidade específica do ministério de supervisão a partir de seus deveres e funções adicionais de serviço.
Outros pontos e questões em aberto dizem respeito aos temas do ministério ordenado feminino e do ministério petrino. Como eles ainda não foram objeto de suficiente aprofundamento, serão incluídos na próxima seção. Adiantou-se, porém, que são temas inevitáveis e necessários na agenda de uma compreensão mais profunda e dialogai do ministério na Igreja.
Ao passo que esses pontos e questões em aberto não são considerados obstáculos intransponíveis num processo futuro de convergência para o reconhecimento mútuo dos ministérios, eles são recomendados para mais estudo em comum.
Os próximos passos
Em relação a perspectivas futuras, o Seminário Bilateral recomenda a continuidade, com uma certa urgência, do diálogo doutrinal e teológico sobre o ministério na Igreja. Há sinais, na vida de nossas duas famílias da fé, de que ele pode progredir em termos teóricos e práticos, e que ambas as dimensões são importantes.
Como centro da preocupação teológica com a doutrina do ministério na Igreja, recomenda-se para o futuro uma ênfase comum na discussão sobre o ministério ordenado feminino e o ministério petrino, como já se afirmou na última seção.
Além disso, recomenda-se, na esteira de um tratamento destes dois assuntos e em conjunto com eles, um estudo sobre possibilidades e condições concretas para o reconhecimento mútuo de nossos ministérios ordenados.
Com confiança em Cristo, que nos doou o ministério que efetivamente já existe em nossas Igrejas, temos consciência de que um avanço ainda maior e ininterrupto na prática da comunhão eclesial, acompanhada pelo Espírito Santo, poderá levar-nos ao horizonte que já vislumbramos: o pleno reconhecimento mútuo de ministérios na unidade multiforme da Igreja.
Veja:
Palavra introdutória da Igreja Católica Romana - Dom Ivo Lorscheiter
Saudação da Presidência da IECLB - P. Dr. Walter Altmann
Teologia do Episcopado. Um ponto de vista católico - Pe. Alberto Antoniazzi
Algumas ideias sobre teologia do ministério. Especificidades luteranas na convergência ecumênica com a Igreja Católico-Romana - Luís H. Dreher
Declaração Final