5. A missão e comunhão da Igreja
Oração de abertura
Senhor Jesus Cristo,
tu fundaste tua Igreja
como uma comunhão mundial
porque no reino de teu Pai todas as nações
vivem para sempre como a comunhão dos santos
e daqueles que foram tomados perfeitos
e se destinam a louvar o Deus triúno em alegria incessante.
Ajuda a tua Igreja em nossa era a cumprir
seu testemunho e ministério para o mundo,
e ajuda-nos, como cristãos católicos e luteranos,
a descobrir sempre mais formas
de agir juntos nessas tarefas.
Isto pedimos de ti,
Filho do Pai,
através do Espírito Santo.
Amém.
Introdução
Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio, diz o Jesus ressurreto a seus discípulos (Jo 20,21). Todos os cristãos, e a Igreja como um todo, participam dessa comissão missionária. Mas esse comissionamento é gravemente atrapalhado pelas divisões das Igrejas, que, ao evangelizar as nações, não só trilham caminhos separados, mas muito frequentemente até realizam sua atividade missionária em concorrência mútua.
Porém o comissionamento da Igreja tem um único alvo: consumação no Reino de Deus, cujo despontar foi proclamado por Jesus. Assim, a Igreja não está aí para seu próprio benefício, mas serve seu Senhor. Sua tarefa é ser sinal e instrumento de seu amor salvador para com o mundo inteiro, mesmo as pessoas que estão além das fronteiras da própria Igreja. Na situação atual do mundo não deveríamos estar sempre buscando oportunidades de cooperação ecumênica?
Passagem bíblica (Ap 21.1-3,5a,22-27)
Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para seu esposo. Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: 'Eis o tabernáculo de Deus com os seres humanos. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles.' ... E aquele que está assentado no trono disse: 'Eis que eu faço novas todas as coisas.' ... Não vi santuário na cidade, porque o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro. A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque nela não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações. Nela nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro.
Explicação
Esta passagem é o quadro final dos últimos dias que João, o Vidente, nos apresenta: a consumação da Igreja no reino de Deus. Esse é o futuro para o qual vivem todas as gerações da Igreja, o alvo de todo o seu trabalho missionário no mundo: todas as pessoas, todas as nações, a criação inteira devem tomar parte nessa consumação no reino de Deus.
Inumeráveis pessoas confluem lá. A nova Jerusalém não é o reino humano e terreno sempiterno. Esse reino de Deus não é simplesmente a soma de todas as gerações nem a reunião escatológica de todas as diferentes Igrejas confessionais. Ele será, antes, uma pátria (Fp 3,20) criada de novo por Deus e que podemos esperar como seu dom final para aqueles que têm em Jesus Cristo seu redentor e Senhor.
Mas não haverá templo na nova Jerusalém, assim como não haverá necessidade de pregação e sacramentos. O próprio Deus triúno realmente estará bem no centro dessa cidade. E sua glória será a luz que ilumina toda a nova cidade e torna radiosa toda a vida nela existente.
Em sua peregrinação terrena a Igreja já é uma realidade escatológica: é a aparição antecipatória da comunhão dos santos; e cada ato de culto realizado na terra é ligado, através da presença sacramental de Cristo, ao culto celestial da comunidade escatológica (cf. Fp 2,9-11; Ap 4-5).
A missão da Igreja é anunciar a plenitude da salvação que nos foi prometida. O período para cumprir essa missão é aqui e agora na história terrena. E porque as divisões existentes na Igreja são o mais grave empecilho para essa missão, não devemos adiar o acordo ecumênico para os últimos dias. Trata-se de uma questão de preocupação presente para nós.
Importância ecumênica
O que está implicado na missão da Igreja? Um elemento indispensável dela é a missão a todas as nações (Mt 28,19-20). Ela é e permanece uma tarefa central, mesmo na atualidade. Os diálogos entre as religiões do mundo certamente são importantes, assim como o é a cooperação de nossas Igrejas nas novas tarefas de construção de uma sociedade mundial multicultural. Porém isso não exclui o fato de que nossa comissão é cuidar para que todas as pessoas, até o mais afastado rincão da terra, ouçam o evangelho de Deus e recebam a oportunidade de crer no Deus triúno! Não podemos substituir a missão mundial por desenvolvimento; o diálogo e a tolerância não são substitutos do testemunho pessoal da Boa Nova da fé cristã. Este é o exato lugar em que surgem boas oportunidades de convergência ecumênica de todos os que estão envolvidos na missão e na fundação de novas jovens Igrejas.
Mas uma nova motivação para a evangelização também faz parte da missão da Igreja atualmente naqueles países em que muitas pessoas perderam contato com a Igreja. Em muitos lares e famílias, nos corações e cabeças de muitas pessoas há muito já morreu uma prática digna de crédito da fé cristã. Esse desenvolvimento está em curso há gerações, mas hoje seus efeitos tomaram-se disseminados; como resultado disso, em nossos países do Ocidente a presença da Igreja e da fé na sociedade diminuiu significativamente.
Historicamente, as divisões da Igreja desempenharam um papel crucial nesse desenvolvimento. Em consequência, há necessidade hoje de uma cooperação ecumênica entre nossas Igrejas, a fim de reverter esse quadro eficazmente.
Essa cooperação deve ser digna de crédito. Em outras palavras: precisa ficar óbvio que as diferentes Igrejas realmente querem tal cooperação e que lhe dão prioridade máxima. A cooperação não deve se restringir àquelas áreas parciais em que há muito já se tornou um axioma. Visto que todas as atividades da Igreja partem do culto e derivam força da presença de Cristo em palavra e sacramento, a comunhão plena no culto é intrínseca à credibilidade da cooperação ecumênica. O verdadeiro alvo do diálogo teológico entre nossas Igrejas é abrir caminhos nessa direção. Essa unidade visível sempre foi e continua sendo o alvo último do diálogo internacional entre a Igreja Católica Romana e a Comunhão Luterana, diz a primeira sentença do Prefácio do documento de estudo Igreja e justificação. Enquanto que os obstáculos para uma comunhão plena no culto não tiverem sido eliminados, o poder de evangelização de nossa Igreja será crucialmente prejudicado. A Igreja também é desnecessariamente enfraquecida pelo fato de que as foimas de culto comum que já são possíveis ainda não são usadas o suficiente por congregações individuais, em especial a oração comum pela urgentemente necessária renovação das Igrejas e a intercessão comum pelos muitos problemas e aflições de nosso mundo.
Trecho do estudo católico romano-luterano Igreja e justificação
Como recebedora e mediadora da salvação, a Igreja tem seu fun-damento duradouro no Deus triúno. Seu alvo último é a consumação no reino de Deus. Deus criará seu reino eterno e universal de justiça, paz e amor, ele mesmo realizará seu próprio reinado definitivo e a salvação. Deus escolheu e estabeleceu a Igreja por graça nesta era e para esta era, para que ela proclame seu Evangelho a todas as criaturas (cf. Mc 16,15), o adore sem cessar e o louve pelas 'riquezas de sua graça' (cf. Ef 1,3-14), e, em testemunho e serviço, tome conhecidas a todas as pessoas sua benignidade amorosa e bondade de coração (cf. Tt 3,4-6), até que Ele próprio habite finalmente em nosso meio e faça novas todas as coisas (cf. Ap 21,3-5) (n° 243).
Meditação
Num sonho, um jovem entrou numa loja. Atrás do balcão estava um anjo. O jovem, apressado, perguntou-lhe: O que o Senhor vende? O anjo respondeu polidamente: Tudo o que você quiser. O jovem começou a fazer uma lista: Neste caso, quero o fim de todas as guerras no mundo, melhores condições para os grupos sociais marginalizados, a eliminação das favelas na América Latina, trabalho para os desempregados, mais comunhão e amor na Igreja e... e... O anjo o interrompeu: Desculpe, jovem, você me entendeu mal. Nós não vendemos frutos. Só vendemos sementes.
(Fonte: Willi Hoffsümmer, 255 Kurzgeschichten, Mainz, 1981, n° 199).
Perguntas para discussão
— Em que atividades comuns de nossas duas confissões a missão da Igreja se torna evidente? Que outras atividades poderia haver, por exemplo na área da diaconia e trabalho caritativo, nas escolas ou na educação de adultos?
— Nós cooperamos no que é ecumenicamente possível e de fato desejável, por exemplo, em cultos de oração regulares (não apenas uma vez ao ano, mas quem sabe uma vez por mês!), em grupos ecumênicos de estudo bíblico nas congregações, para trocar ideias e aprender uns dos outros não só o ensinamento e ordem de nossas Igrejas, mas também os tipos diferentes de devoção? Há reuniões regulares dos pastores/padres e instâncias diretivas de nossas congregações?
— Nós ainda fazemos concorrência mútua atualmente? Em que áreas e de que maneira? A concorrência promove o ecumenismo ou o prejudica e atrapalha nossa missão comum?
— Existem atividades conjuntas de natureza missionária, por exemplo campanhas conjuntas em empresas industriais, em atividades de lazer ou para férias ou feriados? Existem esforços conjuntos para encontrar novas formas de apresentar a fé cristã e o estilo de vida cristão a pessoas sem ligação com a Igreja? Existem festas congregacionais conjuntas ou festas distritais organizadas em conjunto, nas cidades, festas que poderiam atrair pessoas que, de outro modo, não têm contato com a Igreja? Que contribuição damos à disseminação do cristianismo naqueles países em que o Evangelho do Senhor ainda não atingiu todo o mundo?
— Quão a sério levamos a promessa de consumação escatológica, prestação de contas pessoal a Deus, vida eterna e convivência na nova cidade de Deus? Na celebração de nossos cultos sentimos até certo ponto que em nossos grupos, por vezes pequenos, não estamos sozinhos, mas ligados aos anjos e santos da comunidade cristã escatológica?
Oração de encerramento
Santo Deus,
tu és o centro de toda a tua Igreja
na terra e no céu.
Tu és o sol deste mundo e do mundo vindouro.
Em ti está a fonte de toda a vida verdadeira,
e em tua luz vemos a luz.
Nós te louvamos,
nós te agradecemos.
Procuramos te obedecer e servir.
Envia-nos ao mundo
iluminados/as por tua vontade,
sustentados/as por tua misericórdia,
comprometidos/as com a tua vontade,
abençoados/as por tua promessa.
Mostra-nos novos caminhos rumo ao testemunho comum
aqui onde estamos.
E capacita-nos a contribuir
para ganhar pessoas para a fé em ti.
Para isso, dá-nos a ajuda de teu Espírito
e a diversidade de teus dons.
Pedimos-te, nosso Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo.
Amém.
Estudos Bíblicos:
Estudo 1 - Justificação e Igreja
Estudo 2 - Jesus Cristo como único fundamento da Igreja
Estudo 3 - A Igreja do Deus Triúno
Estudo 4 - A Igreja como recebedora e mediadora da salvação
Estudo 5 - A missão e comunhão da Igreja
Veja mais:
Doutrina da Justificação por Graça e Fé
Apresentação — Pastor Huberto Kirchheim
Apresentação — Dom Ivo Lorscheiter
Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação
Doutrina da justificação — no limiar de um acordo ecumênico? - Pastor Dr. Gottfried Brakemeier
A doutrina da justificação por graça e fé em Martim Lutero - Pastor Dr. Silfredo B. Dalferth
A Comissão Mista Nacional Católico-Luterana — Pastor Bertholdo Weber