3. A Igreja do Deus Triúno
Oração de abertura
Ó maravilhoso, triúno Deus,
tu és o único Deus, mas não um Deus absorto consigo mesmo;
tu és a comunhão íntima
de Pai, Filho e Espírito Santo.
Tu és o único Deus em três pessoas,
que não procuram ser independentes umas das outras,
mas procuram viver umas para as outras,
de modo que o amor é tua íntima natureza
que dá de si ilimitadamente.
Neste amor tu, Deus Pai, amaste tua criação
antes de lhe teres dado existência;
teu amor foi consumado na encarnação,
paixão e ressurreição de teu Filho, Jesus Cristo.
Teu Espírito Santo, derramado sobre os discípulos,
nos congrega numa família viva.
Em ti, Cristo, nosso Senhor,
tua Igreja pode viver, e pode tomar parte
em tua comunhão com o Pai no Espírito Santo.
Capacita-nos a apreender agradecidamente esse mistério na fé
e fazê-lo produzir efeito em nossa comunhão mútua.
Amém.
Introdução
A Trindade da Divindade é o primeiro dogma que um concílio da Igreja toda endossou (Credo Niceno-Constantinopolitano, 381). Ele tem sido de importância fundamental ao longo de todos os séculos e para todas as Igrejas cristãs. Em todo o conflito existente entre católicos e luteranos essa doutrina nunca foi controvertida. Ainda assim, no diálogo ecumênico entre as Igrejas, a importância da comunhão de Deus Pai, Filho e Espírito Santo para uma doutrina comum da Igreja só foi descoberta recentemente. A Igreja Ortodoxa deu importantes contribuições para isso; dentro da Igreja Católica Romana a doutrina da Igreja como koinonia (communio) ocupa um lugar central desde o Segundo Concílio Vaticano; e a Igreja Luterana deu uma contribuição crucial a partir da teologia de Maninho Lutero.
Passagem bíblica (1 Co 12.4-7)
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando a um fim proveitoso.
Importância ecumênica
A importância ecumênica é óbvia: por um lado, a unidade da Igreja faz parte de sua natureza, como oramos no Credo. A divisão da Igreja é um escândalo que precisa ser superado. Por outro lado, a unidade cristã certamente não exige uniformidade na maneira como é expressa, mas se desdobra numa diversidade abundante. Também isso faz parte de sua natureza espiritual. A unidade não é dominação de um pelo outro, mas sim trabalhar juntos no amor solícito de Cristo. E a diversidade da vida na Igreja é completamente diferente de qualquer pluralismo democrático, para o qual o elo de conexão é, na melhor das hipóteses, a tolerância. Pelo contrário, o espírito de diversidade que atua na Igreja é o Espírito do amor divino.
Trecho do estudo católico romano-luterano Igreja e justificação
A Igreja é a comunhão de crentes cuja existência se deve ao Deus Triúno. Como tal, ela é uma realidade humana criada por Deus. Que a Igreja esteja ancorada na vida divina do Deus Triúno não nega, com isso, sua dimensão humana nem abre o caminho para a presunção eclesial. Mas exclui de fato uma compreensão de Igreja que tenda a considerá-la meramente ou mesmo primordialmente um fenômeno social humano. Deus permite que a Igreja tome parte na vida divina triúna; a Igreja é o povo do próprio Deus, o corpo do próprio Cristo ressurreto, o templo do Espírito Santo. A unidade ou comunhão (koinonia/communio) da Igreja comparte a unidade do Deus Triúno e a reflete (n° 49).
Perguntas para a discussão
— Quanto à relação entre unidade e diversidade: o que você associa com a palavra unidade e com o termo diversidade? Em sua esfera pessoal, onde você constatou que a diversidade é enriquecedora? Em que áreas a diversidade lhe parece molesta ou até perigosa? Ilustre sua opinião por meio de um exemplo concreto.
— Ao seu ver, onde residem as chances para a unidade na diversidade? Onde estão os limites da diversidade permissível? Ilustre a sua opinião por meio de um exemplo concreto.
— Unidade e diversidade na Sagrada Escritura: na opinião do apóstolo Paulo, que atitudes são necessárias para a unidade (p. ex., a partir de Ef 4,16 ou 1 Co 12,12-13a)? Como Paulo encara a relação entre unidade e diversidade? Quais as consequências disso para o movimento ecumênico hoje?
— Discernindo os espíritos: hoje em dia falamos muitas vezes do espírito de um grupo ou de um povo. Também se diz muita coisa atualmente sobre espíritos. Diferentemente disso, o que querem dizer as afirmações bíblicas e das Igrejas sobre o Espírito de Deus?
Oração de encerramento
Triúno Deus, tu dás à tua Igreja muitos dons diferentes
nos quais atua o Espírito uno:
concedes muitos serviços diferentes
nos ministérios da Igreja, bem como
no sacerdócio de todas as pessoas batizadas;
em todos esses serviços atua teu amor solícito.
Ativas os muitos dons diferentes
na comunidade de tua Igreja
com o mesmo poder
com que ressuscitaste teu Filho da morte
e levaste seu amor a uma vitória sempiterna.
Confiamos-te tua Igreja em seu estado de divisão
e pedimos que a conduzas rumo à unidade
que ela tem em ti e que tem de readquirir em ti.
Confiamos no poder do teu amor
que superou todo o pecado humano
e que supera todas as nossas falhas, omissões e culpa.
Em ti, ó Deus uno, Pai, Filho e Espírito Santo,
confiamos para todo o sempre.
Amém.
Estudo 1 - Justificação e Igreja
Estudo 2 - Jesus Cristo como único fundamento da Igreja
Estudo 3 - A Igreja do Deus Triúno
Estudo 4 - A Igreja como recebedora e mediadora da salvação
Estudo 5 - A missão e comunhão da Igreja
Veja mais:
Doutrina da Justificação por Graça e Fé
Apresentação — Pastor Huberto Kirchheim
Apresentação — Dom Ivo Lorscheiter
Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação
Declaração conjunta da Federação Luterana Mundial e da Igreja Católica Romana sobre a doutrina da justificação — Dom Aloísio Lorscheider
Doutrina da justificação — no limiar de um acordo ecumênico? - Pastor Dr. Gottfried Brakemeier
A doutrina da justificação por graça e fé em Martim Lutero - Pastor Dr. Silfredo B. Dalferth
A Comissão Mista Nacional Católico-Luterana — Pastor Bertholdo Weber
Seminário Teológico Luterano-Católico sobre a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação — Parecer — Pastor Huberto Kirchheim e Dom Ivo Lorscheiter
