Uma crônica sobre NESCO
Por Luis Stephanou*
Hoje (17 de janeiro) comento um pouco sobre o lugar que estamos ocupando para fazer acontecer o Fórum. Chama-se NESCO Ground. Para chegar lá, desde o hotel, percorremos mais ou menos sete quilômetros. Um quilômetro aqui não é igual a um quilômetro no Brasil. Ontem, por exemplo, estávamos voltando razoavelmente bem quando entramos num engarrafamento. O motivo? Algumas vacas passavam pela avenida e uma resolveu dar uma paradinha... Então, tudo pára até a sagrada vaca seguir seu caminho.
Mesmo sem vacas, o trânsito parece oscilar entre o terrível e o caótico. A quantidade de coisas rodando é imensa. Destaque especial para os riquixás, uma espécie de triciclo que leva até três passageiros no banco de trás. Depois de dois dias no trânsito de Mumbai é impossível reclamar do trânsito de qualquer cidade brasileira.
E o NESCO? Imaginem o seguinte quadro: uma enorme fábrica abandonada subitamente recebendo cerca de 100 mil pessoas de mais de 150 países. Imaginem que a organização não conseguiu reunir muito dinheiro para, ao menos, dar uma maquiada no espaço. Pronto: aí temos o local do Fórum! Nos pavilhões (enormes!) foram montadas as principais salas de conferência.
O maior de todos deve comportar pelo menos uma 8 mil pessoas sentadas. Este pavilhão ainda foi dividido, sendo que metade do espaço é ocupado por estandes (talvez uns 130). Há pelo menos outros três locais, só um pouco menores. Todos são sujos, com poeira e restos de terra acumulados - quando chego no hotel à noite, parece que fiquei o dia inteiro perambulando pela rua.
O mais genial são as salas para seminários e oficinas que, em geral, comportam algo em torno de 120 ou 150 pessoas. Acontece que estas salas não existiam antes. O que os indianos fizeram? Construíram as salas! Como, se não tinham dinheiro? Simples: postes de madeira e depois paredes, teto (reforçado com tramas de madeira) e piso de juta, um tecido bem grosso e natural daqui. Baratíssimo! Ainda conseguiram instalar luz e, algo fundamental, ventiladores em todas as salas. Entre o teto e as paredes, amplas aberturas ajudam na circulação de ar.
Mais de 100 salas foram montadas deste jeito. Como nesta época do ano não chove, não tem problema de elas desmancharem. A única falha é que não há isolamento acústico entre uma e outra, pois estão bem próximas. Mas acho que isso faz parte da Índia: mais de um bilhão de indianos convivendo em menos de um terço da área do Brasil acaba com qualquer isolamento acústico.
No mesmo esquema da juta, construíram dois cinemas para o Fórum. O cinema é uma das grandes paixões dos indianos e os números impressionam: eles produzem, por ano, mais ou menos 600 filmes (metade aqui em Mumbai). Comparando com o Brasil, que anda na faixa dos 40 por ano... Todos os dias há exibição de filmes alternativos do mundo inteiro por aqui.
O NESCO é ocupado diariamente por uma enorme, colorida e animada massa de participantes. Todos os dias vejo cenas que realmente são admiráveis e dá vontade de contar. Mas, aí, já é uma outra história...
*Assessor programático da Fundação Luterana de Diaconia