Conta uma lenda que um monge passava por sobre uma ponte e, olhando para a água, viu um escorpião lutando valorosamente para não se afogar. Ele não teve dúvidas: pegou um galho e o estendeu em ajuda ao escorpião. Este subiu pelo galho e, quando alcançou a mão do monge, o picou. Assustado, o monge balançou o braço e o escorpião voltou a cair na água. Estendendo novamente o galho, o monge salvou o escorpião pela segunda vez. Um senhor, que de longe observava tudo, se aproximou e questionou o monge dizendo: “como o senhor é ingênuo. Salva o escorpião e ele lhe retribui a gentileza com uma picada.” “Não”, responde, o monge, “não sou ingênuo, apenas é preciso entender que cada um agiu conforme sua natureza: a do escorpião é picar, a minha é salvar.”
A Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE) vem para reforçar nas pessoas cristãs esta vocação para a salvação, para o cuidado, para a partilha, para com os valores de vida proclamados no Evangelho e denunciar um sistema econômico que tem como objetivo o lucro pelo lucro. Como é triste ver pessoas, empresas e governos gananciosos, inescrupulosos. Como é bonito ver pessoas, empresas, governos, comunidades e grupos ecumênicos organizados, ensaiando a partilha da palavra, da oração e do pão.
A união das pessoas cristãs é importante para a denúncia ecoar e descortinar a ganância e o egoísmo. Que as vozes unidas ecoem de norte a sul, de leste a oeste e encontrem acolhida nos ouvidos das pessoas sofridas, das pessoas de bem e das pessoas que detém as ferramentas sociais e políticas para possibilitar a transformação da triste realidade de nosso país.
Sejamos nós, cristãos luteranos, os primeiros a se envolver nesta campanha. Uma vez pela causa, nobre em si, pois acolher o necessitado não é um favor, mas um mandamento. Outra vez porque a unidade é um imperativo (Jo 17.21; 1 Co 1.10). Dialogar com o diferente acrescenta para a própria confessionalidade, em maturidade e respeito pela expressão de fé do outro, em tolerância religiosa – contribuindo para uma cultura de paz – e expressa melhor a diversidade do dom de Deus.
Que todos os cristãos e cristãs possam perceber nesta CFE um espaço para a vivência da vocação e da aproximação com o diferente que também quer traduzir em obras/cuidado a fé que o move (Tg 2). Deus abençoe cada iniciativa.
P. Marcos Jair Ebeling
Campinas/SP