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Proposta de Liturgia para o Culto do Dia dos Pais

Prédica

09/08/2009

Culto no Dia dos Pais – 09.08.2009

Acolhida: Benvindos a esse culto. Deus nos serve com sua palavra (e sacramento). Nesse dia dos pais, vamos buscar inspiração num personagem biblico: Elias, um profeta de Deus, milagreiro, vigoroso e combativo. Mas, hoje vamos encontrá-lo cansado e decepcionado, com vontade de morrer. Será aquela sensação de dever cumprido que faz o profeta perguntar pelo sentido de continuar vivendo? Será que o profeta foi acometido pela crise da meia idade? Os pais incorporam a força, a estabilidade, o vigor. Mas, também chega o tempo da fraqueza, o buraco da aposentadoria. Inspirados em Elias, vamos nos dedicar hoje aos pais em nossa comunidade, refletir sobre o seu papel, sobre suas fraquezas e orar por eles.

Pedido de perdão: Deus Todo-Amoroso, como comunidade vimos para diante de Ti confessar que temos esperado muito de nossos pais. Não temos nos dado conta de que também são seres humanos de carne e osso, com periodos de fragilidade, arqueados sob suas responsabilidades. Reconhecemos que a expectativa da sociedade sobre o seu papel os desumaniza. Até mesmo o fato de Te invocarmos como Deus e Pai faz pesar sobre eles uma retroprojeção que eles não têm condições de realizar. E, então, estranhamos as consequências indesejadas que isso provoca. Pedimos perdão pelo sobrepeso que lhes impomos. Queremos tê-los como companheiros, literalmente, aqueles que repartem o pão conosco, concedendo-lhes que cumpram suas tarefas e repartam conosco também suas fraquezas e angústias.

Oração de Coleta: Deus misericordioso, que a Elias te revelaste - não em relâmpagos e trovões estrondosos, mas sim - numa brisa leve, e que em Jesus assumiste a frágil humanidade em carne e osso, nós Te pedimos olha também por nós, nestes dias que correm e dá-nos, por Tua palavra, consciência e sabedoria, para que organizemos a nossa vida em familia, comunidade e sociedade de tal forma que os pais possam cumprir o seu papel sem medo e com alegria e Tu, enfim, sejas glorificado pela vida de cada um deles. É o que Te pedimos por Jesus Cristo, Teu Filho, que conTigo e com o Espirito Santo vive e reina, de eternidade a eternidade.

Leituras: Sugiro manter a leitura, prevista para o domingo de hoje, do Evangelho de Joao 6.35, 41-51 (sobretudo, se houver celebração da eucaristia – pão da vida) e substituir a leitura da epístola por Efésios 6,1-4. A leitura prevista de Efesios 4,25-5,2 também pode se aplicar aos pais e deve ser mantida, se a pregação tiver mais o acento de exortação a santidade.

Pregação:

Querida Comunidade de Jesus Cristo, caros pais!

Elias foi para a fé judaica o profeta mais significativo depois de Moisés. Até mesmo Jesus foi interpretado como sendo Elias redivivo. E não é pra menos! Ele viveu e atuou ao redor de 850 anos antes de Cristo. Foi protagonista de muitas lutas e batalhas. Ajudou a pobre viúva de Sarepta a sobreviver não deixando que lhe acabasse a farinha e o azeite, ressuscitou o seu único filho que era a sua segurança na velhice. Enfrentou o rei Acabe que queria tomar a terra do pobre Nabote, para fazer um jardim do seu palácio, enfrentou a mulher do rei, Jezabel que quase consegue levá-lo a execução. Previu uma devastadora seca, durante a qual foi alimentado por corvos. Enfrentou um severo processo de idolatria a que todo o povo de Deus estava sendo submetido, teve que testemunhar sozinho o Deus verdadeiro contra 450 profetas de Baal. Sua vitória foi contundente. Mas, a chuva que tardava lhe consumia as energias e a confiança. Finalmente, também veio a chuva. Mais uma vitória contra Baal, considerado o manda-chuvas. Deus mostrou seu poder sobre o ídolo. Mas, Elias cansou. Jezabel ameaçava sua vida. Elias resolveu fugir para o deserto. Nesse ponto leio os versos de 1 Reis 19, 4-8, o texto base para a pregação de hoje:

Leitura: 1 Reis 19,4-8.

Elias está no prego. Ainda por cima decepcionado. Depois de todo o seu empenho, seu engajamento por Deus contra tudo e contra todos, contra o poder do reinado ele tem que fugir, ele corre por sua vida, ele tem aquela sensação de que não é melhor do que seus pais foram, aquela pergunta insistente: de que valeu tudo isso, para o que serve. Isso não tem sentido. Elias experimenta o poder de Deus, realiza grandes feitos e agora vem a queda, a sensação de inutilidade, de falta de sentido, da solidão. Nada mais resta do que querer a morte.

Nessa hora somos lembrados dos pais. Desde pequenos meninos, os futuros pais já são treinados a serem antes de tudo fortes. “Homem que é homem não chora!” São ensinados a serem duros, firmes e até mesmo agressivos, se necessário. Homens são admirados quando ambiciosos, quando se arriscam. Ambição e competitividade passam a ser consideradas virtudes quando pais de familia as demonstram, para garantir o sustento de esposa e filhos. Até mesmo falta de escrúpulos é tolerada quando empregada em favor da família. Pais travam grandes lutas para melhorar as condições de vida. O fracasso está sempre rondando. O estresse está sempre presente. Quando menos os pais se dão conta, os filhos se formam, saem de casa, constituem suas familias, não são mais de sua responsabilidade. Os pais se aposentam, ainda querem curtir um pouco a vida... e a sensação do dever cumprido de repente vira em depressão, a saúde começa a ratear, a pessoa vai se deixando cair... e cadê o anjo para cutucar a gente, a levantar, a se alimentar, a caminhar, a mostrar que tem mais vida e mais tarefas com sentido pela frente?

Certamente cada pai tem sua história de lutas para contar. Uns tiveram grandes vitórias outros tiveram sucessos menores, outros conseguiram sustentar razoavelmente as suas familias, ainda outros, com muito esforço, conseguiram contornar maiores perdas e fracassos. Certo é que cada pai chega à meia idade, olhando para uma história de lutas e esforço, para cumprir a sua missão e o seu papel, aquilo que dele se espera na familia e na sociedade. E essa história de lutas deixou as suas marcas. Muitos que nunca ouviram os gritos de socorro do seu corpo e da sua alma, chegam a esse ponto de sua vida e são alcançados por questões não resolvidas na juventude. Muitos que não se permitiram considerar suas fragilidades, agora sentem-se ameaçados por elas. Agora, que a vida poderia ser mais leve, sem aquela grande responsabilidade, aparecem esses fantasmas não trabalhados. E todo o esforço e empenho dado, toda a energia investida para o que serviu? Os filhos estão grandes, seguem o rumo de sua vida...

A nossa sociedade, em seu mais recente processo de divisão de trabalho, coloca os seus idosos no asilo. Lucio Flores, um indigena da etnia Terena, do Mato Grosso do Sul, em visita a um lar de idosos na Alemanha, observava como um grupo de idosos realizava trabalhos manuais ao redor de uma mesa. Estavam na sala da terapia ocupacional. Todos já tinham severas limitações fisicas, alguns estavam em cadeiras de rodas. Bordavam, tricotavam ou simplesmente giravam uma manivela ou enrolavam fios. Depois de observá-los por algum tempo, Lucio Terena fez dois comentários muito interessantes: 1) Essas pessoas estão fazendo coisas, mas elas no fundo sabem que isso é apenas para ocupá-las, não tem mais um valor produtivo. O que será que essa consciência faz com eles? Será que de fato os torna mais felizes? 2) Na sociedade indígena seria inimaginável viver com idosos que têm as limitações fisicas das pessoas nesse asilo. Nossos idosos na aldeia indígena se tornam bem velhinhos, mas trabalham até o fim da vida. Não existe aposentadoria na comunidade indigena. Ninguém é isentado de fazer algo que ainda pode fazer para se sustentar ou em beneficio da comunidade. E ai arrematou, perguntando: Será que a forma de a sociedade moderna tratar os seus idosos, como aposentados, como pessoas que não tem mais valor na esfera produtiva não os degrada exatamente para tornarem-se esses velhos dependentes que temos em nossa frente? Quanto mais urbana a sociedade, parece que isso torna-se mais dramático.

A sensação de aposentado passa a ser a de um sobrante. Isso pode desembocar em depressão e vontade de morrer. As pesquisas mostram que muitos homens investidos de pesadas responsabilidades durante sua vida profissional, não duram muito tempo depois da aposentadoria. Quem teve uma vida repleta de atividades e correrias, quando pára, morre. A vida perde em sentido, não há mais forças para refazer outros sentidos, vem aquelas perguntas insistentes sobre a validade de tudo isso, a depressão passa a rondar ameaçadoramente os pensamentos e os sentimentos... é quase como Elias que se deita embaixo de uma árvore e quer morrer.

Deus continuava com Elias, mesmo sem ele sentir. Deus enviou o seu anjo, para animar Elias, refazer suas energias com comida. O anjo teve que vir uma segunda vez, para trazer comida e, dessa vez, também uma perspectiva: “o caminho te será sobremodo longo”! Elias comeu, sentiu-se revigorado e caminhou quarenta dias e quarenta noites até o monte Horebe. Durante o pernoite numa caverna, Deus lhe perguntou: “Que fazes aqui, Elias?” Essa pergunta faz Elias despejar a alma e tudo o que a oprime. Ele recorda todo o seu zelo e empenho pela causa, para cumprir a sua tarefa e, no fim, sente-se sozinho e ainda ameaçado em sua vida.

Nesse momento, Deus tem uma revelação importante a fazer para Elias. Quarenta anos o povo de Israel andou pelo deserto até chegar à terra prometida. Quarenta dias e quarenta noites Jesus jejuou e se preparou para o seu ministério. Deus pede que Elias suba o monte Horebe e observe. Sobe um forte vento, fendendo montes e despedaçando rochas, mas Deus não estava no vento. Dá um terremoto, tudo ao seu redor começa a balançar, mas Deus não estava no terremoto. Depois cai fogo ao redor, mas Deus não estava no fogo. Depois do fogo veio uma brisa leve. Elias percebeu que Deus podia estar nessa brisa e cobriu o rosto, para não vê-lo e morrer. Elias volta à caverna. Deus lhe pergunta de novo. Elias despeja novamente toda sua frustração e decepção. Deus lhe dá uma tarefa que revela o sentido de tudo pelo que o profeta se empenhou. Elias aprende que sua luta não foi em vão. Também nós podemos confiar que Deus completa no silêncio e na suavidade de uma brisa leve o nosso fazer fragmentário, para que coopere no crescimento de Seu Reino.

E para os pais aposentados, um recado bem especial: Vocês não estão aposentados da fé! Ninguém se aposenta da fé! Podemos aprender dos indígenas que as pessoas idosas são verdadeiros depósitos de experiência de vida e de sabedoria. Aposentadoria não significa, não fazer mais nada, não prestar mais para nada, ir para o estaleiro. Pelo contrário, ter uma tarefa, ter a sensação de que a gente está contribuindo para a própria subsistência, que a gente não está sendo um peso para os outros da família preenche a pessoa idosa com dignidade de vida. Nas comunidades indígenas isso ainda é muito claramente perceptível.

Talvez até alguns de vocês mais idosos já perceberam que o seu nome foi mudado para “Jaque”. Pois vêm muitos e dizem: “Ja que” tu estás aposentado, tu não poderias fazer isso ou aquilo, “já que” não estás fazendo nada não poderias assumir um cargo na comunidade, “já que” tens tempo sobrando, toparias assumir uma tarefa em beneficio da comunidade ou do municipio, da coletividade? Entre estes certamente também estão os anjos que Deus está enviando, para alimentá-los, animá-los, encorajá-los? A vida continua com sentido. Deus ainda tem missões para vocês. A comunidade não pode prescindir de nenhum de vocês e de sua experiência de vida. Venham!

E a paz de Deus que supera todo o nosso entendimento conserve os nossos corações e mentes em Cristo Jesus. Amém

Intercessão: Deus de nossos pais, Pai Todo-Amoroso. Agradecemos-TE por Tua palavra e animação. Agradecemos pelas histórias biblicas, pela história rica de Elias e por aquilo que dela podemos tirar para a nossa vida. Auxilia-nos em nossa missão profética de combater toda a idolatria moderna do consumismo, pois ele não traz a felicidade que promete. Auxilia-nos a apostar nas dimensões essenciais da vida, no compromisso social, na compreensão, na reconciliação, na justiça e na paz. Anima-nos a colocar sinais do Teu Reino que já está entre nós e a confiarmos no futuro com que vens vindo sobre nós. Assiste toda pregação do Evangelho nesse domingo. Toca os corações dos pais com a tua animação. Motiva familiares a reconhecer nos pais pessoas com deveres sim, mas também com necessidades e fragilidades. Esteja junto de nossas autoridades e de nosso povo. Dá que possamos sair dos descaminhos da corrupção e do desvario politico para trilhar novos caminhos de justica e de paz, pela brisa leve do Teu Santo Espirito. Pedimos a tua presença junto a todas as pessoas tristes, enlutadas e doentes. Dá-lhes a sensação de que estás perto e seguras a todos/as em Tua bondosa mão. E tudo o mais, reunimos na oração que Jesus nos ensinou...

Motivação para a Oferta:

O COMIN – Conselho de Missão entre Índios procura realizar a missão de Deus em solidariedade aos Povos Indígenas. Nesse trabalho de nossa igreja comunidades indígenas são auxiliadas a viver dignamente. Ao mesmo tempo, nós não-indígenas podemos aprender muito para melhorar também a nossa vida. Em 2009, pretendemos destinar a sua generosa oferta para o trabalho nas áreas da sustentabilidade, saúde e educação.

Na sustentabilidade apoiamos a recuperação e o plantio do patrimônio da humanidade, que são as sementes crioulas e plantas nativas, investimos no cultivo de hortas comunitárias e árvores frutíferas, no plantio consorciado de pinhão e palmito, na semeadura de peixes em riachos e açudes, na criação de abelhas, no melhoramento do artesanato... e, em outras sugestões que são feitas pelas comunidades indígenas.

Com isso melhoram as condições de vida e saúde das comunidades indígenas. Elas ganham mais autonomia, independência e dignidade em sua vida. Nesse trabalho nos educamos mutuamente para a maior glória de Deus.

Agradecemos a sua generosidade e solidariedade com os Povos Indígenas e lhes desejamos toda a bênção de Deus.

Elaboração: Hans Alfred Trein


Autor(a): Hans Alfred Trein
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Família
Área: Celebração / Nível: Celebração - Liturgia / Organismo: Conselho de Missão entre Povos Indígenas - COMIN
Testamento: Antigo / Livro: Reis I / Capitulo: 19 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20769
Senhor, tu és bom e compassivo, abundante em benignidade para com todos os que te invocam.
Salmo 86.5
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