Espiritualidade: nossa fé não tira férias!

01/01/2008

Ah, elas são esperadas o ano inteiro, mas, mesmo sendo um merecido descanso após um ano de trabalho e/ou estudos, algumas pessoas simplesmente não conseguem aproveitar as férias, pois sentem-se ‘culpadas’. Outras, pelo contrário, desligam-se tão profundamente, que deixam de lado a atenção à família e o compromisso com a fé. Para falar sobre ‘férias’ convidamos o P. em. Wilfrid Buchweitz, membro da Comunidade Evangélica de São Leopoldo/RS e especialmente engajado na construção de uma Comunidade no Bairro Campestre Orpheu. Participa também o P. Tiago Sacht Jaske, que estudou Teologia na FLT, em São Bento do Sul/SC, formando-se em 2005 com monografia de conclusão tratando sobre o tema ‘fé e razão’ em Martinho Lutero e Paul Tillich. Neste ano, foi enviadoao seu primeiro campo de trabalho: Paróquia Evangélica Martin Luther, com sede em Capão da Canoa/RS. Faz parte, ainda, o P. Joaninho Borchardt, formado e Pósgraduado em Ética, Cidadania e Subjetividade pela EST, em São Leopoldo/RS, atualmente representante do Sínodo Espírito Santo a Belém no Conselho da Igreja e exercendo o pastorado na Paróquia de Califórnia, em Domingos Martins/ES. Finalizamos com a Cat. Esp. Sibele Ivania Massirer, Pós-graduada em Gestão Educacional pela Faccat, em Taquara/RS, Professora de Educação Cristã no Colégio Sinodal do Salvador e na Escola Estadual de Educação Básica Gomes Carneiro, ambos em Porto Alegre/ RS, e integrante da Comissão Técnica dos Ministérios que assessora o Conselho da Igreja.


Férias sem culpa
P. em. Wilfrid Buchweitz

   Workaholic? Já ouviu? É uma das muitas palavras que emprestamos da língua inglesa. Work significa trabalho e alcoholic é alcoólico. As duas juntas caracterizam alguém que está viciado no trabalho. Como o álcool pode dominar alguém e a pessoa se torna escrava, assim o trabalho pode dominar e a pessoa se torna escrava dele. Ela vive para trabalhar quando devia trabalhar para viver.
   Mesmo sem ser workaholic, alguns precisam enfrentar longas, intensas e cansativas jornadas de trabalho para juntar recursos para uma vida digna. O trabalho faz, natural e necessariamente, parte da vida humana. No entanto, trabalho exagerado põe em risco a saúde física, psíquica e social da pessoa, da família e da Comunidade, por isso a Palavra de Deus estabelece um dia de ‘férias’ a cada sete dias. No Antigo Testamento, esse dia de ‘férias’ é o sétimo, o último, o sábado. No Novo Testamento, a Comunidade cristã troca o sábado pelo domingo, o primeiro dia da semana. Domingo significa o dia do Dominus, o dia do Senhor, porque nesse dia o Senhor ressuscitou.
   Os tempos mudam e a sociedade moderna, por um lado, esvaziou muito o dia de ‘férias’ semanal, o domingo. Por outro lado, esta mesma sociedade, devido ao seu sistema de vida e de trabalho muito rígido, esquematizado e planejado, regido por horários fixos e agendas de longo prazo, instituiu, por contratos e leis, a prática de férias de duas, três ou quatro semanas.
   As pessoas e as Comunidades cristãs podem, e por que não deveriam, tirar o máximo proveito destas férias, com um descanso intensivo, alegre, livre, solto, numa oportunidade de regenerar a vida em muitos sentidos, sem desmerecer o Dia do Senhor, o domingo, de cada semana.
                                                                                                                       Para refletir, leia Êxodo 20.8-11

A crença não tira férias

P. Tiago Sacht Jaske

  Você já pensou como seria se Deus tirasse férias de nós? Com certeza, estaríamos numa grande encrenca, mas ainda bem que o protetor do povo de Israel nunca dorme, nem cochila (Sl. 121.4) e a fé, que crê e confia neste nosso protetor, o Deus que nos mostrou e mostra seu amor em Jesus Cristo, também não deve se acomodar, relaxar.
   A fé sempre quer agradecer a Deus pelas muitas dádivas recebidas, sempre quer se agarrar a Deus e receber Dele novas forças e Ele concede novas forças, Ele ‘reabastece o tanque’ da nossa fé pela Palavra e pelos Sacramentos, que nos são oferecidos, em especial, nos cultos, oportunidade de agradecer e louvar a Deus por tudo o que temos e somos. Também é o momento de colocar diante Dele nossas angústias e anseios e recebermos o Evangelho que salva e liberta, que cria a fé e a mantém.
   Quantas vezes nos vimos ocupados demais durante o ano para irmos à Igreja, aos cultos e às atividades de nossas Comunidades? Por isso as férias são ainda mais interessantes, são dádivas, pois não estaremos mais ‘tão ocupados’ e poderemos desfrutar da alegria de sermos servidos por Deus nas Comunidades que se reúnem em nosso local de descanso.
   Assim também queremos agir nas férias, com o amor que brota dessa fé em relação às pessoas, em relação ao cuidado com a criação que Deus nos confiou. Queremos agir com amor a Deus e buscá-lo de coração, ‘santificando’ este nosso precioso tempo, como aprendemos no Catecismo Menor, de Martinho Lutero: não desprezando a Palavra, mas ouvindo-a e estudando-a com gosto.
                                                                                                           Para refletir, leia Colossenses 1.21-23

Descanso, uma premissa bíblica
P. Joaninho Borchardt

   Toda pessoa tem direito ao descanso decorrente do seu trabalho. Além do descanso semanal, o trabalhador tem direito a férias, que variam de acordo com a legislação de cada país.
   No Brasil, por exemplo, a legislação trabalhista estabelece um mínimo de 20 e o máximo de 30 dias de férias por ano. Também existem as férias escolares. Elas variam de 90 a 120 dias não consecutivos por ano.
   Por aqui, as férias escolares acontecem nos meses de julho, dezembro e janeiro. Nos países do hemisfério norte, as férias escolares são geralmente nos meses de janeiro, julho e agosto. Tanto aqui como lá, as férias maiores coincidem com o verão. O objetivo é proporcionar aos trabalhadores de um modo geral e aos alunos um período de descanso.
   A narrativa bíblica do livro de Gênesis fala que Deus também descansou depois da Criação Assim terminou a criação do céu e da terra e de tudo o que há neles. No sétimo dia, descansou de todo o trabalho que havia feito (Gn. 2.1-2).
   Por que será que Deus descansou no sétimo dia? Estaria ele cansado do seu trabalho? Não. Na verdade, Deus não se cansou do seu trabalho! Pelo contrário, ele sentiu prazer naquilo que criou E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom (Gn. 1.31). Com o descanso no sétimo dia, Deus denuncia a escravidão praticada pelo faraó do Egito (conforme Dt. 5.15). Ao mesmo tempo, anuncia que o descanso é um direito sagrado. Ele o concedeu para lembrar os seus filhos e às suas filhas que o descanso é uma premissa divina.
                                                                                                                   Para refletir, leia Êxodo 31.12-17


Férias: tempo para investir na família
Cat. Esp. Sibele Ivania Massirer
 
   Férias! Mais do que uma expressão, um tempo muito esperado pela maioria das pessoas. É o tempo para dar uma trégua ao agito e às cobranças do dia-a-dia no trabalho, dar uma pausa na rotina, repor as energias para continuar trabalhando depois, mas, sobretudo, deveria ser um tempo especial para cultivar afetos. Tempo de cultivar a família!
   Família é dádiva e bênção de Deus. A família é o nosso alicerce. É nela que buscamos os fundamentos para enfrentar a vida e nos colocarmos no mundo. É na família que nos abastecemos para iniciar um novo dia de trabalho, de estudo... É para ela que retornamos para compartilhar as alegrias e tristezas do dia, por isso, precisamos lembrar constantemente que é necessário investir tempo e energia nestas pessoas especiais que tão profundamente fazem parte da nossa vida.
   É preciso fugir da tentação de usufruir das férias apenas com o intuito de suprir o ímpeto individualizado de querer descansar ou desconectar das responsabilidades. Fazer isso também é necessário, porém as férias precisam ser planejadas para não ficarem somente nisso. Essas pessoas especiais que Deus coloca na nossa vida têm sentimentos e necessidades, têm descobertas, inquietações, afetos e sonhos para compartilhar conosco.
   Se planejarmos as férias para, de fato, estarmos juntos com aqueles e aquelas que amamos, poderemos nos proporcionar um tempo abençoado para cultivar com qualidade todas estas nuances que compõem os bastidores do que chamamos de família. É assim que nos tornamos verdadeiramente humanos.
                                                                                                                   Para refletir, leia Mateus 6.19-21

O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como Ele mesmo prometeu.
Salmo 23.3
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