O Salmo 126 está em uma categoria (junto com mais alguns hinos do saltério) chamados de Cânticos de Romagem (que são as caminhadas sacras de um determinado local para outro).No Brasil, essas caminhadas são conhecidas como Romarias.
Estes salmos representam a voz, o sentimento, a memória de um povo que por anos e anos fora cativo pelo império Babilônico, e que após sua libertação por Deus, seguiram seu caminho subindo até Jerusalém.
O que para nós é interessante nesse tipo de Salmo, e de grande valor para a vida de fé, é fazer dessa memória, a nossa oração. Momento, inclusive, propício para esse final de ano.
São testemunhos, longe de serem hercúleos, antes, testemunhos humanos, que expressam coisas que também vivemos, como a tristeza, a angústia, a fraqueza, a perda, as nossas contradições, as alegrias, a busca por Deus, a busca por um bem-estar.
Pensemos na memória não apenas dos israelitas cativos, mas de tantos e tantas que tiveram suas vidas duramente marcadas por sofrimento, por doenças, pela pobreza, pela falta de uma boa educação, pelo racismo, por não terem um teto, por balas perdidas, por corpos violados, por um vírus destruidor.
Façamos memória do nosso povo brasileiro, de quem dependeu e ainda depende de auxílio emergencial. Daquele e daquela que mora em um lixão. Do empresário que fechou as portas, do trabalhador que perdeu seu emprego, mas não perdeu as contas de luz, de gás, de aluguel, que só sobem.
Dura a realidade de muitos, não é mesmo? É por isso que oramos com os salmos. Os salmos nos aproximam da realidade humana.
Do que podemos rir e se alegrar? Conseguiremos nesse final de ano ficar como quem sonha? Sonhar com o que? O que ainda temos que semear com lágrimas para colhermos com alegria?
Qual cântico de Romagem acompanha o nosso povo? Talvez seja este...
Música: Tocando em Frente (Almir Sater e Renato Teixeira)
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir
Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz
A música ‘Tocando em Frente’ retrata muito bem a condição de peregrinação, a dureza da vida, aquilo que aprendemos no amor e na dor.
As experiências pelas quais passamos, que nos inspiram, que nos faz buscar forças para continuar a nossa romaria. A Romaria da terra, dos trabalhadores e trabalhadoras, das mulheres, dos pobres, dos crentes no Senhor Jesus.
Que a nossa oração nesse findar do ano seja a mesma do Salmista: “Restaura, Senhor, a nossa sorte como as torrentes no Neguebe.”
Neguebe é uma área totalmente desértica ao sul da Palestina. Na época de chuvas, no entanto, aquela terra seca recebe água, formam-se canais, forma-se o rio, que vai ocupando seu espaço gradualmente, uma linda imagem e um sinal de esperança e restauração.
Ocupa, Senhor, os espaços desérticos, lá onde a vida clama por um pouco de água.
Ocupa, Senhor, o coração das pessoas desesperançadas. Faz correr o teu rio sobre elas e levanta-as com júbilo por causa das grandes coisas que o Senhor faz.
Que em 2021 possamos vislumbrar essa cena do rio, quer dizer, do amor, da justiça, da coerência, ocupando seu espaço na vida humana. Amém.