Nestes últimos dias, foram os ambientalistas que, diante da degradação ambiental e da qualidade do crescimento econômico, chamaram a atenção da sociedade. Apontaram as ameaças, fruto das ações humanas, que pairam sobre a humanidade: a questão da água, a falta de proteção das áreas marinhas, efeito estufa e o aquecimento do globo terrestre, aumento do nível dos oceanos, desmatamento, poluição, as extinções de animais em larga escala, etc..
As passadas semanas foram marcadas por eventos de grande importância para o futuro da humanidade e para a qualidade de vida no Brasil. Em 22 de março, registramos o destaque dado ao Dia Mundial da Água. A outra lição vem de Curitiba. Realizou-se, nesta capital, sob a coordenação da ONU, a 8ª Conferência sobre o Panorama Global da Biodiversidade.
A vida humana depende dos cuidados especiais e da conscientização em relação à preservação do meio ambiente, em especial, dos elementos: água, ar e terra. Os relatórios apresentados e divulgados são muito preocupantes. A transformação das pessoas e das estruturas que sustentam a sociedade humana, voltadas à garantia de vida no presente e no futuro, é desafio inerente ao processo educativo da humanidade e ao testemunho de fé no Deus-criador.
Dados estatísticos registram que o consumo da água é muito superior à capacidade de renovação das fontes hídricas. O desperdício é enorme. Isso é assim em nosso País e, em particular, em nossa cidade. Todas as instituições voltadas à educação, assim como os organismos comprometidos com a formação de uma nova consciência, são desafiadas à construção de um mundo mais habitável e menos agressivo ao meio ambiente. À Igreja cristã, em particular, cabe a tarefa de vigiar as ações humanas e de zelar pela qualidade dos elementos que contribuem com a qualidade de vida na face da Terra. Compete-nos desempenhar essa função, porque Deus-criador mantém um relacionamento especial com seus filhos e com suas filhas. A criação, uma dádiva de Deus, é expressão de sua bondade. O mundo, nas garras do ser humano avarento, pode observar o quanto a água nos rios, nos lagos e nos mares está desprotegida. O jeito humano de criar suas políticas e as ações de desenvolvimento ocorre a expensas de outras criações. Na medida em que se aprofunda o antagonismo homem-natureza, os elementos da terra, da água e do ar passam a servir como objetos de exploração econômica. O descontrole na natureza permite a proliferação de espécies cujos rastros apontam para conseqüências desastrosas e significam ameaça à integridade e ao equilíbrio de todo nosso ecossistema.
O apóstolo Paulo lembra que a dimensão da obra redentora promovida por Jesus Cristo se estende ao mundo inteiro. É presente que vale para toda a criação. Não andeis ansiosos pela vossa vida, é a boa notícia proferida pelo Cristo Redentor. Com certeza, não se trata de um mero conselho para que nosso sono, de hoje até o dia de amanhã, seja tranqüilo. Aguardamos um novo futuro, a expectativa é de um novo céu e de uma nova terra. A esperança do novo futuro é compromisso da fé que é ativa; é esperança atuante no amor em relação aos recursos naturais gerando entusiasmo pela vida.
Em razão de seu ímpeto destruidor, o ser humano agride a boa criação de Deus, transformando-se, na realidade, em inimigo da natureza. Ela geme e está angustiada face ao sofrimento vivenciado a cada dia. Rubem Alves, teólogo e sociólogo, destaca que a grande questão da fé é se a Igreja está com a barriga grande por estar grávida de um novo futuro ou por estar simplesmente gorda e obesa. No tempo da Quaresma, tempo de arrependimento e de busca por vida com sentido, a esperança do novo tempo, de mais amor à própria vida, nos desafia à leitura da natureza como lugar amigo. Sendo amiga, a natureza assegura espaços que libertam do medo e da preocupação angustiante, por causa do dia de amanhã.
A legislação brasileira e mundial oferece instrumentos importantes a serviço da preservação dos recursos ambientais. As leis querem prevenir todo tipo de opressão e impedir a agressão egoísta, fruto de um espírito irreverente frente à boa e bela criação de Deus. Infelizmente, as leis protetoras da preservação do meio ambiente estão inseridas num sistema antiecológico, em que as ambições humanas e agentes da destruição representam o maior problema. Por isso, seus efeitos práticos são limitados e pouco eficientes.
A sociedade humana submeteu a natureza a seu domínio, colocando nela um carimbo como se fosse sua propriedade. O tempo presente continua a nos desafiar. É preciso devolver a Deus o que lhe pertence. E a Deus pertencem o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe! Em razão de uma nova consciência ecológica poderemos, em conjunto, cooperar na construção de um futuro, de fronteiras abertas e levados a buscar novas perspectivas em que a razão e a natureza vivam integrados
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal A Notícia - 14/04/2006