Parece que há temas difíceis de serem “digeridos” pelas pessoas cristãs. Por exemplo: quando se ouve falar em gratidão, amor, paz, solidariedade, parece tudo tão tranquilo; contudo, quando se fala em contribuição, oferta, política e dinheiro, aí tudo muda. Por que isto? Será que na vida também tudo isto está dividido? Creio que não. Se “Deus é o Deus da vida” – e a vida está marcada por vários temas – então, creio que nenhum tema deveria ser deixado à margem.
Na IECLB, há um verdadeiro emaranhado de sistemas de contribuição. Pode-se citar alguns: valor igual para todos, cotas, várias escalas com valores diferenciados, proporcionalidade (1,2,3,5 ou 10% [dízimo]), livre condicionada, totalmente livre etc. Quando um presbitério prepara o orçamento de um novo ano é quase que um “parto”, pois pode-se ouvir gemidos de dor. Parte-se das despesas e, então, precisa-se supri-las através das contribuições. Tudo é visto como despesa – e quanta despesa! Eis o primeiro problema! Na comunidade cristã não há despesas, e sim investimento. Assim sendo, a premissa deve ser a missão de Deus. Filhos e filhas de Deus contribuem para a missão de Deus neste mundo. E como contribuem? Através de seu tempo, seus dons e seus bens. Quantas pessoas dedicam de seu precioso tempo na edificação da fé de suas comunidades religiosas e na construção de uma sociedade justa! Quantos membros colocam seus dons a serviço de sua comunidade! Graças ao bondoso Deus sempre há um grande número de pessoas dedicadas. Mas e os bens?
A partir do testemunho das Sagradas Escrituras, a nossa contribuição com bens está baseada na gratidão a Deus. Sendo assim, não há espaço para valores fixos e pré-taxados. Entretanto, sabe-se que entre a teoria e a realidade muitas vezes há um grande abismo, visto que nem todos têm consciência de sua responsabilidade. A segunda carta de Paulo aos coríntios testemunha: “Que cada um dê conforme dispôs em seu coração, sem pena nem constrangimento, pois Deus ama a quem dá com alegria.” (2 Co 9.7). Após ter reinado o dízimo enquanto lei nas sociedades de Israel, a contribuição espontânea é apresentada como contrapartida nas primeiras comunidades cristãs. Esta é a boa nova (o Evangelho) de Deus.
As pessoas cristãs contribuem financeiramente com sua comunidade de fé, em primeiro lugar, pois reconhecem as bênçãos que recebem diariamente de Deus e, em gratidão, livremente decidem investir no trabalho realizado em seu santo nome. Em segundo lugar, a contribuição espontânea tem em suas “entranhas” o caráter da justiça, pois rompe com a lei e anuncia o Evangelho. Em terceiro lugar, ela é didática, pois nos educa em sermos responsáveis com nossos bens. Que assim possamos servir ao nosso próximo e a Deus com amor e gratidão enquanto mordomos cristãos. Que nosso tempo, nossos dons e bens sejam abençoados pelo Deus da vida, e nós os tornemos sagrados. Amém!
O P. Robson Luis Neu é do Sínodo Nordeste Gaucho
Texto originalmente publicado na Revista do Sínodo Nordeste Gaucho e replicado na página do Sínodo Norte Catarinense, por sugestão do Assessor Teológico da Presidencia da IECLB