De uma boca cheia de cinismo ecoa esta ordem, proferida por um dos salteadores pregados numa das cruzes, junto à cruz de Jesus Cristo. Tolo é o ser humano que veste a camisa do lado avesso. Até parece que Deus faz história do lado avesso. È difícil entender que Deus possa morrer. Uma pessoa, sim...mas Deus morrer!? A cruz de Gólgota é diferente das cruzes nas quais foram presos os dois salteadores. A salvação de ambos os condenados com o Cristo de Deus dependia da cruz salvadora de Jesus Cristo. A cruz da sexta-feira santa lembra do estranho agir de Deus.
Depositar a sua confiança num Deus que garante o meu sucesso, a minha saúde, que dá garantias ao meu futuro, com certeza, é mais tranqüilo do que seguir um Senhor e Deus que se esvazia e caminha rumo à cruz. É bem provável que um Deus a condenar pessoas pecadoras, moralmente comprometidas, que julga os rebeldes e os indiferentes à fé cristã, este Deus talvez nos convencesse mais. Somos tentados a buscar Deus feito ao nosso modo de pensar. A nossa lógica, certamente, não é a mesma de como o Deus dos Evangelhos pensa e age. Nosso Deus é estranho; tornou-se criança, não teve onde reclinar a cabeça, foi desprezado e, por fim, morreu na cruz.
A cruz nos irrita. Irrita sobretudo aquelas pessoas que precisam de um Deus forte, Senhor que justifica a própria força, um Deus que garante sucesso, para justificar o sucesso próprio, um Deus da glória que justifica a glorificação própria.
Jesus Cristo é o nosso Deus pregado na cruz. É o Cristo derrotado pelo poder dominante, o Império Romano. É o Cristo derrotado pelo legalismo e moralismo das autoridades religiosas, em seu tempo de vida. Tornou-se o menor de todos os seres humanos. Por isso, ele compreende e dá esperança aos sofredores, aos doentes e desamparados, aos que estão por baixo.
Cristãos deixam de apostar na glorificação própria para se colocarem sob a graça e sob a misericórdia de Deus. A graça de Deus é forte, quando admitimos a própria fraqueza.
Que a Campanha Ecumênica da Fraternidade seja um estímulo motivador importante na busca comum de um mundo alternativo onde a Solidariedade e a Paz sejam os princípios orientadores.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diosece Informa - 03/2005