A ovelha é um animal limpo, dócil de afeição e domesticado. É conhecido do homem desde a mais remota antiguidade. Na palestina, ovelhas e cabras era o principal sustento dos povos pastoris, fornecendo vestuário, leite, manteiga queijo e carne. Sua carne era “comida de luxo”.
A partir de oito dias de vida a ovelha (cordeiro) era apropriada para diversas espécies de sacrifício (cf. Lv. 22:19,27). A Bíblia está repleta de alusões a ovelhas e à sua criação com um emprego metafórico muito importante. O cuidado das ovelhas é uma rica fonte de imagens teológicas, através da qual Deus se revela até hoje, ao seu povo, ensinando o que precisamos saber sobre nós mesmos e sobre o grande amor que Deus tem por nós.
Assim como as ovelhas deviam ser protegidas das feras, dos ladrões e do tempo inclemente, também nós precisamos de cuidados e proteção de um guia. O pastor defendia as ovelhas dos leões e ursos, e por vezes até morriam em defesa do rebanho. O pastor conduz as ovelhas às águas e pastos verdes para alimentá-las e protegê-las (Sl 23). As doentes ou feridas ele as carrega sobre seus ombros. E quando uma se desgarra (se perde), ele sai à sua procura até encontrá-la. Essa se tornou uma figura de cuidado de Deus para com seu povo, (rebanho) cujo o pastor é Ele próprio (Mt 18).
Jesus ensinou que um povo sem guia, é como rebanho sem pastor, que logo se dispersa e se torna vulnerável às feras. Quem perde seu referencial, perde o rumo na vida e se perde pela vida. Também nós nos tornamos vulneráveis e nos perdemos quando nos dispersamos como sociedade. Considerando que a filosofia “hedonista” (em que a vida é regida apenas pelo prazer egoísta e individual) é o marco referencial que rege a vida comum em nossos dias, percebe-se que nossa sociedade vive “ensimesmada”, excluindo-se da vida em comunhão e das responsabilidades em família.
Todo pecador é uma ovelha desgarrada e perdida, que necessita ser salva. As ovelhas que conhecem seu pastor (Jesus) reconhecem a sua voz, e ao ouvi-lo, aprendem que é necessário obedecê-lo. É necessário temer os estranhos (ladrões, salteadores, ou falsos profetas e mestres) e não deixar-se guiar por esses. Assim, os seguidores de Cristo (o bom pastor), vivem seguros e protegidos (Mt 10:16-19). Os falsos profetas são descritos como lobos que se vestem de peles de ovelhas, visto que a ovelha é símbolo da inocência e ingenuidade (Mt 7:15).
A natureza da ovelha não conta com o instinto inteligente de auto-defesa como outros animais. Sem o auxílio do bom pastor, a ovelha é uma criatura impotente, assim como os seres humanos sem Deus, e sem Salvador.
Sobre esta relação bíblica “ovelha e pastor” Lutero disse: “Quem conhece e reconhece as ovelhas mesmo quando estão submersas e atoladas em sofrimento, vergonha, humilhação, morte, escândalo, de sorte que nem elas se conhecem a si mesmas? Certamente ninguém, a não ser Cristo. Ele as consola, dizendo que, apesar de tudo aquilo que escandaliza o mundo e nossa própria carne e sangue, conhece suas ovelhas, não se esquece delas nem tampouco as abandona. Este é, portanto, o resumo do evangelho: o reino de Cristo é um reino de misericórdia e graça, onde se necessário, há um constante carregar. Cristo carrega nossas fraquezas e doenças, toma sobre si nossos pecados e é paciente quando falhamos. E ele também não se cansa de carregar o que nos deve servir de grande consolo quando somos tentados a pecar. Neste reino, os pregadores devem consolar as consciências, tratar com elas de forma amigável e nutri-las com o evangelho. Devem carregar os fracos, curar os doentes e saber dividir corretamente a palavra, administrando-a a cada um conforme suas necessidades. Disse Jesus: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas”. (João 10:14-15).
No tempo de quaresma, somos mais lembrados que Jesus é o “cordeiro de Deus” que tira os pecados do mundo. Sua morte sacrifical e expiatória é a consumação que justifica e salva o pecador por graça e fé nele.