Inovador, ousado, pesquisador, animador, companheiro são algumas das atribuições cabíveis e merecidas quando me refiro ao Pastor e professor Dr. Milton Schwantes. Nascido no seio de família luterana humilde em Tapera, RS, migrou para São Leopoldo, aos 10 anos, para o Instituto Pré-Teológico – IPT, acompanhando a mãe e dois irmãos. Nunca abandonou suas origens de filho de pequenos agricultores, sempre presente em suas mensagens e pesquisas teológicas.
Na Faculdade de Teologia – FacTeol. ele foi descobrindo a Teologia e partiria para Heidelberg, Alemanha, onde doutorou, com a tese “o direito dos pobres”, doutor em Teologia Bíblica. Quando retorna ao Morro do Espelho, Milton traz na bagagem a chave da leitura bíblica – ler a Bíblia a partir dos pobres. Com esse novo jeito de leitura Milton se torna Mestre, para mim e tantas outras pessoas desta geração. Aprendi com ele uma leitura comunitária da Bíblia. Leitura a partir da formação de um povo. Êxodo cap.1 a 14 foi uma das primeiras portas que ele nos ensinou a abrir. Traduzimos o referido texto, num seminário de 14 estudantes de Teologias, na disciplina do Antigo Testamento. Onde cada vocábulo e letra do hebraico nos motivavam para novas curiosidades e ele nos enriquecia com seus conhecimentos complementares do aramaico. Foi o Mestre que abriu portas para o conhecimento e que até hoje se alargam sem medo dos desafios, para o novo e o diferente.
Guardarei o Professor Milton Schwantes como um grande construtor de pontes entre a Teologia européia e a Teologia latino-americana. Um verdadeiro mestre na teologia acadêmica e ao mesmo tempo alguém que se renovava permanentemente na teologia popular. Com um pé firme nos meios acadêmicos e com o outro presente saboreando da Teologia encarnada na Comunidade e movimentos sociais.
Hei de conservá-lo vivo na memória como Professor e Mestre, sobre tudo como conselheiro de épocas em que fui cedido pela IECLB em Rondônia, para servir como Pastor, de forma ecumênica em Comunidades da Amazônia, na Pastoral da Terra e pastoral sociais.
Creio que todas as pessoas que conheceram Milton, pessoalmente ou através da leitura de seus livros e textos, sabem do valor significativo da contribuição da leitura bíblica, na caminhada das Comunidades Eclesiais de Base – CBEs, no ecumenismo e na espiritualidade de uma fé comprometida com a dignidade da vida e vida em plenitude universal.
Deve-se lembrar ainda que, Milton com seu jeito convicto foi capaz de levar a Teologia latino-americana em grandes congressos internacionais e inter-religiosos. Não temia expor suas ideias em grandes debates também perante outras religiões.
Assim, dedico esta coluna, com saudades, e em solidariedade ao Pastor e Conselheiro, que faleceu no último dia 1° de março, em São Paulo. Lembrando que a sua trajetória nesta terra, é simplesmente uma vida doada por uma causa de vida em Plenitude. Deus vê, e Deus Houve! Gênesis 12.25, assim reza o título de um dos seus últimos livros.