A época da Quaresma é uma época muito importante para a comunidade cristã. É uma época marcada pelo recolhimento, meditação, olhar para dentro da gente. Uma época marcada pelo sofrimento de Jesus Cristo por nós.
Aprendi da minha avó que esta é uma época de silêncio, onde a gente precisa respeitar o sofrimento de Cristo e aprender dele.
Por tudo isso, esta época que iniciou na Quarta-feira de Cinzas é diferente, e muito especial, cercada de costumes e jeitos diferentes de viver.
O texto do Profeta Isaías 58.1-2 fala do fim do exílio do povo de Israel na Babilônia, fala de famintos, de pobres, de um povo que sofre com a escravidão e as tantas injustiças. E mostra que apesar de tudo, a situação continuava a mesma. O povo se queixava para Deus dizendo: “Que adiante jejuar, se tu nem notas? Por que passar fome se não te importas com isso?
Deus se irrita com o povo, pois com essas perguntas, fica claro que o povo faz jejum por seus próprios interesses, é um jejum individualista, que não quer mexer com nada, não quer mudar a situação ruim que está aí, mas quer salvar-se a si próprio, e o resto que fique entregue à própria sorte. Deus quer que além daquele jejum meramente ritual, o povo se empenha-se para por fim na injustiça social.
Por isso, Deus deixa bem claro: O verdadeiro jejum agradável a ele está na solidariedade e ação de amor em favor do próximo. E isso não só aparece aqui no texto de Isaías, mas esta também foi a mensagem de outros grandes profetas como Amós, Miquéias e Jeremias. E aparece também no relato dos Evangelhos. Por isso, o verdadeiro jejum que agrada a Deus é aquele que junta o rito tradicional com a sua conseqüência concreta na vida comunitária e social. (Isaías 58.7)
Vamos viver a época da Quaresma como uma época de reflexão sobre como nós jejuamos hoje. Não vamos lembrar somente do sofrimento de Cristo como algo que aconteceu no passado e que foi muito importante, mas vamos lembrá-lo no dia-a-dia, vamos trazê-lo para a vida real, hoje e aqui. Através de Cristo, Deus se fez presente entre nós, e prometeu jamais nos abandonar. Essa confiança cada um e cada uma de nós precisa ter bem presente.
A crueldade, a injustiça, a falta de amor que já aparece no nosso texto, que foi escrito lá pelo ano 520 antes de Cristo, também se impõe hoje. Por isso, não somos cristãos para ficarmos pelos cantos chorando a morte na cruz, mas devemos ser cristãos que tem os olhos bem abertos para enxergar através da paixão de Cristo, a realidade do mundo em que vivemos hoje. É esse o jejum que agrada a Deus e é nesse rumo que deve ser nossa preparação .
O amor de Cristo nos empurra para que, por gratidão, nos engajemos por todos aqueles que precisam de nossa ajuda e solidariedade.
O Evangelho da Paixão de Cristo é boa nova, de libertação e esperança, não um convite para celebrarmos uma “cerimônia fúnebre”.
Não está em nosso poder mudar o mundo, mas podemos criar pequenos sinais de mudança, podemos concretizar esta solidariedade e esta partilha fraterna.
- Como podemos responder ao amor de Cristo?
Que o tempo de Quaresma seja um tempo especial de cuidar deste amor de Cristo por nós, fortalecendo nossa resposta a ele.
P. Altemir Labes - Pastor Sinodal
Sínodo Nordeste Gaúcho - IECLB