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O senso crítico e a Morte

por quê?

08/11/2012

Se tem uma coisa que eu gosto de perguntar, mas me causa um desconforto quando questionado, é “por quê?”; sempre quando me indagam “ Por que música?” Eu sempre respondia “ Porque não?” ou, porque a música é algo maior que tudo, ou outra resposta bem filosófica, etc.

Algo do gênero.

Bem vazio.

Confesso.

Mas hoje, me peguei meditando sobre essa pergunta... e sei que hoje tenho um pensamento diferente sobre o porque dessa escolha de vida que tive. Em fazer do meu trabalho de artista/músico/compositor o meu emprego integral em agregar algo que tanto me cabe em ser. Ser. O ser de Drummond.

Mas aí eu fiquei pensando primeiramente, depois muitas informações, reivindicações, textos e desabafos em redes sociais, imagens chocantes (montagens ou não), HOAX por cima de HOAX, gente mudando sobrenome em homenagem à aborígenes da nossa terra, Brasil, todo esse tipo de ação eu olhava com distância do tipo “ Poxa, legal, mas nada adianta né?!”. Mas hoje tive um ‘insight’ muito interessante durante o banho (sim, o banho).

Talvez desde a polêmica Belo Monte, em vídeos e brigas de facebook, até agora com os Guarani-Kaiowá, me vem o porque de tanta expressividade e legitimidade em se sentir ofendido e agredido com tal circunstância aos quais os índios estão. Mas vejo algo maior. Bem maior.

O motivo maior e subjetivo que todos se sentem engajados na internet em relação aos índios e ao descaso nacional sobre esse tema vem do simples fato que, hoje ano de 2012, os índios sejam ainda a única forma viva no Brasil que restou de real humanidade; o termo in loco de humanidade se extinguiu com a entrada de uma pseudo realidade de que a ideia de rede de conectividade substitui o senso humano – numa sociedade hoje em que todo tempo (ou quase isso) que não se está ao trabalho é destinado à algum artefato tecnológico.

E como isso nos torna com menor proporção de humanidade? Pegue a imagem de uma comunidade de índio... e pegue como exemplo você e teus amigos e familiares. Se colocares os dois grupos em um local sem qualquer artefato tecnológico, ou seja, onde o tempo em que não se está fazendo algo pelo grupo (comida, bebida, limpeza, tarefas) seja destinado à comunicação entre o grupo (inclusive rituais religiosos, atos de pesca, banhos em rio, rodas de música, etc) você acha realmente que você e seus amigos conseguiriam? Ou ficariam um tempo gigante numa aflição terrível sem saber o que falar... sem saber como agir com pessoas que tem intimidade? Os índios conseguem ficar o dia inteiro em humanidade, sem nada que intermeie esse momento, sem a falsa necessidade de que se precisa de um computador para se encontrar e conversar com uma pessoa que é muito importante para você, por exemplo. Por que isso? Porque eles tem a noção de que, se a pessoa é importante para eles, então elas estão ao redor dele. E se não são importantes, assim se fazem importantes por estarem ali, por o cercarem, o conviver – com intrigas, mazelas, diferenças, problemas, etc. Quer senso maior de humanidade? E você acaricia teu próprio ego compartilhando foto de criança chorando de fome com frase achando realmente que está fazendo tua parte para a humanidade? Por favor né?
Quais são as tuas necessidades vitais? Já parou para pensar nisso?
Pense.

Não. As necessidades vitais não tem nada a ver com ter onde dormir, nem ter o que vestir, nem ter um calçado, um carro, ou um computador. Tem a ver com respirar, comer, beber, se comunicar, se humanizar. E cadê teu ‘humano’?

Ao estudar história no ensino médio e fundamental, aprendemos com vigor que a Igreja Católica foi um empecilho na Europa, dizimando milhões e milhares em ‘nome de Deus’ etc etc etc. E ateus ativistas, ou mesmo evangélicos adoram esse tipo de coisa para justamente acusar a Igreja Católica contra tal ideia de Tribunal da Inquisição de tortura contra qualquer um que fosse com uma ideia diferente dos dogmas pregados. Concordo. Deve ter sido terrível. Afinal, o Senso Crítico, e a Liberdade de Expressão, já dizia o comediante Bill Mahler, não é negociável – bem intrínseco e belíssimo ao pressupor de se ser humano. Sou luterano de formação e sei do que Martin Lutero fez em relação à Igreja Católica e estudei bem quais são as possíveis e perceptíveis consequências para a humanidade do que fez – as 95 teses em Roma, etc etc.

Considerados por muito o percussor de suma importância para o Protestantismo, Lutero emanou ao mundo ocidente, principalmente ao continente americano, o espírito do Protestante em si como leitor e cristão que sabe o que pensa, vive e faz. Ótimo? Ótimo. Continuando a aula de história de hoje, qual foi o país que foi fundado por Protestantes em sua maioria e se consolidou potência econômica e bélica no Sec. XX? Sim, os EUA. Em suma, os principais expoentes do sistema Capitalista de Produção em combate a ditadura do Socialismo, tal como o Nazi-Facismo Europeu, as tropas asiáticas que flagelavam contra a liberdade que se tem no capitalismo. Lindo não? O discurso de liberdade é o mais usado para mostrar a vantagem do sistema capitalista em relação aos outros que já vigoraram até hoje. Mas e aí? Vejo que, mesmo com toda a mazela existente e erros na história da Igreja Católica e do catolicismo, vejo que eles tem, hoje, algo que as igrejas evangélicas perderam, em sua maioria = o valor de ‘humanidade’; as igrejas evangélicas – pentecostais, neopentecostais e ademais – tem por si um valor de egoísmo e individualidade muito forte. Teu corpo, teu espírito, tuas orações, teus problemas, tua reza, tuas mãos, teu deus, teu amor. Ninguém se abraça, todos rezam gritando como se fosse algo individual e somente isso o valor de se prostrar humano como qualquer outro perante algo maior.

O senso de religião mais belo é o de que torna todos os seres humanos iguais em direitos de humanidade e em potencial de serem ‘bons’, terem todos o pleno potencial de serem pessoas boas – isso se tem no catolicismo e em outras religiões (cristãs ou não). Mas a ideia atual e a que mais vende, repito ‘vende’, é a ideia de que teu deus irá te abençoar e somente a tua prostração e tua dedicação poderá te salvar. Mas... pera aí? E cadê o senso de comunidade que a Bíblia tanto fala? O senso de coexistir? Morreu. Individual, indivíduo... tuas ações, teus movimentos... isso te dá a sensação de ... poder. Poder. Você, sozinho, tem o poder e a motivação necessária com teu espírito para ser feliz e tomar suas decisões. Você é possuidor de uma vontade incrível de ser feliz e sabe fazer isso acontecer. Engraçado... isso parece muito com a lógica do... ‘Consumidor’ no capitalismo. Estranho, não?

Estão vendo onde chego? Você realmente acha que o caso de alguma raça nativa na terra... aborígenes ou não, terem tanto valor, é mera idiotice comportamental do governo? Não. Mas ninguém realmente percebe... que no fundo, salvando algumas comunidades de índios, a esperança de que algo continua firme e resistindo em meio a trancos e barrancos seja a única forma de muitos de nós acreditarmos na força da noção de humanidade – de coexistir, de ‘ser em conjunto’.

Estou cansado. Muito cansado. Me cansa pensar na atualidade. Me cansa conversar com a minha geração e ao ver ela tão ‘Hakuna Matata’ como nunca. Como tudo estivesse bem e lindo, e que, tendo meu carro, minha casa, meu emprego, meu sanduíche, meu celular e minha internet, tudo ok. Mas e aí? Me cansa ver uma geração que acha que a coisa mais importante a se conquistar antes dos 30 é um carro. Olhe ao redor! Você acha realmente que tudo que o mundo precisa é de você com um carro novo?

As classes sociais? Como vão? Engraçado pensar sobre elas. Falar sobre elas. A classe A, é a menor do país e, realmente, não é a que estraga o país, porque, no geral, ela não faz tanta diferença assim. Eles sequer ficam tanto assim no país. São condenados pela população em geral como cafajestes, sujos, ou que ‘tem a vida fácil’, cheia de regalias e tudo mais. Algum mal nisso? Não. O mal começa no poder e pacto de influências; quando você domina uma quantidade grande do contingente de trabalho de uma determinada região você exercerá sobre eles um poder político imenso. Mas isso tem a ver com eleições? Não, intencionalmente falando. Não interessa qual o candidato que está no poder, ele não vale muita coisa em cidade grande, quem manda são as grandes empresas que controlam a vida da população diretamente ou não.

Pegue o exemplo da empresa que controla o transporte aquamarino no Rio de Janeiro – CCR Barcas. Só existem elas que fazem o percurso Rio-Niterói da melhor forma (rapidez, preço, etc). Só 1 empresa faz o trabalho de levar + de 100.000 pessoas diariamente ( no mínimo e sem contagem dupla), sim diariamente, de um local ao outro. Para, na maioria, trabalharem. Se eles aumentarem o preço, o que acontece? Imagine. A população fica com raiva, mas tem que ir trabalhar. Os estudantes protestam. O governo vai tentar negociar e fala que é inaceitável, etc etc. O que a CCR barcas podem falar ‘ Ok então, terei que fechar a empresa ‘. E aí? Acabou-se transporte. As ruas mais congestionadas, mais sufoco, calor, raiva, estresse. Agora imagine isso com remédios, supermercados, farmácias, automóveis, empresas de limpeza, vendedores de água, combustível, estradas, pedágios, etc etc. Entendeu o problema com a classe A?

Me cansa ao ver centros urbanos lotados de gente que precisa, luta, se mata de tanto trabalhar pelo mínimo enquanto outros fogem dos centros urbanos porque querem aproveitar ao máximo. Enfim.

Por hoje é só de texto. Quero conversar, falar pro mundo mais coisas. Quero realmente poder mudar alguma coisa. Vou mudar alguma coisa. E você? Rio em na Copa vai ser uma confusão, mas o que você fazer pra deixar as coisas melhores?

Ah, e outra coisa, pare de culpar o governo.

Virão outros.

Att,

Thomaz Baldow. 08/11/2012
 


Autor(a): Thomaz Baldow
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Comunidade de Niterói - Paróquia Esperança (RJ)
Natureza do Texto: Apresentação
Perfil do Texto: Palestra - Debate
ID: 17752

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