Será que Jesus tinha uma família normal como a gente? O Credo Apostólico diz que ele foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu de uma Virgem. Logo após a gravidez, José de Nazaré assumiu o noivado com Maria e também a paternidade de Jesus. Aqui surge uma diferença pouco comentada entre a fé católica e a luterana. Os católicos entendem a “virgindade” como fato permanente em Maria. Enquanto, os luteranos veem em Maria um exemplo de mulher e mãe, aceitando sem dificuldades que ela perdeu a virgindade após Jesus nascer, gerando outros filhos e filhas. Os evangelhos citam, além de irmãs, por nome Tiago, José, Simão e Judas (Mateus 13.35 e Marcos 6.3). Os católicos apresentam duas explicações. Ou são filhos de um primeiro casamento de José, ou primos de Jesus. Apesar das interpretações distintas, fato é que, aos 30 anos, Jesus repentinamente sai de casa, partindo em direção ao Jordão, onde se encontra com João, iniciando assim seu ministério público. Até aquele momento, como primogênito, Jesus cuidava da mãe, da casa e oficina. Era um filho exemplar e um crente que frequentava a sinagoga com os demais judeus. De repente, a rotina é rompida e começa uma vida dedicada à pregação do Evangelho. Neste sermão convido você, a partir da família de Jesus, a refletir sobre a importância da família, tanto na carne, quanto na fé. A reflexão estende-se também às nossas prioridades na caminhada espiritual.
O evangelista Marcos compartilha: “Então Jesus entrou numa casa. Novamente reuniu-se ali uma multidão, de modo que ele e os seus discípulos não conseguiam nem comer. Quando seus familiares ouviram falar disso, saíram para tomar conta dele, pois diziam: Ele está fora de si” (Marcos 3.20-21). Marcos começa dizendo que Jesus estava em casa. Quem sabe refere-se aos parentes de Jesus, ou amigos... Quem sabe a casa era de Pedro, já citada antes. Como noutras oportunidades, Jesus não tem sossego. A multidão procura suas lições e curas. Curiosamente, é dito que sequer tinha tempo “para comer”. Percebe-se aqui um alerta à nossa vida espiritual. Algumas pessoas se envolvem tanto que deixam a desejar no cuidado consigo, com a família, com suas obrigações sociais. A igreja jamais deveria levar à falta de cuidado com a saúde ou com a família e os amigos. A igreja jamais deveria impedir a diversão e o lazer. Jesus promove vida. Ele salva. Quem destrói é o Maligno. Se, por causa da fé, alguém relaxa no seu trabalho, precisa parar e refletir. A prioridade sempre será o Reino de Deus, mas de maneira alguma devemos ser irresponsáveis. Por exemplo, se alguém está doente e ora pedindo cura, age certo. Todavia, isso não significa que deve deixar de tomar os remédios necessários. Para surpresa de todos, eis que, naquela tarde, batem à porta familiares de Jesus. Eles acham que ele está doido. Querem, de toda forma, arrastá-lo de volta para Nazaré. Por que? Como primogênito, Jesus tomava conta dos afazeres. Repentinamente, ele diz: Chegou a hora e, aos 30 anos, parte ao encontro de João, tornando-se um pregador e curando muita gente. Houve uma mudança radical. Parece que a família já havia esquecido o anúncio angelical: Eis que nasceu o Salvador do mundo! Eles pensam só no momento atual, esquecendo o plano original e mais amplo de salvação.
Marcos continua seu relato dizendo: “Chegaram a mãe e os irmãos de Jesus. Ficando do lado de fora, mandaram alguém chamá-lo. Havia muita gente assentada ao seu redor. Então, lhe disseram: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e te procuram. Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Perguntou ele. Olhando aos que estavam assentados ao seu redor, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus é meu irmão, minha irmã e minha mãe (Marcos 3.31-35). É preciso entender a lógica de Jesus quando determina para si e aos discípulos: “Busquem acima de tudo o Reino de Deus e a sua justiça. Tudo o mais será acrescentado” (Mateus 6.33). É uma questão de valor e prioridade. Jesus jamais negou o 4º mandamento, o qual determina honrar ao pai e à mãe. Mas, a família não deveria desviá-lo da missão maior. Aliás, desde o nascimento, José e Maria foram patrocinadores do ministério de Jesus. Donde vem o desejo de querer segurá-lo para si mesmos? Por outro lado, Jesus também não era egoísta privando seus discípulos de suas famílias. Pedro passou 3 anos com Jesus. Mas, manteve a sua casa. Por isso, de forma alguma, Jesus está negando sua mãe e irmãos. Ele somente determina sua prioridade naquele exato momento. Logo adiante, é possível perceber que a família caminhou com Jesus, compreendendo e aceitando seu ministério. Neste momento específico, se trata de esclarecer a “proposta” do Reino, a qual envolve uma família maior (na fé), ou seja, nos envolve também.
Jesus desafia aos que estavam na casa que olhassem ao redor. Convido que você faça o mesmo aqui no Culto: Olhe ao seu redor! Pela fé, somos uma grande família. Com grande alegria no coração, digo que esta é também uma das principais características da igreja luterana. Dificilmente você vê alguém isolado. Sempre estamos acompanhados de algum familiar de sangue. Somos família dentro de uma família maior, que é a Comunidade. Assim, quero aproveitar para alertá-lo sobre um fato, o qual muitas vezes não levamos em conta. Mas, é importantíssimo para o bem-estar comunitário. Assim como em casa, na comunidade somos uma família. A mãe precisa colocar na mesa o almoço. Ela pensa em cada um, mas a refeição deve servir a todos. Em momento específicos, como um aniversário, sim... Ela contempla uma pessoa específica. Mas, no geral, ela precisa pensar na coletividade, atendendo os “gostos” e simultaneamente mantendo uma dieta equilibrada na casa. O culto é para todos. Não há como atender só aquele que gosta de tal estilo, seja de música, de pregação, de liturgia, enfim... Eu também não posso vir à igreja com o pensamento: Quero que o culto seja só do meu agrado! Antes, precisamos nos orientar: Que Deus me dê o que eu preciso! Em Pouso Redondo, conheci os “Caipiras de Cristo” que fazia música sertaneja. Em Panambi, conheci a Banda Opus Dei, que tocava no estilo gaúcho. Em Brasília, volta e meia, eram apresentadas peças instrumentais e clássicas. Afinal, o que é louvor a Deus? O que é permitido ou proibido? O que faz o meu gosto? Na igreja, há a comunhão dos “diferentes”. Todos que fazem (ou ajudam) no culto precisam estar cientes de que, acima de tudo, agradamos a Deus e não às pessoas. Também, quando me achego à Casa de Deus, preciso entender que estou em “comunhão”. Enxergar o outro é respeitá-lo. De repente, a palavra não me serviu. Mas, será que não serviu ao outro?
Concluo o sermão com um desafio à gratidão. Agradeça pela sua família. Respeite as diferenças. Não brigue. O maior testemunho sempre foi, é e será o amor. Com afeto, convide a tua casa a ser parceira também na caminhada de fé. Não esqueça jamais que, aqui na comunidade, você também tem uma família. Mas, como em casa, as pessoas são diferentes, com outros gostos. Ame, valorize e respeite o teu semelhante. Não perca o foco do Evangelho. Desde o início da igreja, Jesus é o principal. O resto são detalhes, que não deixam de ser importantes. Mas, não motivo de desprezar ou rebaixar o outro. Amém!