Amós 5. 6-7, 10-15
“6 Busquem (Voltem para) o Senhor e terão vida, do contrário, ele irromperá como um fogo entre os descendentes de José, e devastará a cidade de Betel, e não haverá ninguém ali para apagá-lo. 7 Vocês estão transformando o direito em amargura e atirando a justiça ao chão,(...) 10 vocês odeiam aquele que defende a justiça no tribunal e detestam aquele que fala a verdade. 11 Vocês oprimem (exploram) o pobre e o forçam a entregar o trigo (cobram impostos injustos das suas colheitas). Por isso, embora vocês tenham construído mansões de pedra, nelas não morarão; embora tenham plantado vinhas verdejantes, não beberão do seu vinho. 12 Pois eu sei quantas são as suas transgressões e quão grandes são os seus pecados. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais (maltratam as pessoas honestas, aceitam dinheiro para torcer a justiça e não respeitam os direitos dos pobres). 13 Por isso o prudente se cala em tais situações, pois é tempo de desgraças (Não admira que num tempo mau como este as pessoas que têm juízo fiquem de boca fechada!). 14 Busquem o bem, não o mal, para que tenham vida. Então o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará com vocês, conforme vocês afirmam. 15 Odeiem o mal, amem o bem; estabeleçam a justiça nos tribunais. Talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, tenha misericórdia do remanescente de José.” (Textos entre parênteses da versão NTLH)
Riscando os figos bravos.
Corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! (5.25)
Introdução
Amós nasceu em Tecoa, lugarejo 10 km ao sul de Belém, onde Jesus nasceria, e a 17 Km de Jerusalém. Ao contrário de outros proeminentes profetas, Amós era de origem simples. Ganhava a vida cuidando de ovelhas e colhendo ou, de forma até mais literal, simplesmente riscando figos de sicômoros (7.14). A esperteza e o conhecimento histórico de Amós contrastam com sua origem humilde. Embora sua parentela estivesse estabelecida no reino do Sul, Judá, o pequeno agricultor entendeu que Deus o enviou ao reino do Norte, Israel. Lá deveria anunciar os juízos justos de Deus.
Os israelitas guardavam alguns lugares sagrados (chamados também de altos!) para suas orações. Um destes era Betel, um dos principais pontos de encontros cultuais, evidentemente excetuando Jerusalém. É de Betel que Amós lança sua voz que soa como o rugir de um leão. “O leão rugiu, quem não temerá? O Senhor, o Soberano, falou, quem não profetizará?” (3.8)
De forma magistralmente organizada, a mensagem deste livro é clara. Segue uma cronologia que não deixa dúvidas de sua autenticidade. E, embora a mensagem seja produzida no reino do Norte, se destina também ao Sul por incluir nas profecias a própria cidade de Jerusalém.
Esta mensagem chega até nós. Vivemos um tempo significativo, tanto na política brasileira quanto na política da nossa IECLB. Teremos não presidente na nação e não menos disputada é a eleição no novo Pastor Presidente da IECLB.Vivemos o mês da reforma e do protesto. É, portanto, hora oportuna de ouvir o rugido do leão. Que toda esta movimentação resulte no que entendemos ser o anseio central do livro do pequeno profeta Amós: Corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! (5.25)
Tudo dominado
Debaixo da frondosa árvore de figos-bravos, que podia atingir 20 metros de altura, Deus foi falando ao coração deste homem simples. Deus lhe revelou que os lugares de culto estavam dominados por pessoas que praticavam a idolatria. Gilgal, Betel, além da própria Jerusalém, eram cidades de culto ocupadas por líderes da idolatria. Impostores! Faziam de conta que falam da justiça, mas não! De forma falsa, estavam falando como se estivessem representando o Altíssimo. Nestas localidades de culto originalmente se comemorava a soberania de Deus, se lembrava algum fato da libertação que Deus havia providenciado ao povo em sua peregrinação rumo à Terra Prometida. A cada manhã era oferecido culto a Deus Jahwe, Era também o local onde os dízimos eram oferecidos para a continuidade do templo de Deus.
Amós faz a denúncia não apenas falando de idolatria, mas inclusive dizendo de como a idolatria vai se infiltrando sorrateiramente. No caso, ao invés de trazerem pães ázimos para a oferta diária, traziam pães levedados. Traziam dádivas inapropriadas transgredido, assim, a lei de Deus. (4.4-5) Dominaram o culto santo a Deus fazendo o que lhes parecia bem. Faziam tudo de qualquer jeito, de acordo com as conveniências pessoais; não de acordo com a vontade e ordem divina.
O que Deus quer sobre os altares? Misericórdia. Bondade. Justiça.
Onde estes valores faltam, mesmo que na aparência esteja sendo feita a continuidade de algo semelhante ao culto divino, simplesmente falta o que é justo.
Onde a idolatria e o falso culto a Deus toma conta, toma conta a devastação que transforma tudo o que é justo em amargura.
A senhora idosa, de nacionalidade alemã, que veio pedir um favor aqui na Paróquia, se disse totalmente desanimada. “Por que fazer as coisas de forma correta e justa, como sempre procurei fazer, se são os maus que se dão bem neste País?” A amargura vai tomando conta da vida de quem trabalha e quer ser justo, e a injustiça vai correndo como um rio de águas turbulentas atravessando vidas e destruindo histórias. É o amargor se revelando no fim da vida daquela senhora.
A sentença é dura
De forma quase poética, os versículos 10 a 13 continuam colocando com crueza a sentença divina que decorre da falta de cuidados com as outras pessoas, especialmente as desprotegidas. Este parágrafo poético é continuado e completado com os vv. 12b-13, que usa a terceira pessoa, enquanto a passagem anterior (11-12a) usa a segunda pessoa. A acusação que começa com o v. 7 é, portanto, mais objetiva e descritiva, enquanto a acusação dos vv. 11-12a é mais direta e pontual. E mais:
Aqueles injustos é que estão preocupados que os tribunais defendem a justiça. Ou seja. Os próprios tribunais estão minados e corrompidos por causa da idolatria que viceja nos lugares de culto.
A riqueza injusta, amealhada por estes corruptos corruptores, assim diz o Senhor a Amós, Deus tira suas posses preciosas adquiridas através de ganho ilícito. Toda a prosperidade será transformada em pesar. Toda!
Por que essa má notícia não quer ser ouvida pela gente da época de Amós? Nem na época de Amós, nem na época de Jesus, nem em época alguma queremos ouvir uma palavra contra nós. Queremos massagear nosso ego, nossa autoestima e não admitir que a realidade que vivemos, tem a ver conosco.
O colega pastor Evandro pesquisou e publicou em Proclamar Libertação parte de um artigo do Pastor Tulio (https://blogdopastortulio.blogspot.com/2014/06/voces-estao-fazendo-tudo-errado-amos-57.html). Faço uso desta publicação e inicio com uma pergunta usando o mesmo tempo verbal que o profeta Amós usa, a terceira pessoa.
Valores invertidos.
Vocês ouvem o que Deus está dizendo?
O direito está sumindo e a justiça está no chão.
Vocês erram ao não temperar o mundo.
Vocês pecam quando se calam diante da inversão de valores.
Vocês frustram o Criador de vocês...
Quando legalizam e patrocinam o assassinato de inocentes que sequer viram a luz...
Quando aceitam, aplaudem e formalizam a relação antinatural de homem com homem e mulher com mulher...
Quando incentivam o divórcio e o novo casamento...
Quando se matam e se violentam uns aos outros...
Quando não punem nem castigam os violentos e os infratores...
Quando escravizam estrangeiros de modo oficial...
Quando incentivam a imoralidade, a pornografia, o adultério e a exploração sexual e reproduzem tudo isto em suas TVs e computadores...
Quando não permitem que os pais disciplinem e corrijam seus filhos...
Quando maltratam a natureza e fazem mau uso dos recursos naturais...
Quando institucionalizam o suborno e a corrupção de juízes e legisladores...
Quando agem com egoísmo querendo levar vantagem em tudo...
Quando manipulam as estatísticas e distorcem as informações para fazer parecer que está tudo em paz e segurança...
Quando fazem com que os honestos paguem impostos demais e incentivam as pessoas a roubar e mentir em suas declarações de faturamento...
Quando tornam o circo mais importante do que a educação...
Quando humilham os professores, os policiais e os médicos, e superestimam os malandros, os atletas e os animadores de circo...
Quando não valorizam mais o papel do pai e a função da mãe. (…)
Quando desprezam a comunhão da igreja e ridicularizam o cajado dos pastores...
Quando tornam o dinheiro a razão de existir....
Quando levantam falsos pastores que lhes acariciam os ouvidos...
Quando perdem o conceito de pecado e ignoram o temor de Deus...
Quando transformam o culto em show e a profecia em autoajuda...
Quando vivem no egoísmo e orgulho e não sabem o que é a bondade e o amor...
Quando adestram supersticiosos fingindo lhes mostrar o Caminho e misturam a fé com a crendice...
Quando roubam de mim as pessoas levando-as à idolatria de Maamom...
Quando se calam diante do mal e se omitem perante a injustiça...
Quando deixam a viúva sem consolo e perpetuam a amargura do órfão...
Quando deixam de evangelizar e discipular para Jesus a fim de atrair membros para seus grupos de amigos...
Quando julgam que estão agindo bem porque ajuntam grande número de adeptos...
Quando reclamam da chuva ou do calor e me atribuem a culpa por desastres...
Quando pensam que podem determinar o que eu devo fazer e acham que existo para mimar seus desejos nojentos...
Quando mentem e enganam uns aos outros pensando que os fins justificam os meios...
Quando gastam o tempo tão escasso com joguinhos de crianças desocupadas...
Quando ignoram a palavra da vida e resistem ao verdadeiro jejum...
Por isso e por outras coisas, eu tenho poucas alternativas para vocês senão derramar meu juízo...
Conclusão
O amigo Pastor Evandro sugere explorar (!) o tema amargor na pregação. Afinal, o profeta anuncia que o direito foi transformado em algo muito amargo. Sim, vivemos dias amargos. Acordamos com o amargor na garganta, o amargor das disputas, da intolerância, da falta de paciência uns com os outros. Estas polarizações certamente tem uma origem em comum: a falta de valores - aqueles de Deus - que resultem em entendimento, na disposição para o diálogo e, acima de tudo, no respeito à ordem das coisas como Deus, o Criador e Salvador em Jesus Cristo propõe.
No entanto me chamou a atenção um fato à margem do nosso texto. Amós era cuidador de ovelhas e colhia figos bravos, aqueles que a gente pobre comia. No hebraico a palavra colher se confunde com a palavra riscar ou picar. Ou seja, Amós subia as árvores e riscava (ou fazia um furo) naqueles figos para que pudessem ser consumidos. Só assim este fruto selvagem madurava e se tornava palatável. Estes figos bravos exigiam uma atenção e zelo muito grande por parte de quem os cultivasse, um figo bravo comido somente pelos mais pobres, fruta essa que só amadurecia quando picada ou riscada. Não que Amós plantasse as tais figueiras bravas, mas na época certa ele subia as colinas onde elas existiam e com um instrumento cortante, arranhava, furava (machucava) a casca da fruta verde, pois só assim ela amadurece.
Do amargor viceja a doçura quando há a intervenção de fora.
Querida comunidade.
Deus intervém neste mundo de amarguras com a cruz de Jesus. Ela é o símbolo máximo da amargura. Ao mesmo tempo é o símbolo máximo da doçura. Ao deixar-se ferir pelo juízo contundente de Deus, ao olhar para a obra de salvação e de justiça na cruz – justiça feita em nosso favor –, então compreenderemos que justo é carregar as cargas uns dos outros para cumprirmos a lei de Cristo (Gl 6.2).
Por isso, odeiem o mal, amem o bem; estabeleçam a justiça nos tribunais. Renunciem a tudo o que é idólatra. Façam uma exame profundo sobre a vontade de Deus para o nosso tempo. Que ninguém se deixe seduzir por aparências e, especialmente, pelas mentiras.Talvez o Senhor, o Deus dos Exércitos, tenha misericórdia dos remanescentes fieis à verdade.
Talvez!