Provérbios 9.1-10
“1A sabedoria construiu sua casa; ergueu suas sete colunas. 2Matou animais para a refeição, preparou seu vinho e arrumou sua mesa. 3Enviou suas servas para fazerem convites desde o ponto mais alto da cidade, clamando: 4“Venham todos os inexperientes!” Aos que não têm bom senso ela diz: 5“Venham comer a minha comida e beber o vinho que preparei. 6Deixem a insensatez, e vocês terão vida; andem pelo caminho do entendimento. 7“Quem corrige o zombador traz sobre si o insulto; quem repreende o ímpio mancha o próprio nome. 8Não repreenda o zombador, caso contrário ele o odiará; repreenda o sábio, e ele o amará. 9Instrua o homem sábio, e ele será ainda mais sábio; ensine o homem justo, e ele aumentará o seu saber. 10“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento.” NVI
Introdução
Vivemos em constante evolução de conhecimentos. Estudiosos, teóricos, jornalistas, filósofos, juízes e juízas, educadores, também religiosos, falam de teses e antíteses; usam palavreado complexo ou fazem suas exegeses particulares para justificar suas teorias com as quais querem mudar o mundo para outro jeito.
E quem ainda se ocupa com a sabedoria? Não me refiro à ciência e à vastidão do conhecimento humano. Falo do conhecimento que, associado à prudência, gera atitudes de sabedoria e bom senso. Essa “mercadoria” valorosa está em falta no supermercado da sobrevivência em meio às vaidades humanas.
“Sabedoria” é um termo precioso nos escritos bíblicos. A raiz ḥkm é verbo que designa “ser sábio”. Suas variações comparecem 318 vezes ao AT, das quais 102 estão no livro de Provérbios. Os nove primeiros capítulos deste livro falam desta sabedoria com intensidade incomparável, fazendo uso, por exemplo, da declinação hokma, a personificação da sabedoria.
A senhora Sabedoria
Hokma. Assim surge uma nova personagem bíblica. A Sabedoria é personificada (39 vezes em Pv. – a loucura também é uma mulher, a partir do verso 13) e, pelo que podemos entender do significado da palavra em seu contexto, passa a ter dupla função a partir do momento de sua personificação: ser porta-voz da revelação de uma autoridade superior, o mesmo que exercer a tarefa profética de anunciar o que lhe é revelado e, em segunda possibilidade, revelar a vontade divina para a humanidade à medida que a orienta para aceitar as orientações do Senhor.
A senhora Hokma passa a agir de forma concreta. Constrói uma casa. Um lugar de endereço fixo capaz de dar abrigo e acolhimento. É casa rica. Sete colunas sustentam a estrutura de um jardim interno. Lá estão as mesas, preparadas para que seja posicionado o banquete. Carnes são abundantes e o vinho é harmonizado (“misturou seu vinho” - ARA) para agradar ao paladar de todas as pessoas convidadas.
Em comparação aos atos da mulher loucura, a Sabedoria não age de maneira amotinadora e adoidada. A Sabedoria não fica sentada na porta de sua casa ou nos lugares visíveis para tirar pessoas desinformadas e simples do caminho (v.13-18). A loucura da vida fácil e sem princípios se torna atração acessível para todas as pessoas que passam. Não é o tipo de encantamento que a Sabedoria oferece.
O convite da Sabedoria
Para lá onde está a senhora Loucura, a senhora Sabedoria envia suas servas para que convidem, desde os pontos mais altos e visíveis da cidade, todas as pessoas simples. Quem são as pessoas simples? Quem sabe é a mesma pergunta que deveríamos fazer ao interpretar as palavras de Jesus nas “bem-aventuranças”: quem são os pobres de espírito?
Este adjetivo – simples – aparece 15 vezes em Pv. Se refere às pessoas que são facilmente persuadidas por aquilo que é enganoso e desprovido de prudência. Elas ainda não conhecem a Sabedoria e, afortunadamente, estão à sua procura, estão abertos à Sabedoria (cf. Sl 19.7: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices”).
Enquanto a loucura leva as pessoas a viver sem Deus, a Sabedoria chama para o convívio com Ele. Enquanto a loucura leva a crer que basta ser uma pessoa cristianizada, a Sabedoria ajuda a compreender a necessidade de repreensão, censura, instrução e compreensão. Ajuda a entender o conceito de santificação.
A Sabedoria convida para que pessoas sábias, aquelas que têm conhecimento e prudência, observem o que a loucura faz. Com muita ousadia e insistência, a loucura usa todos os artifícios para iludir e confundir. Já a Sabedoria convida para que a insensatez seja deixada para as pessoas que fazem questão de serem insensatas. Pessoas insensatas tendem a ser arrogantes, totalitaristas, que usam com facilidade a ofensa e o insulto. Não se deixam convencer e nem querem mudar.
Ou seja, a Sabedoria convida: venha submeter a sua vida ao convite daquela que edifica, traz comunhão e alegria em torno da mesa que está preparada para o banquete.
A Sabedoria atrai a atenção
A Sabedoria parece estar perdendo terreno neste mundo “queer” (estranho). Ela é quase apelativa para que, quem queira seguir o caminho da zombaria e ser contrário aos valores sagrados ou às práticas cristãs, o faça. Não usa de estardalhaço, mas coloca claramente as consequências sobre a aceitação de uma ou outra posição diante do Senhor. Quem não quer fazer uso do respeito e da prudência, segundo a orientação da Sabedoria, nem sequer deve ser repreendido.
Pessoas e instituições que passam a agir de forma irresponsável devem continuar fazendo o que fazem sem que sejam repreendidos ou questionados? “Tomara fossem eles sábios! Então, entenderiam isto e atentariam para o seu fim” (Deuteronômio 3.29 ARA). É assim que o texto bíblico reage em outro contexto, mas com o mesmo uso do termo hebraico. Enquanto a insensatez apela para a sedução do que é roubado ou feito às escondidas, a Sabedoria apresenta as armas da instrução e da justiça. Afinal, como já é sabido por autores de outros textos no Antigo Testamento, “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento.” (v. 10; Jó 28.28, Sl 111.10 e Pv 1.7)
Conclusão
Fica claro e evidente que a Sabedoria convida para que tomemos parte de uma festa especialmente preparada para nos proteger das investidas das estranhas loucuras que se fazem ver.
Sempre que grupos cristãos, que querem viver a autenticidade do Evangelho – e que não o façam por orgulho e ostentação –, fazem suas críticas aos movimentos que privilegiam o confronto à ordem, fazem suas críticas aos que acobertam o que não é justo, afrontam o sagrado e distorcem o texto bíblico de acordo com seus interesses, estes grupos cristãos são classificados de obscurantistas, fascistas e fundamentalistas. Se repreender as pessoas tolas, conforme o v.8, não é uma atitude sensata, antes aborrecedora, então parece ser o dever das pessoas sábias o de arrastar – pelo seu testemunho – mais gente à festa oferecida pela Sabedoria.
Seguindo na toada dos sábios conselhos, observemos: “Se és sábio, para ti mesmo o és; se és escarnecedor, tu só o suportarás.” “Ouve o conselho e recebe a instrução, para que sejas sábio nos teus dias por vir.” “Ouvi o ensino, sede sábios e não o rejeiteis.” (Provérbios 9.12; 19.20; 8.33).
De forma profética, a senhora Sabedoria é personificada em Jesus. O apóstolo Paulo descreve isto de forma brilhantemente inspirada à Igreja em Colosso “para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Colossenses 2.2-3 ARA).
Para onde queremos ser levados? Como pessoas ou como Igreja vamos deixar nos encantar com o que a maioria está fazendo? Vamos seguir com o que é moda hoje? De qual festa queremos participar? A da loucura ou a da Sabedoria? Estamos diante da escolha. É hora de decidir.
Nosso Pastor Presidente pede que “oremos para que Deus nos conceda sabedoria, capacidade de autocrítica tão necessária nestes tempos de pós-verdade, humildade, espírito de discernimento e capacidade de entendimento!”
É disso que precisamos, em todos os níveis! Que Cristo, o mistério de Deus, nos revele seus tesouros de sabedoria e nos faça andar somente em Seus caminhos.
Amém!
