Mateus 11.2 João, ao ouvir na prisão o que Cristo estava fazendo, enviou seus discípulos para lhe perguntarem: 3 “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar algum outro? ” 4 Jesus respondeu: “Voltem e anunciem a João o que vocês estão ouvindo e vendo: 5 os cegos veem, os mancos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e as boas novas são pregadas aos pobres; 6 e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”. 7 Enquanto saíam os discípulos de João, Jesus começou a falar à multidão a respeito de João: “O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? 8 Ou, o que foram ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que usam roupas finas estão nos palácios reais. 9 Afinal, o que foram ver? Um profeta? Sim, eu lhes digo, e mais que profeta. 10 Este é aquele a respeito de quem está escrito: “ ‘Enviarei o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti’ 11 Digo-lhes a verdade: Entre os nascidos de mulher não surgiu ninguém maior do que João Batista; todavia, o menor no Reino dos céus é maior do que ele.
Advento – ciclo aberto para a vida
Preparativos continuam – passos de esperança
Neste momento em que celebramos já o terceiro domingo de Advento de 2019, percebemos de forma cada vez mais intensa a chegada da data máxima do Natal. O Advento, simbolizado pela coroa com suas quatro velas, pode parecer, por um momento, um círculo fechado. Ora, um círculo que se fecha em si mesmo, e com ele aprisiona as histórias das pessoas, não nos serve aqui de exemplo para aquilo que o texto de Mateus nos ensina.
Quem deve vir?
João, o batizador, não sofreu nenhuma amnésia que o tenha feito esquecer que era primo de Jesus e que o batizara no rio Jordão marcando o início de seu ministério público. O Batista deu alguns passos para trás para estrategicamente observar de um pouco mais longe, perguntar e avaliar a situação.
Advento sugere que Jesus vem. Na verdade, ele não vem, não precisa vir. Ele já está aqui. Está em nosso mundo. O problema é que, em tantos lugares e em tantos momentos, o mundo não o vê e não lhe dá espaço. Tantas vezes nem mais as igrejas ditas cristãs lhe dão espaço. Nem pessoas ditas cristãs lhe dão espaço muitas vezes. Então mais este Advento não quer tanto renovar em nós a mensagem de que Cristo vem, mas que ele está aqui e que nós podemos contar com ele e pautar por ele e seu amor nossa vida, em casa, na Igreja e na sociedade.
Devemos esperar algum outro messias ou salvador?
O Senhor está aí e estão acontecendo coisas novas, milagres, vida nova. O reino de Deus se concreti¬zando. A comunidade experimenta a sua presença. Mas a velha realidade também ainda está presente e traz sofri¬mento, que é difícil de suportar. Por isso, a exortação para a perseverança e a paciência. O Senhor virá de novo e, desta vez, em toda a plenitude para estabelecer o Reino na totalidade e na eternidade.
Volte e fale!
“Quem deseja dar um salto para a frente, dá antes alguns passos para trás. (B. Brecht – 1898-1956)
Planejar o futuro ou chegar a alguma nova possibilidade na vida, é possível, mas somente para quem coloca seu passado em ordem. Sim, tratar do futuro é ter novamente o passado diante de seus olhos. A história pessoal, as vivências, as experiências de cada pessoa, sejam elas boas ou más, fazem parte do passado que vão dar o impulso para o futuro. Há pouco li a história de Adriana Quintiliano, baiana que, segundo um jornal digital, têm todos os elementos para despertar nela mesmo aquele coitadismo que a parte equivocada da militância gosta de cultivar por puro preconceito. Deu a volta por cima, usando suas más vivências – que não tem sido poucas – para lutar e vencer.
Enquanto ficarmos presos às coisas do passado dificilmente teremos o impulso suficiente para dar um salto de qualidade – incluindo esperança, confiança, mudança significativa – para nossa vida. Sem percebermos, ficamos tão atrelados às mesmices do passado que não conseguimos romper para um novo ciclo de vida.
Um salto para a vida
Advento é tempo de refrescar a vida, saltando para uma nova experiência, como a descrita pelo apóstolo Paulo: Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! (2 Coríntios 5.17)
Por analogia, entendemos que Jesus diz o mesmo quando, nas palavras de Mateus, cita Malaquias 3.1: “Enviarei o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti”. Ele nos acompanha neste salto qualitativo de vida, engajado pela justiça e amor ao próximo.
Salmo 51.10 – “Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável”. Entendemos que esta oração causa mudanças consistentes na humanidade a partir de um pedido pessoal:
Pessoas recebem cuidados.
Boas notícias são anunciadas
Há em que se possa novamente confiar.
Mortos são ressuscitados
Quem quer um futuro, revisita o passado e resgata nele os valores fundamentais de fé e confiança que foram semeados por anos em sua vida. No passado cada pessoa tem a oportunidade de organizar as culpas e as frustrações colocando-as debaixo da cruz do perdão e da reconciliação do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A fé em Cristo nos dá essa chance única de voltar, organizar a vida com Ele. Depois, correr e saltar para uma nova vida. Saltar sem o peso do passado nos faz alcançar uma distância maior. Isso pode fazer muita diferença na qualidade de vida.
Celebra a alegria contando os anos de esperança
Agora, vamos em frente. Não nos iludimos com “caniços agitados pelo vento” e nem com pessoas lindamente vestidas “de roupa fina”, como afirma o texto de Evangelho.
Conta os anos não pelo tempo, mas pelo espaço que ele abre em teu coração. Não pela amargura de uma dor, mas pela ressurreição que ela traz. Não pelo número de troféus de suas conquistas, mas pelo gosto de aventura e satisfação em suas buscas. Não pelas vezes que você chegou, mas pelas vezes que você teve coragem de começar novamente. Não pelos frutos que foram permitidos você colher até aqui, mas pelo terreno que foi preparado e as sementes que você lançou. Não pela quantidade dos que amam ou admiram você, mas pela grandeza de seu coração, capaz de amar a todos. Não desqualifique sua vida pelas desilusões que já lhe trouxeram tanta dor, mas pela esperança que suas palavras e gestos causaram em outras pessoas.
Um ciclo aberto para a vida
Quando prestamos atenção à vida em nossa comunidade, na Igreja, no país e, em particular, em nossa sofrida cidade com todas as suas mazelas (especialmente na área da saúde), temos traços fortes daquilo que o evangelista Mateus já denunciava. Muitas vezes o evangelista viveu dificuldades até de forma mais intensa, dramática, concentrada e sofisticada do que no tem¬po em que vivemos. A situação era dramática. O profeta João Batista, preso, aguardava sua decapitação, tudo porque falou a verdade denunciando a corrupção nos palácios herodianos.
Constatamos todo tipo de poderes, que aprisionam arbitrariamente pessoas, consciências e nações inteiras. Temos poderosos políticos déspotas, corruptos que escravizam a população nos corredores dos hospitais sem condições de dar assistência, aprisionam bandidos sem chances de se tornarem melhores, tiram empregos, transporte e alimento daqueles que sempre foram explorados. Também em nossa comunidade encontramos divisões, dis¬córdias, injustiças, omissões, desamores. Em toda parte, há ausência de valores e vivência do Reino de Deus.
A dinâmica da comunidade cristã dinâmica e sadia é dar e receber. E nesta dinâmica de dar e receber somos pessoas animadas para fazer valer o sinal
É com esta moldura que, mais uma vez, podemos viver um tempo de Advento – um ciclo aberto para a vida e a esperança.
Amém.