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Lucas 16.19-31 A Parábola do homem rico e Lázaro

Prédica Própria 21 Ano C / Autoria P. Me. Alexander Busch

15/09/2019

Que a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam conosco. Amém.

Eis a lição do professor, assim nos conta um de seus alunos. Era dia do exame final na universidade e eu havia estudado muito para obter uma boa nota. Como eu estava bem preparado, eu conseguia responder com facilidade às questões, mas fui pego de surpresa na última pergunta, “qual o nome do senhor que faz a limpeza das nossas salas da faculdade?” Hesitei. Cocei a cabeça. Eu não sabia responder a esta questão. Chutei uma resposta qualquer. Uma semana mais tarde, quando o professor retornou as provas, percebi que eu fui bem, exceto na última pergunta. O professor então explicou que para uma pessoa ser bem-sucedida na vida, não basta adquirir conhecimento. Também se faz necessário construir relacionamentos com as outras pessoas, incluindo pessoas que consideramos poder ignorar. Naquele dia eu aprendi uma lição para a vida. Mesmo as pessoas que julgamos menos importantes, elas também têm um nome, uma dignidade, e uma história. E antes que eu me esqueça, o nome do senhor que limpava as salas da faculdade era Jorge.

Assim como na lição do professor, na história contada por Jesus o homem rico não conhecia o nome do homem pobre. Apesar deste homem pobre estar tão próximo do homem rico – diz o texto que costumavam largar o pobre perto da casa do rico – o homem rico não sabia o nome daquele pobre pedinte. Existia um grande abismo entre estas duas pessoas.

E não estou me referindo somente ao abismo depois da morte. É certo que Jesus destaca o abismo entre eles depois da morte. Depois de morrer, o homem pobre foi levado para estar na companhia de Abraão, num lugar de paz e prosperidade, e o homem rico, por sua vez, foi levado para o mundo dos mortos, um lugar de tormento e sofrimento. Entre estes dois lugares, existia um grande abismo, de modo que não era possível atravessar de um lado ao outro. Jesus fala sobre este abismo depois da morte, mas não somente este.

Em vida, também existia um abismo entre estas duas pessoas. Jesus deixa isto bem claro ao destacar as diferenças entre eles. Por um lado, o rico vestia roupas muito caras, e o pobre estava vestido de feridas no corpo. Enquanto o rico se deliciava com banquetes todos os dias, o pobre esperava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa. Na medida em que o rico desfrutava da companhia de familiares e amigos, o pobre, deitado no caminho perto da casa do rico, tinha por companhia os cachorros que vinham lhe lamber as feridas.

Dá para perceber que não somente na morte, mas também em vida existia um abismo entre o homem rico e o homem pobre? Um abismo tão grande que o homem rico não repartia com o pobre alguma ajuda, e muito menos conhecia o seu nome. O rico decidiu ignorar o pobre que costumava ficar próximo de sua casa. O pobre tinha fome, mas o rico não se incomodava em repartir seu alimento. O pobre estava coberto de feridas, mas o rico não lhe dava uma vestimenta. O rico vivia dentro do seu próprio mundo - conduzia sua vida ignorando por completo o pobre, desprezando seu sofrimento e sua dor. O pecado do homem rico, seu grande pecado, pecado do qual nenhum de nós está livre, é viver indiferente ao próximo, é viver distante das pessoas que nos rodeiam, é viver apenas para si mesmo.

O exemplo que Jesus nos dá nesta parábola tem a ver com as riquezas. Por causa do seu amor ao dinheiro e seu amor ao seu estilo de vida, o homem rico cavou um abismo entre ele e pessoas que ele considera menos importantes – pessoas que o rico julgava poder ignorar. Em vida e na morte o rico cavou seu próprio abismo – um abismo que separava ele e o homem pobre.

É certo que, olhando ao nosso redor, em nosso país, nós também percebemos o abismo, a desigualdade social que existe entre as pessoas. Recentemente viajando para a assembleia sinodal em Maracaju-MS, na estrada podíamos observar o contraste entre casas luxuosas dentro de um condomínio fechado protegidas por cerca elétrica e arame farpado, e casebres bem humildes onde nem sempre o pão de cada dia se faz presente à mesa. No nosso país existe um abismo social entre pessoas que vivem em grande abundância e pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Esta parábola de Jesus nos confronta para perguntar pelos motivos deste abismo. Esta história de Jesus nos desafia, como igreja, na medida do possível, a buscar caminhos alternativos. É o próprio Jesus quem nos ensina a orar pelo Pão nosso de cada dia - não o meu pão, não o teu pão, mas sim nosso pão. Para Jesus o pão, alimento símbolo da dignidade da vida, é para ser repartido entre todas as pessoas.

Nossa reflexão, entretanto, não termina aqui. A imagem do abismo é bastante sugestiva e instrutiva. Quais são os outros abismos que existem na vida das pessoas – abismos que separam as pessoas umas das outras? O abismo da ganância de acumular riquezas e bens materiais tem levado pessoas a se dedicar demais ao trabalho, negligenciando a família, desprezando a convivência em comunidade. O mesmo abismo da ganância alimenta conflitos familiares na hora de repartir a herança dos pais. Irmãos, irmãs se desentendendo por causa do patrimônio. Aqui lembro, se possível, cabe aos pais, em vida, encaminhar a partilha de forma justa entre os herdeiros para evitar este tipo de conflito. Outros possíveis abismos que separam as pessoas são: o abismo das mágoas não resolvidas, dos sentimentos de vingança que envenenam o relacionamento, ou ainda o abismo do orgulho, de se achar melhor do que as outras pessoas, de nunca dar o braço a torcer porque a razão sempre está comigo e não com a outra pessoa.

E ainda existem os abismos que não são escavados pelas próprias pessoas, mas que vem de fora. São abismos que se impõem na vida das pessoas, como, por exemplo, uma doença grave que, como areia movediça, paralisa a pessoa, puxando sua família para baixo, dificultando sua convivência com outras pessoas. Ou ainda, o abismo de um sistema econômico que escraviza, um sistema que obriga pequenos produtores a viverem em prol da granja de frangos ou outro tipo de criação. Porque a criação exige cuidados permanentes, esta pessoa e sua família muitas vez tem dificuldade de participar nos cultos ou em outros encontros entre pessoas, porque depende deste trabalho para o pão nosso de cada dia.

Na parábola contada por Jesus, o homem pobre é vítima e escravo deste abismo, que mantém ele firme na pobreza, nas margens, no esquecimento. Enquanto em vida, o homem rico não se lembrava do homem pobre. Interessante observar que somente na morte o homem rico finalmente percebe a existência do homem pobre e até mesmo lhe chama pelo nome, “tenha pena de mim! Mande que Lázaro molhe o dedo na água e venha refrescar a minha língua porque estou sofrendo muito neste fogo” (v.24). Mas agora, segundo Jesus, é tarde demais. Existe um grande abismo entre ele e Lázaro. Esta história de Jesus nos serve como alerta, como advertência. Cuidado porque quem cava um abismo corre o risco de nele cair e morrer.

Mas ao longo desta parábola Jesus também nos oferece esperança, uma palavra de libertação, evangelho!! A boa notícia nos encontramos no nome do homem pobre, Lázaro. Talvez você tenha percebido que somente agora, caminhando para o final de nossa reflexão, eu destaco o nome do homem pobre da parábola de Jesus. Fiz isto de propósito, para dar-lhe a devida ênfase. Seu nome é Lázaro.

Se, por um lado, nós nunca ficamos sabendo o nome do homem rico, Jesus nos diz o nome do homem pobre, Lázaro. Isto, por si só, é significativo. Normalmente, tanto nos tempos de Jesus como nos dias de hoje, quem ganha destaque são as pessoas ricas, as pessoas que tem fama e dinheiro. Qualquer visita a um site de notícias prova isto. Quem ganha destaque são as pessoas ricas, famosas. Pobre, quando aparece nas notícias, geralmente é por causa de um crime ou tragédia.

Mas o evangelho vai além. O nome Lázaro significa “a pessoa que é ajudada por Deus.” Sim, na parábola vemos Lázaro recebendo ajuda. Não era por sua própria força que ele chegava ao local onde pedia esmolas, mas Lázaro era carregada até próximo da casa do homem rico. Lázaro não podia se alimentar, mas esperava o alimento vindo das mãos de outras pessoas. Mesmo na morte, Lázaro depende dos anjos para ser carregado para junto de Abrão. Lázaro – “a pessoa que é ajudada por Deus”. Deus se lembrou de Lázaro. Ao longo desta parábola, Deus conhece Lázaro pelo nome.

Não é esta também a nossa esperança, quando nos aproximamos de Jesus e aguardamos a ajuda de Deus? Não é esta a nossa esperança que Deus conhece cada um, cada uma de nós pelo nome? O evangelho é a boa notícia da acolhida de Deus, que nos carrega para dentro de sua comunidade, a igreja. Esperamos de Deus o alimento do evangelho que nos dá nova vida, confrontando nossos pecados, questionando nosso estilo de vida, compreendendo nossas lutas e fraquezas, nos libertando de nossos abismos. O evangelho nos carrega para junto de Deus, aproximando pessoas, impulsionando a partilha, motivando a comunidade a ir ao encontro de pessoas enfrentando uma doença ou ir ao encontro de pessoas que, por causa do abismo do sistema econômico, precisam também de comunhão, mesmo que seja uma visita em casa.

O evangelho é Cristo Jesus, a ponte da reconciliação erguida acima dos abismos humanos, que foi ressuscitado dentre os mortos para fazer o nome de toda pessoa que busca a ajuda a Deus, incluindo o nosso nome, fazer deste nome, um nome conhecido e lembrado por Deus. Amém.


  


Autor(a): P. Ms. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 19 / Versículo Final: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 53309

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