Pregação na Igreja Evangélica Reformada em Castrolanda - Castro PR
Prezada comunidade em Cristo, meus irmãos, minhas irmãs
A nossa leitura de hoje, do evangelho segundo João, é uma história que nos fala de despedida. Jesus e os discípulos estão celebrando a páscoa judaica. Nesta ocasião Jesus institui a Santa Ceia e dá o exemplo de serviço humilde ao seu colocar no lugar de um escravo para lavar os pés dos discípulos. Jesus sabe que em breve ele terá de enfrentar a cruz. Ao se despedir de seus amigos, Jesus lhes assegura de que diante de sua própria ausência não há porque de seus corações ficarem aflitos. Jesus está preparando um lugar para aqueles que o amam, e seu destino não é nenhum mistério, “Não fiquem aflitos. Na casa do meu Pai há muitos quartos, e eu vou preparar um lugar para vocês . . . depois eu voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também”. Jesus ainda acrescenta, “vocês conhecem o caminho para o lugar aonde eu vou”. Tomé, um dos doze, reage em nome do grupo, dizendo: “Senhor, nós não sabemos aonde é que o senhor vai. Como podemos saber o caminho?”.
Como nós podemos saber o caminho? A pergunta pelo caminho também faz parte de nossa vida. Queremos saber por onde andar. Queremos saber qual é o rumo que devemos dar à nossa vida. E não só isto! Queremos saber para onde a vida nos leva. Estamos sempre à caminho. Mas o percurso que devemos e queremos percorrer, qual será? O destino que queremos alcançar, qual será? O dia de amanhã, como será? Como melhor nos preparar para os acontecimentos no percurso? Em outros termos, queremos escrever nossa história de vida, queremos saber o que nos aguarda na nossa biografia.
O futuro, entretanto, nos é desconhecido. Por exemplo, quando alguém festeja seu aniversário, nós lhe desejamos felicitações e bons votos para o dia de amanhã. Ou ainda, quando os noivos selam publicamente seu compromisso de caminharem juntos, desejamo-lhes a benção de Deus para esta nova e importante etapa na jornada. Os bons votos pelo aniversário, a benção matrimonial que expressamos, demonstram nosso desejo e oração que a próxima etapa na caminhada seja segura. Fato é que todos nós estamos à caminho, mas não sabemos como será o caminho. O futuro é sempre uma incógnita, cheia de segredos. Nossa esperança é poder percorrer este caminho sem cruzar com imprevistos desagradáveis.
Tanto que tomamos, o quanto possível, os cuidados necessários para que a jornada transcorra da melhor maneira. Neste exemplo a seguir lembro especialmente as mães porque hoje no calendário civil se celebra o Dia das Mães. Os pais, entretanto, também colaboram neste sentido. Fato é que aprendemos de nossas mães as primeiras letras. Elas nos ensinam e falar e muitas dão um passo além, ao lerem histórias da Bíblia ou histórias de outros livros. As mães que se ocupam com o porvir de sua criança desde cedo insistem que sua criança aprenda e estude. Isto porque as mães sabem um segredo que nem sempre os filhos reconhecem: a dedicação aos estudos é um preparo para o futuro. Quem se dedica com afinco aos estudos tem melhores garantias para que sonhos e projetos se tornem realidade. Uma generosa herança, um grande pedaço de terra, ajuda, mas melhor ainda é quando o jovem busca nos estudos, na faculdade, o conhecimento necessário para desempenhar bem sua profissão, prover um sustento confortável para sua família e se realizar como pessoa.
As pessoas que almejam tornar realidade seus sonhos precisam traçar objetivos e alimentar a esperança de alcançá-los. A maioria das pessoas sabe disso, e, mesmo ainda que os recursos e oportunidades sejam escassos – uma triste realidade para tantas famílias em nosso país – as pessoas lutam, se esforçam para conquistar seu lugar no sol. Nós temos que trabalhar e tomar as rédeas do destino. Quem cruza os braços, coloca o futuro a perder.
Planejar, sonhar, elaborar o rumo a ser percorrido fazem parte de nossa caminhada. Mas não somente pessoas fazem isto. O mesmo se aplica a firmas, empresas, estados, instituições, entre elas a igreja. Sim, até mesmo uma comunidade cristã como esta, a igreja evangélica reformada em Castrolanda, precisa administrar seus sonhos e objetivos a fim de percorrer o caminho para o qual Deus a chama.
Como disse anteriormente, quem pergunta pelo caminho, se pergunta para onde eu quero ir? O que queremos alcançar na vida? Que biografia nós desejamos escrever? Nós bem sabemos que isto é possível, apenas em parte. Muitas vezes o caminho que nós escolhemos e o caminho pelo qual nós somos conduzidos são coisas distintas. Existe o futuro planejado para o qual nos preparamos. Existe o futuro inesperado, o futuro cujo caminho não está sob nosso controle. Pode acontecer algo que nos obriga a mudar radicalmente o rumo: uma porta que se fecha diante de nós, uma doença, oportunidades que nos são removidas independente de nossa vontade, decisões imaturas cujas consequências somente mais tarde iremos perceber. Muitos e tantas são as surpresas ao longo do caminho que podem desviar nosso trajeto. Algumas surpresas são agradáveis, outras nem tanto. Não há como prever o que nos aguarda após a próxima curva da estrada.
Há pessoas bem que tentam ao consultar cartomantes e outros videntes para, de uma ou de outra forma, desvendar o futuro. Estas são tentativas humanas de descobrir o futuro. À luz da palavra de Deus nunca vão ter êxito. Como pessoas o chamado que Deus tem para nós é o caminho da fé.
Neste caminho da fé a nossa visão do amanhã é sempre parcial. Sim, nosso olhar se estende ao horizonte, mas não além deste. Caminhamos rumo ao futuro com uma percepção limitada. O futuro se abre diante de nós sem conhecermos de antemão todos os detalhes. Não sabemos por quais caminhos teremos de trilhar na vida. A próxima curva nos impede de ver o que está do outro lado. Quando caminhamos rumo ao horizonte, o horizonte continua nos iludindo, pois o horizonte sempre está além do que podemos enxergar.
Por isto é bom retornar nosso olhar e nosso ouvir para as palavras de Jesus. Jesus diz à sua comunidade, “Não fiquem aflitos, eu sou o caminho”. Em outras palavras, Jesus se coloca ao nosso lado como companheiro na jornada. No caminho da fé Jesus pede para nele confiar. Confiar que Jesus é a presença de Deus que vence o poder do mal. Até mesmo a morte não tem poder sobre Jesus. A páscoa cristã anuncia a boa notícia. O império romano queria calar a voz de Jesus pregando-o numa cruz, mas a morte não foi grande o suficiente para restringir Jesus. Pela sua ressurreição Jesus é a presença de Deus que supera os limites físicos deste mundo. Jesus é o companheiro de jornada no tempo presente, no tempo futuro e no tempo além do futuro.
Neste caminho da fé Jesus caminha conosco, sustentando nossos passos e, caso venhamos a tropeçar, nos ajudando a levantar e seguir adiante. Sob o seu amparo, as aflições que cruzam nosso caminho – e não há como evitá-las – são obstáculos às vezes difíceis de percorrer, mas não são obstáculos intransponíveis. Até mesmo a morte perdeu o seu horror. Pois o futuro inesperado, o futuro cujo caminho não está sob nosso controle, inclui, pela graça de Deus, uma casa com muitas moradas.
Por fim, um último pensamento sobre as palavras de Jesus, “eu sou o caminho”. Além de companheiro na jornada, Jesus é quem delimita o contorno de nosso caminho. Para exemplificar quero contar uma história que ouvi de um pastor que estava visitando um grupo de aldeias indígenas. No dia seguinte o pastor queria visitar também a tribo vizinha. Como o caminho passava pela mata fechada, lhe deram como guia um índio que conhecia bem a mata.
De início, ainda antes de alcançarem a mata, o caminho estava bem definido. O carro seguiu um bom pedaço de viagem. Quando começou a mata fechada, tiveram que continuar a viagem a pé. O índio ia à frente e o pastor lhe seguia por trás. Por um tempo podiam perceber uma trilha na floresta, mas a vegetação estava ficando cada vez mais densa.
De repente, não havia mais trilha, mas o índio não vacilou nem por um momento. Ela continuava andando. O pastor então perguntou ao índio, “Mas aqui não tem caminho! Será que não estamos perdidos na floresta?” E o índio respondeu, apontando o dedo para o próprio peito: “O caminho daqui para frente SOU EU!”.
Depois desta informação o pastor não tirou mais os olhos do índio. Quando o índio pulava para cima de uma pedra – ele também pulava. Quando o índio se abaixava para quase ajoelhado caminhar por baixo dos arbustos – o pastor também se abaixava. Quando o índio corria – ele também corria. Quando o índio ia devagar – os dois viajantes caminhavam no mesmo passo. O que o índio fazia – o pastor também fazia. E juntos, seguros, chegaram ao seu destino.
É isto o que Jesus quer dizer quando fala de si mesmo, “eu sou o caminho”. Ao caminhar com Jesus precisamos ter nosso olhar fixo nele. Quando lemos sua Palavra, quando oramos com Jesus, quando invocamos seu nome, ele é fiel para iluminar nosso pensar, nosso sentir e nosso agir. Sua palavra e presença é o caminho que devemos seguir mesmo quando não conseguimos enxergar a trilha no meio da mata densa, mesmo quando o futuro nos é desconhecido. Tendo Jesus como caminho nós saberemos por onde e como caminhar. Amém.