Leitura Bíblica Básica: 1 João 4.16b-21
Outras Leituras:
Autor: P. Clovis Horst Lindner (Blumenau - SC)
e-mail:
Origem: CEJ - Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville - SC
Data da pregação: 15/06/2008
Data Litúrgica: 4º Domingo após Trindade
Prédica:
Tema: Você precisa de que? Você precisa de AMOR
Nossa pergunta dessa semana é: VOCÊ PRECISA DE QUÊ? Já trouxemos duas respostas muito importantes a essa pergunta. Na nossa primeira noite, descobrimos que a primeira coisa que precisamos é de uma BASE, um FUNDAMENTO para as nossas vidas. Sem isso, corremos o sério risco de construir a nossa vida sobre a areia, sobre um fundamento que é um perigo diante das muitas tempestades que nos atingem ao longo da vida.
Na segunda noite, nossa resposta para a pergunta Você precisa de quê? foi UM SONHO! Precisamos de esperança, de algo pelo qual lutar e, principalmente, que necessitamos crer que este mundo não precisa ser como ele é, mas que pode ser melhor, mais bonito, mais justo, mais harmonioso do que é hoje. Descobrimos que nossa inspiração para isso pode ser o livro de Apocalipse, que fala de um novo céu e uma nova terra. Falamos também que este novo céu e nova terra não são um sonho distante, apenas para o final dos tempos, mas que somos chamados a deixar rastro dessa nossa esperança, a co-locar sinais concretos, ao nosso redor, de que esse novo mundo já pode ser realidade agora, em parte. Concluímos que precisamos ser como o passarinho que para apagar o fogo da floresta pega uma gotinha no bico e vai à luta. Pre-cisamos fazer a nossa parte.
Hoje de manhã, neste belo domingo, em nosso culto, na semana do Dia dos Namorados, queremos dar nossa terceira resposta à nossa pergunta: Você precisa de quê?. Três dias depois do dia dos namorados, a nossa resposta de hoje só pode ser muuuuito romântica.
Vamos ler 1 João 4.16b-21: 16 Deus é amor e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. 17 Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. 18 No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. 19 Nós amamos porque ele nos amou primeiro. 20 Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. 21 Ora, temos da parte dele este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão.
Eu quero convidar vocês a fazerem um exercício mental, nesse momen-to. Imagine que você tem uma folha de papel em branco diante de si. Na parte superior, pode-se ler a seguinte pergunta: Qual é o seu maior desejo? O que você escreveria nesta folha?
Qual seria a sua resposta a esta pergunta? Talvez, quem ainda está mui-to cansado dessa semana inteirinha de trabalho, irá escrever sem o menor constrangimento que seu maior desejo nesse momento teria sido ficar debaixo das cobertas por algumas horas a mais, nesse friozinho, e não ter que vir aqui ouvir a conversa do pastor... Depois de dormir um pouco mais, talvez você se anime a fazer um foguinho na churrasqueira e faça um churrasco para a famí-lia ou para os amigos, tome uma cervejinha e volte para a cama por mais al-gumas horas. Este pode ser um bom desejo num domingo de frio.
Mas, se em sua família há alguém doente, o seu desejo poderia ser de que tal pessoa querida volte a ter saúde. Se você mesmo está angustiado com algum problema de saúde, ou outro qualquer, irá desejar ardentemente que seu problema seja resolvido. Quem está a algum tempo desempregado, ou procu-rando por um emprego, vai desejar para si um emprego, com o qual possa sus-tentar a si e sua família. Quem ainda não encontrou a pessoa amada, o príncipe encantado, alguém para dar flores no dia dos namorados, vai desejar que isso se torne uma realidade.
Outro talvez logo pense em alguma solução financeira para resolver seus problemas, como por exemplo, ganhar a Mega-sena e colocar a mão nu-ma boa grana. Ou, talvez, você esteja pensando em sucesso, reconhecimento, felicidade no casamento ou algo semelhante. Essa inquietação interior tem le-vado muita gente a caminhos que nem sempre levam a um bom resultado. É uma busca desesperada por felicidade, satisfação, sucesso. Muitas vezes, infe-lizmente, o que se encontra nessa busca é mais sofrimento ainda, como já vi-mos no nosso encontro de sexta-feira à noite.
Qual é o seu maior desejo? Talvez você entrementes já tenha encontra-do sua resposta bem pessoal a essa pergunta. Aquilo que desejamos, com que sonhamos, diz muito a respeito de nós mesmos. Pois, nossos desejos mais in-tensos revelam o que nos falta, o que para nós é mais importante, mais precio-so e mais preenche nossas esperanças. Por isso, quem sabe, você nem queira revelar aos outros qual é seu maior desejo, aquilo que você mais gostaria de ter. Prefere guardar para si mesmo e isso também é um direito seu.
É bem provável, no entanto, que a minha pergunta esteja formulada de maneira errada. Em vez de perguntar pelo seu maior desejo, eu deveria per-guntar do jeito que estamos perguntando desde nosso primeiro encontro: O que você realmente precisa? Qual é a sua maior necessidade?. Essa pergunta vai bem dentro do espírito desta nossa semana de evangelização: Você preci-sa de quê?.
No final dos anos 60, os Beatles gravaram uma canção que fez muito sucesso, e que poderia conter uma boa resposta a esta pergunta do nosso bilhe-te imaginário. O nome desta canção é: All you need is love (tudo o que você precisa é de amor). Eu penso que essa canção ainda tem muita razão a respeito de nossas necessidades mais profundas. Podemos buscar muitas coisas, mas no fundo mesmo estamos em busca de reconhecimento, aceitação, respeito, visibilidade ou mesmo de um pouco de carinho. Ou seja, em busca de um pou-quinho de amor.
All you need is love. Será que há algum tema mais cantado, comentado, falado e representado em todas as formas de arte que o amor? Ele é um dos temas preferidos dos poetas, dos escritores, dos cineastas, dos diretores de no-velas e até de gente comum, como nós. E um dos maiores perigos que corre-mos é imaginar ou entender o amor a partir daquilo que aparece nas novelas, na televisão, nos romances ou mesmo no cinema. Há muito exagero ali e eu até diria que às vezes a gente passa a entender o amor de forma totalmente er-rada e, em vez de conseguir amor, a gente consegue ódio, desprezo, frieza das outras pessoas.
Mas, o que é o amor? Que força é essa que tanto mexe conosco, deter-minando nossos desejos mais intensos? Há muitas formas de entender o amor. Para muitos o amor é um sentimento egoísta: Eu tenho muita clareza sobre o que é bom para mim e do que eu gosto e você deve fazer de tudo para me sa-tisfazer. Para outros, ele é um sentimento de posse: Eu quero ser o seu pro-prietário e dispor de você e do seu corpo como e quando bem entender.
O amor também pode ser a atração entre um homem e uma mulher... ou o cuidado dispensado pelos pais aos filhos... ou ainda o fim da solidão. Tam-bém pode ser encarado como sentimento de simpatia pelo outro... ou uma pa-lavra amiga e acolhedora... ou, enfim, o empenho por alguém muito querido que se encontra em dificuldade. Mas, no fundo mesmo, todas essas definições sobre o amor resumem aquilo que a maioria de nós escreveria naquela folha de papel imaginária, que mencionei no início.
Deus é amor
Nosso texto de pregação de hoje fala do amor. João, lá pelo ano 105 da era cristã, não teve dúvida ao definir o que é o amor. Deus é amor, ele es-creveu, resumindo em três palavras toda a mensagem do Novo Testamento. Ele não escreveu que Deus nos ama mais que tudo que existe no universo. Ele definiu o próprio Deus nessas palavras. Para João, Deus não é somente alguém que ama, mas Deus é amor. Não há melhor definição do que seja amor. Não há melhor definição do que seja Deus.
O reformador Martim Lutero usou uma figura muito bonita para tradu-zir o significado dessa palavra: Se alguém quisesse fazer uma pintura de Deus, ele teria que pintar um abismo de fogo - um forno em chamas, repleto de amor em brasa. Deus é todo amor, sim, o amor é o próprio Deus.
Deus é amor, isso significa: o ato de voltar-se na direção do outro, de vir ao encontro da humanidade, está ligado à própria essência de Deus. Isso fica bem claro em seu ato concreto e definitivo de amor: Jesus Cristo. Sua essência amorosa evidencia-se justamente no fato de ele não revidar o desa-mor e a violência que seu filho experimentou na cruz, pagando na mesma mo-eda. Ele suportou tudo por amor.
Esse amor que Deus revela, portanto, não é somente um amor feito de bons sentimentos, mas do poder de suportar todas as forças negativas e até a própria morte. No versículo anterior ao nosso texto, João expressa isso desta maneira: Nisso se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus envia-do seu filho unigênito ao mundo para vivermos por meio dele. O amor de Deus, portanto, é um poder que cria vida. Portanto, não basta escrever num pedacinho de papel: All you need is love. O amor é tudo que precisamos em nossa vida, mas é necessário que realmente queiramos receber amor, que queiramos viver amor e deixar que ele tome conta da nossa vida, determinan-do tudo que somos, fazemos ou deixamos de fazer.
Aquele que permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele, diz João. Portanto, não se trata somente de experimentar um pouco de amor de vez em quando, mas de permanecer no amor, permitindo que sejamos renova-dos por ele todos os dias e que ele também nos transforme em amor. Aquele que recebe a abundância e a abrangência do amor de Deus não somente se transforma em alguém que é amado, mas passa a ser o próprio amor.
Amados, nos tornamos amor
O terceiro aspecto do amor de Deus carrega consigo a nossa responsabi-lidade. Como filhos amados de Deus, nós não temos o direito de guardar esse amor somente para nós. Temos a responsabilidade de passar adiante esse a-mor, para aqueles que precisam dele. João o diz de forma bem simples em nosso texto: Aquele que ama a Deus, ame também o seu irmão. Essa é a maneira pela qual o amor de Deus chega ao mundo, pela maneira como nós repartimos o que temos, aplicamos nossos dons, servimos os outros. Os olhos do próximo são espelhos em que podemos ver o Cristo refletido. Tudo o que fizerdes a um destes pequeninos irmãos, a mim o fizestes, disse Jesus.
A vida cristã só está de acordo com a vontade de Deus a partir do mo-mento em que ela é vivida em amor ao próximo. Isso naturalmente se diz mui-to mais facilmente do que se faz. Se o mundo deve viver do amor, se o amor deve ser o elo de ligação entre as diferentes pessoas, se as decisões desse mundo devem ser conseqüência do amor, então os cristãos têm a tarefa de a-mar o seu próximo como a si mesmos. Sabemos que justamente nesse ponto temos falhado todos os dias, nos gestos mais simples e corriqueiros da vida.
Basta olhar em volta para ver quanta desgraça, exclusão, injustiça, falta de amor, indiferença e desrespeito ao próximo somos capazes de causar. Co-mo se isso tudo não bastasse, tem gente que defende a idéia de que o egoísmo é algo natural e importante, porque ajudou o homem a progredir e a preservar sua existência ao longo da história. Confundir egoísmo com instinto de so-brevivência é rebaixar o ser humano ao que há de mais vil na natureza. Ora, o egoísmo é o que há de pior no ser humano, porque é o que o torna incapaz de reconhecer o amor e a justiça de Deus.
Quando descobrimos que Deus é amor, então também podemos amar ao nosso irmão, ou melhor, então precisamos amá-lo porque essa é a tarefa que recebemos de Deus como seus filhos amados. Que possamos deixar esse amor crescer em nossos corações; mas não para guardá-lo para nós mesmos, mas despojando-se do egoísmo, amando ao nosso próximo com base no amor que Deus nos dá por meio de Jesus Cristo.
Amém.
P. Clovis Horst Lindner
Blumenau - SC