IECLB e Igreja Católica Apostólica Romana


- Brasil
ID: 2723

Hospitalidade Eucarística

2º.Seminário Bilateral IECLB - CNBB - 8-9/12/1998

09/12/1999

Que todos sejam um... para que o mundo creia que tu me enviaste (Jo 17,21)

Motivados pela palavra do Senhor, 23 pessoas da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e da Igreja Católica, reuniram-se em Porto Alegre, nos dias 08 e 09 de dezembro de 1998, num seminário bilateral para tratar sobre a hospitalidade eucarística. Deu-se, assim, continuidade à caminhada ecumênica bilateral. Nesse sentido, havia se realizado, em novembro de 1996, em Porto Alegre, um seminário sobre a Doutrina da Justificação por Graça e Fé, que contribuiu para a declaração conjunta, a ser assinada, como esperamos, em breve.

A hospitalidade eucarística é a possibilidade de participar nas ceias celebradas por outra confissão. Não é a concelebração e a participação constante. Acontece onde cada Igreja administra o sacramento ao seu modo, admitindo, em situações especiais, membros de outra Igreja.
Cristo nos faz sonhar com a comunhão plena entre comunidades das duas Igrejas que celebrem juntas a mesa do Senhor. Isto é o que se denomina comumente com o termo intercomunhão.

Declaração

1. Constatamos com alegria que no santo Batismo nos aceitamos uns aos outros como filhos e filhas do mesmo Pai e, portanto, como irmãos e irmãs. Somos incorporados em Cristo, por meio deste santo sacramento. Mas é lamentável e escandaloso o fato de que na mesa do Senhor ainda estejamos divididos e não possamos ir juntos à mesma Santa Ceia.

A mesa é única e indivisível. Ela sempre está dada anteriormente à nossa construção da unidade e vai além das nossas diferenças doutrinais.

2. As nossas Igrejas, em nível internacional e nacional, encontram-se num longo processo de busca por entendimentos sobre a possibilidade de ter comunhão de mesa.

3. Neste sentido, registramos, com alegria e gratidão, os seguintes consensos:

• Constatamos uma serie de realizações e celebrações da hospitalidade eucarística, assim como o ardente desejo de encontrar urgentemente formas e caminhos para a concretização da mesma.

• O mesmo Jesus Cristo que celebrou a ceia pascal, alusiva ao Êxodo, e a transformou em ceia da Nova Aliança, antecipando sua entrega ao Pai em nosso favor, é quem virá no final dos tempos, para celebrar a ceia eterna, e quem está presente em nossas celebrações eucarísticas.

• Jesus Cristo nos mandou celebrar, em sua memória, sua vida, paixão, morte e ressurreição e a sua volta no fim dos tempos.

• Quando a comunidade celebra a Santa Ceia, torna-se presente e atualizado o único sacrifício de reconciliação de Cristo por nós. É o Cristo todo que celebra, cabeça e corpo.Assim como Ele se oferta e reparte, nós nos ofertamos e repartimos, com todo nosso ser, no serviço a Deus no mundo. E assim nós, reconciliados por Cristo, respondemos ao abraço do Pai, como Cristo o fez, entregando-se na Cruz. A Santa Ceia nos dá a firme confiança de que estamos salvos em Cristo. A criação toda participa da nossa ação de graças, dos dons de Jesus Cristo e da nossa esperança.

• Há consenso quanto à presença real de Jesus Cristo e que Ele é hospedeiro, hóspede e alimento.

• Há consenso quanto à celebração sob duas espécies.

• Estamos de acordo que a fé é resposta à palavra proclamada. Na palavra proclamada Cristo se entrega por nós e provoca a nossa resposta de fé que atua pelo amor. A palavra está, também, no cerne do sacramento. Os católicos estão redescobrindo que a proclamação da Palavra é parte integrante de toda celebração. Os evangélico-luteranos, por sua vez, estão redescobrindo que o culto cristão, desde a sua origem, é culto eucarístico.

• A comunhão com Cristo na Eucaristia é dádiva salvífica para nós e para o mundo. Ele nos reconcilia com o Pai e entre nós. O Senhor vence todas as discriminações, exclusões e divisões, criando uma comunhão que ultrapassa os limites das Igrejas, tornando estas um sinal para o mundo. Isto nos compromete a construir, em colaboração com todas as pessoas de boa vontade, um mundo mais justo e mais solidário. Assim a Eucaristia contém implícita uma dimensão social e política que promove a justiça, a paz e a preservação da criação.

Em nosso País, marcado pela pobreza e pela exclusão social da maioria do povo, a Eucaristia deve ser, também sinal do perene esforço das Igrejas no resgate da dignidade humana e na promoção da cidadania.

4. Os consensos acima arrolados, além de outros mais, e sobretudo o fato de a Eucaristia ser dom e sinal de reconciliação, nos levam a clamar pela comunhão plena entre as nossas Igrejas. A Santa Ceia é, simultaneamente, fonte, expressão, exigência e meta escatológica da unidade. Neste processo de aproximação, destacamos os passos já conseguidos e em concreto algumas formas de hospitalidade eucarística. Queremos incentivar os esforços de superação das dificuldades e a responsabilidade de cada irmão e irmã diante deste processo. Somos conscientes de que permanecem divergências, especialmente quanto ao ministério e à eclesiologia, que têm impedido, até agora, a plena intercomunhão.

5. Propomos alguns passos concretos:

=>realizar um próximo seminário de estudos sobre ministério e eclesiologia, buscando uma compreensão comum e o reconhecimento mútuo;
=> divulgar nas nossas comunidades os consensos já alcançados;
=> estimular a prática da hospitalidade eucarística, principalmente nas circunstâncias em que a íntima convivência dos membros de uma e outra confissão está a exigir uma maior participação na celebração da fé comum,
=> estimular, também, o ecumenismo de base;
=> preparar uma celebração ecumênica para o ano 2000.

Porto Alegre, 09 de dezembro de 1998

Veja mais:

Hospitalidade Eucarística

Apresentação – Huberto Kirchheim

Palavras de Apresentação – Dom Ivo Lorscheiter

Hospitalidade eucarística - Declaração de um seminário bilateral — IECLB-CNBB

Hospitalidade eucarística - Silfredo Bernardo Dalferth

Lucas 17.11-19 — Uma reflexão ecumênica - Gottfried Brakemeier

Admissão Mútua à Ceia do Senhor - Joseph Hoffmann, Wenzel Lohff e Harding Meyer

Eucaristia e unidade eclesial - Juan A. Ruiz de Gopegui, SJ


Âmbito: IECLB / Organismo: Igreja Católica Apostólica Romana - ICAR
Título da publicação: Hospitalidade Eucarística / Editora: EDIPUCRS / Ano: 2000
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Ecumene
ID: 13906
Quem persiste na fé, verá, ao final, que Deus não abandona os seus.
Martim Lutero
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