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ID: 2690

Marcos 4.26-34

Auxílio Homilético

13/06/2021

Prédica: Marcos 4.26-34
Leituras: Ezequiel 17.22-24 e 2 Coríntios 5.6-10
Autoria: Marcia Blasi, Marli Brun e Juliana Hoelscher Silveira
Data Litúrgica: 3° Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 13/06/2021
Proclamar Libertação - Volume: XLV

O mistério do reino de Deus

1. Introdução

Neste 3º Domingo após Pentecostes, 13 de junho, dia em que lembramos o casamento de Katharina von Bora e Martim Lutero, o texto da prédica nos leva a refletir sobre o reino de Deus no meio de nós. O mistério do reino de Deus é diverso, como é a vida em cada tempo, em cada lugar, em cada situação, em cada contexto e em cada coração.

O texto de Ezequiel 17.22-24 faz referência ao período de dominação babilônica sobre o antigo Israel. O profeta Ezequiel anuncia a esperança ao dizer que Deus mesmo “vai tirar a ponta de um cedro alto e plantar o broto no monte mais elevado de Israel. O broto vai crescer e transformar-se em uma árvore grande, sob cuja sombra pássaros de todos os tipos acharão abrigo” (BRAKEMEIER, 2008, p. 239s).

Em 2 Coríntios 5.6-10, Paulo ajuda a comunidade a compreender que a vida, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo não eliminarão o sofrimento, a tristeza e a dor com que nos defrontamos no dia a dia. Morrer com Cristo é ter Cristo presente em nossa vida, manter o ânimo e confiar que algum dia nós estaremos plenamente junto dele, em seu Reino.

Para que não nos percamos, focando só no tempo presente ou só no futuro, confiando só na ação de Deus ou só na nossa ação, Jesus nos fala sobre o reino de Deus de diferentes formas. Numa época em que fariseus diziam que a chegada do reino de Deus estava associada ao cumprimento da lei, que zelotes afirmavam que seria pela revolução armada, que para essênios seria por meio do zelo pela pureza ritual, Jesus conta parábolas como as que encontramos em Marcos 4.26-34. Nelas, o mistério do Reino se revela nas pequenas coisas do cotidiano.

2. Exegese

O Evangelho de Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito, no final da década de 60 ou logo após o ano 70. Provavelmente foi destinado à comunidade de Roma, mas outros locais foram propostos, como, por exemplo, Jerusalém e Alexandria (há uma tradição que diz que Marcos foi bispo de Alexandria). As pessoas destinatárias falavam grego e não conheciam o aramaico. Residiam num local onde o latim era usado e tinha influenciado o grego. Em termos teológicos, a comunidade enfatizava a iminência da volta de Jesus, talvez por causa de perseguição. Se Roma for o local, a perseguição pode ter sido a de Nero em 64-68.

O texto pode ser dividido em três partes:

V. 26-29 – Jesus compara o reino de Deus com o trabalho de quem semeia. A semente, após ser colocada na terra, cresce e se desenvolve, dá frutos sem que a pessoa que plantou compreenda completamente como isso acontece. A ação humana vai até certo ponto. Quem plantou não consegue acompanhar, pode até dormir ou fazer vigília (v. 27), mas isso não determina o crescimento. A parábola diz que a terra por si mesma frutifica: primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. A ação humana entra novamente no momento da colheita (v. 28). “Deus faz com que os trigais cresçam como que por milagre, sem que as pessoas necessitem ou possam produzir esse crescimento [...] Nos versos que perfazem o núcleo do texto, é retratado, quase entoado, o milagre da criação” (SCHOTTROFF, 2017, p. 142).

V. 30-32 – A segunda parábola compara o reino de Deus a um pequeno grão de mostarda. Uma pequena semente pode tornar-se uma grande hortaliça ou uma árvore com grandes ramos nos quais “as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra” (Mc 4.32; ver também Ez 17.23). Como Joaquim Jeremias afirma: “Do grãozinho faz-se o fruto, do começo faz-se o fim. No mais minúsculo já está operando o maior. O evento já se faz presente agora, ainda que escondido”. Ele acrescenta: “Aqueles, aos quais foi dado entender o mistério do reino de Deus (Mc 4.11), já enxergam, nos inícios insignificantes e ocultos, o reino de Deus a vir” (JEREMIAS, 1983, p. 155).

Schottroff afirma sobre essa parábola e a anterior: “As duas parábolas narram a respeito de experiências agrícolas com plantas que servem à alimentação humana: cereal e mostarda” (SCHOTTROFF, 2007, p. 141). Nessas parábolas acontece o processo natural de desenvolvimento da planta e, ao mesmo tempo, outras relações estão implicadas, entre elas, as relações sociais. Tudo isso e muito mais faz parte do mistério do reino de Deus.

V. 33-34 – Estes versículos elucidam o propósito das parábolas: explicar para o povo como o reino de Deus cresce em seu meio. As parábolas utilizavam linguagem do cotidiano das pessoas para que ele pudesse entender a mensagem (v. 33). Segundo Schottroff, “[...] mulheres e homens da Bíblia caminham por um campo cultivado e veem o agir criador de Deus nas plantas e nos frutos dos quais eles vivem, um milagre de Deus após outro. As plantas tornam transparentes para eles o maior dos milagres de Deus: o início do reino de Deus no momento mesmo que estão vivendo” (2007, p. 144). Discípulas e discípulos recebiam explicações no diálogo com o Mestre.

As parábolas do Reino revelam a relação intrínseca entre a ação de Deus e a ação humana no contexto de vida. Não é à toa que Jesus curou, ensinou a multiplicar os pães, denunciou as ações erradas que estavam acontecendo no templo, jejuou, orou. Em todas as ações, Jesus está conectado a Deus. 

3. Meditação

As parábolas previstas para a pregação são bastante conhecidas. As crianças as experimentam quando plantam feijão no copinho com algodão. As pessoas adultas as entendem. As pessoas idosas lembram com saudade e, muitas, procuram testemunhar, deixando seus ensinamentos na memória histórico-afetiva da família. Por isso mesmo essas parábolas continuam nos fazendo esperançar. Nos tempos em que estamos vivendo (este auxílio foi escrito em meio à pandemia da Covid-19), é preciso afirmar com confiança: o reino de Deus está presente entre nós como uma pequena semente colocada na terra – uma semente que cresce sem que tenhamos compreendido todo o milagre do seu desenvolvimento.

Jesus falava do reino de Deus por meio de parábolas para que as pessoas pudessem entender e compreender que a vida como um todo faz parte do anúncio do reino: ovelha reintegrada no grupo, fermento que faz crescer o pão, moeda encontrada, o filho que volta para casa, sementes jogadas na terra. O anúncio da proximidade do Reino significa concretização da esperança, dos sonhos, a materialização das necessidades, a vida plena e abundante (Jo 10.10). Vida aqui e na eternidade. O mistério do Reino não é compreendido por nós completamente. Para que pudéssemos ter uma dimensão maior do mistério que o envolve, Jesus contou parábolas e explicou mais detidamente aos seus discípulos e discípulas.

Nas parábolas, Jesus aponta para um equilíbrio entre a ação humana e o processo natural de desenvolvimento de uma planta. Há um momento de plantio, de desenvolvimento da planta e seus frutos e um momento de colheita. No ambiente urbano em que muitas pessoas vivem, praticamente não mais acompanham o desenvolvimento das plantas e muito menos conhecem tamanhos de sementes. Mesmo assim, todas as pessoas dependem de sementes plantadas no solo para sua alimentação. Passados dois mil anos do tempo de Jesus, o mundo passou por muitas transformações, sendo uma delas a privatização das sementes por grandes companhias. O ser humano que cultiva a terra já não guarda sementes, mas as compra. Não paga apenas as sementes, mas também sua fórmula, geneticamente modificada. A quem essas empresas deveriam pagar pelo uso da patente original?

Preservar a biodiversidade é preservar a vida. Jesus, de diferentes modos, ajudou a preservar a vida. As parábolas indicam que devemos continuar espalhando sementes na terra. Com elas continuamos aprendendo a reconhecer sinais do reino de Deus. Deus, em sua graça, fará as sementes crescerem no tempo certo. O calendário litúrgico da igreja nos ajuda a pensar que o tempo é cíclico, e não linear, e que, em todos os momentos e em qualquer lugar, estamos nas mãos de Deus.

Em tempos de polarizações e ódio, o povo de Deus, e cada pessoa individualmente, recebe um chamado para espalhar sementes de amor, respeito, confiança, cuidado. É preciso prestar muita atenção nas vozes que buscam confundir e dominar, naquelas que prometem ter as informações privilegiadas de como e quando o reino de Deus irá chegar. Essa informação não nos pertence. A nós cabe a tarefa de continuar jogando boas sementes. Segundo Schottroff, “Deve ser dito claramente que, nesta passagem, não se fala de uma futura igreja, mas tão somente de Deus e do futuro de Deus. Esse futuro constitui a força da esperança para aquelas pessoas que aprendem a olhar a criação com um olhar renovado” (2007, p. 149).

Em nosso tempo, o reino de Deus pode ser comparado a um banco de sementes em que todas as espécies são preservadas com integridade, disponibilizadas comunitariamente, assegurando a continuidade da vida no universo.

4. Imagens para a prédica

O mistério do reino de Deus nos compromete a olhar ao nosso redor e perceber os sinais do Reino que cresce. Ao olhar os sinais, não vemos apenas os sinais, mas também sentimos a presença graciosa e amorosa de Deus.

Sugerimos que a pessoa pregadora enfatize a responsabilidade humana de semear boas sementes. Como filhas e filhos de Deus, salvas pela sua graça, somos pessoas chamadas a semear sementes de amor, cuidado, inclusão, justiça. Da mesma forma, somos chamadas a cuidar das sementes que produzem os alimentos para os seres humanos e os animais no planeta.

Para preservar a vida é necessário preservar a biodiversidade. O maior e mais completo banco de sementes do mundo está localizado na Noruega. Sua missão é conservar sementes de cada espécie vegetal do planeta.

Iniciativas de educação e preservação ambiental fazem parte da história de comunidades, instituições diaconais e educacionais na IECLB. Verifique, na sua região, quais as iniciativas para a preservação de sementes que existem. Segue, abaixo, o depoimento da professora Sueli Presser, coordenadora do Programa Herbário Vivo do Instituto Ivoti.

O Programa Herbário Vivo faz parte do processo de formação curricular no Instituto Ivoti, abrangendo a educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental. Este programa compõe-se de 14 projetos, entre eles, o Banco de Sementes, cuja criação ocorreu devido a uma geada que matou várias de nossas plantas e ficamos sem sementes. Neste contexto, as crianças disseram: O que vamos fazer sem as sementes? Devido a essa situação, construímos o Banco de Sementes, que é, na verdade, uma proposta milenar de conservação das sementes crioulas. Com a revolução verde, com ênfase na monocultura, as famílias agricultoras foram perdendo suas sementes e dependendo, sempre mais, das sementes híbridas e transgênicas, monopolizadas por grandes empresas. A preservação das sementes crioulas paz parte de uma campanha mundial de soberania dos povos e é uma estratégia de segurança alimentar e de segurança nacional da preservação da biodiversidade. Na escola, as crianças cultivam as plantas, fazem a colheita, identificam as sementes, registram a origem da semente no processo troca-troca, observam a forma como elas germinam, tempo que leva para a produção. No sistema “troca-troca”, que realizamos com as famílias e instituições parceiras, procuramos nos assegurar de que as sementes recebidas tenham sido produzidas de forma orgânica. Nós não temos somente sementes de milho, feijão, hortaliças. Nós também preservamos muitas sementes que são da Mata Atlântida, entre elas, as plantas silvestres comestíveis, cujo pomar está em fase de implementação. O espaço Herbário Vivo pode ser visitado por pessoas que trabalham na agricultura, por escolas, grupos comunitários, universidades. Nós distribuímos milhares de sementes e nosso espaço no Herbário não é grande. Mas se a gente planta de tudo um pouquinho, nós vamos ter sempre o nosso banco de sementes. Cada ano uma turma é guardiã das sementes, mas todas as turmas estudam e contribuem na manutenção do Banco de Sementes. Informações: contato@institutoivoti.com.br

Bibliografia

BRAKEMEIER, Gottfried. 2º Domingo após Pentecostes. Prédica: Ezequiel 17.22-24. In: HOEFELMAN, Verner (Coord.). Proclamar Libertação 33. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2008.
JEREMIAS, Joachim. As parábolas de Jesus. 4. ed. São Paulo: Paulinas, 1983.
SCHOTTROFF, Luise. As Parábolas de Jesus: uma nova hermenêutica. São Leopoldo: Sinodal, 2007.


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Autor(a): Marcia Blasi, Marli Brun e Juliana Hoelscher Silveira
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Tempo Comum
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 3º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 26 / Versículo Final: 34
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2020 / Volume: 45
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 64867

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