Prédica: Isaías 52.13-53.12
Autor: Erni W. Seibert
Data Litúrgica: Sexta-Feira da Paixão
Data da Pregação: 28/03/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII
1. O Texto
O texto de Isaías é muito conhecido. A dificuldade está em identificar quem é o Servo do Senhor. A dificuldade é hermenêutica. A leitura de Isaías feita pela visão cristã do Novo Testamento diz que o Servo do Senhor é Jesus Cristo. Poderia haver, também, uma interpretação coletiva ou corporativa do texto, como fazem, tradicionalmente, os judeus. A dificuldade neste último tipo de interpretação é que o Servo do Senhor tem características redentoras do pecado, como em 53.4,10-12, as quais não podem ser preenchidas pela nação israelita. Uma interpretação clássica apresenta o Servo numa exposição piramidal ou tridimensional. A base da pirâmide é a nação israelita, o povo escolhido por Deus para uma missão especial. No meio da pirâmide está o remanescente fiel, o Israel espiritual, que aceitou e cumpriu o chamado divino. No ápice está um indivíduo, sem o qual não há verdadeiro Israel. Este é Cristo.
Tomando o texto como a Igreja cristã tradicionalmente o aceitou, vemos no Servo do Senhor o Cristo, cujo sofrimento vicário se deu em favor de todas as pessoas. As ligações entre o que o texto diz e o sofrimento de Cristo são muito evidentes. O texto da Epístola e do Evangelho indicados para esta Sexta-Feira da Paixão são evidência da interpretação cristológica do texto.
2. A Mensagem da Sexta-Feira da Paixão
A Sexta-Feira da Paixão tem sua atenção voltada para a pessoa e obra de Jesus Cristo. É o dia em que a Igreja olha para o Cristo crucificado, o centro da obra redentora. Ali está denunciada toda a pecaminosidade humana e está declarado todo o amor de Deus. A profundidade do pecado ultrapassa os limites do indivíduo, mas não nega a dimensão pessoal. A pecaminosidade é uma questão social, mas não se limita a uma questão de estruturas. A pecaminosidade é um problema para a qual o ser humano não tem solução. Deus precisou intervir para solucionar a questão do pecado. E ele o fez em Cristo. Esta ênfase na graça de Deus em Cristo, na obra redentora de Deus em Cristo, é muito salutar enecessária. O texto de Isaías nos ajuda a falar sobre esta temática.
3. Objetivo
O texto em foco nos ajuda a colocar como objetivo da pregação fortalecer a confiança dos participantes da celebração em Deus. Em meio a sofrimentos, dores, injustiças, Deus, em Cristo, nos socorre e vence todo o mal. E a vitória de Cristo é a vitória do amor, que é humilde, ao ponto de, inclusive, interceder pelos transgressores (v. 12).
4. O que o Texto Indica em termos de Pecado
O texto aponta um contraste. Chama a atenção o contraste entre o que é exaltado entre os seres humanos e o que é importante diante de Deus. A vitória do Servo do Senhor não é a vitória da força, do poder, da glória, mas a vitória em meio ao sofrimento, à dor, à humilhação. O Servo do Senhor era tido como aflito, ferido de Deus e oprimido, mas, por meio dele, a vitória sobre o pecado foi alcançada. É importante revisarmos nossos valores. Quanto os nossos valores são moldados pelo que Deus revela através das Escrituras Sagradas, e quanto são moldados pelo que é considerado importante no mundo, e, no entanto, ofende a Deus (52.13-53.5)?
O texto também mostra a gravidade do pecado. O pecado é realidade que atinge a cada um e a todos. Ninguém está isento de culpa. Ninguém pode olhar apenas para a pessoa do outro achando que aí está a causa de todo mal. O pecado se manifesta tanto na vida dos indivíduos quanto nas estruturas sociais. E isto é tão grave que o Filho de Deus precisou morrer para trazer a salvação.
Questionamento: 1. Que valores são muito exaltados entre o povo da Igreja na qual vou pregar, ou na sociedade em geral, e estão em contraste com a vontade de Deus (Dez Mandamentos)? 2. Que evidências de pecado há em minha própria vida e na vida da sociedade? Que pecados deveria eu lamentar, os quais também causaram a morte do Servo do Senhor?
5. Como o Texto Indica a Superação do Pecado?
Em Cristo, vemos o amor de Deus em ação em favor da humanidade e em lavor de cada pessoa. Diante da graça de Deus, só nos resta pedir perdão pelos nossos erros e, confiantes, exultar na redenção recebida. É o que faz o profeta Isaías a partir do cap. 54. Quando vemos tudo o que Deus fez por nós, apesar de não o merecermos, cabe-nos confiar inteiramente nele, louvá-lo e colocar a vida a seu serviço. Em Cristo, temos a oportunidade de revisar nossos valores e corrigir nossa vida. Afinal, nele temos o perdão.
6. Organizando o Material para a Pregação
Mantendo o foco da pregação na pessoa de Cristo e na sua morte em favor dos seres humanos, a prédica pode desenvolver dois aspectos: no primeiro, examinar como a morte de Cristo pode dar um novo sentido à vida de cada pessoa, especialmente na experiência do sofrimento e da dor (53.4-6). No segundo aspecto, podemos examinar como Cristo também dá um novo sentido à vida da comunidade humana. A sua morte redentora também coloca nova esperança para a sociedade humana, visto que ele foi ferido por causa da transgressão do meu povo (53.8). Há indicações de esperança escatológica para a comunidade humana (52.14-15; 53.11-12).
Tema da pregação:
A importância da morte redentora de Cristo:
1. para minha vida pessoal;
2. para a vida da sociedade.
7. Sugestões Litúrgicas
O culto da Sexta-Feira da Paixão sempre está em contraste com o culto da Páscoa. Sabe-se, no entanto, que, normalmente, não é possível fazer um culto em dois tempos, em que o primeiro tempo acontece na Sexta e o segundo na Páscoa. Por isso é salutar que já na Sexta-Feira da Paixão aconteça a pregação da esperança, tão evidente na Páscoa. O texto de Isaías ajuda a pregar esta esperança.
O centro da mensagem, assim, estará no fato de que a paixão e morte de Cristo são por nós. Diante da impossibilidade humana manifesta-se a graça de Deus trazendo-nos novas possibilidades.
Mesmo numa situação de morte e aparente fracasso, surge um renovo, nina raiz brotando numa terra seca. Esta é a esperança que Cristo nos traz com sua morte.
Os hinos a serem cantados, as orações e a própria decoração da igreja apontarão para estes contrastes: esperança quando tudo parece desespero; vitória quando tudo indica derrota. O culto será, por isso, uma preparação para a grande celebração da Páscoa.