TEXTO-BASE – TEMA DO ANO 2022
TEMA: Amar a Deus e as pessoas
LEMA: Não amemos de palavra, nem da boca para fora, mas de fato e de verdade (1 João 3.18).
PALAVRAS INTRODUTÓRIAS
1. Após muito diálogo e reflexão, definimos o Tema e o Lema do Ano para 2022. Esse processo contou com a participação da Presidência, das Pastoras Sinodais, dos Pastores Sinodais e de pessoas que trabalham na Sede Nacional da IECLB. Foi uma caminhada muito frutífera, que nos trouxe aprendizados e estimulou a sonhar com uma Igreja e um mundo cada vez melhores. Agora convidamos você a participar das reflexões e, especialmente, a colocar em prática a vivência do amor a Deus e às pessoas.
2. Os motivos para a escolha do Tema e do Lema são vários, e destacamos aqui três questões importantes: em primeiro lugar, o amor a Deus e às pessoas é a característica básica da fé. Quem tem fé, ama a Deus. Quem ama a Deus, ama as pessoas. Em segundo lugar, é preciso refletir sobre o sentido e as consequências do amor a Deus e às pessoas. O que significa amar? Quais as implicações desta “palavra-ação” em nossa vida? Por último, diante da situação de polarização em que vivemos, é necessária uma ação vigorosa e transformadora. Sem amor prejudicamos o presente e dificultamos o futuro. Sem amor, nada seremos.
O AMOR COMO CARACTERÍSTICA DA FÉ
3. O Tema do Ano nos remete a uma palavra de Jesus, que resume todos os mandamentos. “Chegando um dos escribas, que ouviu a discussão entre eles e viu que Jesus tinha dado uma boa resposta, perguntou-lhe: – Qual é o principal de todos os mandamentos? Jesus respondeu: – O principal é: ‘Escute, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e com toda a sua força.’ O segundo é: ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo.’ Não há outro mandamento maior do que estes” (Marcos 12.28-31).
4. “Qual é o principal de todos os mandamentos?” A pergunta dirigida a Jesus não estava relacionada apenas aos Dez Mandamentos. Segundo a tradição judaica, existem ao todo 613 mandamentos, organizados em 248 preceitos “positivos” (orientações para fazer alguma coisa) e 365 preceitos “negativos” (orientações que proíbem algo). Ao perguntar pelo principal de todos os mandamentos, a pessoa queria saber qual dos 613 mandamentos do Antigo Testamento deve ser seguido em primeiro lugar. Trata-se de uma pergunta legítima e até necessária.
5. A ideia de resumir os mandamentos ou de indicar o mais importante é anterior a Jesus. No livro de Miqueias, nós lemos: “Ele já mostrou a você o que é bom; e o que o Senhor pede de você? Que pratique a justiça, ame a misericórdia e ande humildemente com o seu Deus” (Miqueias 6.8). Na mesma linha de resumir e facilitar o seguimento da vontade de Deus, o profeta Isaías escreveu: “Assim diz o Senhor: Mantenham o direito e pratiquem a justiça” (Isaías 56.1).
6. A resposta de Jesus uniu dois textos bíblicos. O primeiro deles constitui a expressão de fé do povo de Israel: “Escute, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Portanto, ame o SENHOR, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força” (Deuteronômio 6.4-5). O segundo texto que Jesus utiliza em seu resumo é Levítico 19.18: “Não procure vingança, nem guarde ira contra os filhos do seu povo, mas ame o seu próximo como você ama a si mesmo. Eu sou o SENHOR”.
7. Os dois textos citados por Jesus estão vinculados ao primeiro dos Dez Mandamentos, que aprendemos no Catecismo: “Eu sou o Senhor, seu Deus. Você não deve ter outros deuses além de mim”. A expressão “Eu sou o Senhor” é fundamental para falar do amor a Deus. Qual é o Deus a quem amamos? Na Bíblia, a palavra “SENHOR” escrita em letras maiúsculas é a representação do nome de Deus, revelado a Moisés (Êxodo 3.13s). Este é o Trino Deus que nós amamos e em nome de quem recebemos o Batismo. Este é o único Deus que cria, salva e santifica.
8. O amor a Deus, o SENHOR, decorre do amor de Deus. Em primeiro lugar, Deus agiu na vida do seu povo: “Ele amou os pais de vocês e escolheu os seus descendentes depois deles; por isso o SENHOR os tirou do Egito com a sua presença e com a sua grande força” (Deuteronômio 4.37). O povo de Israel foi escolhido por Deus, e é considerado por Deus um filho: “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho” (Oseias 11.1). Deus ama todo o seu povo, não apenas uma pessoa ou algumas pessoas em especial. Obviamente existe a relação entre Deus e a pessoa individual, mas sempre no pressuposto de que a pessoa integra um grupo, o povo de Deus.
9. A eleição de Israel não é baseada em méritos ou qualidades, mas no amor de Deus. A graça de Deus, fundamental nos escritos do apóstolo Paulo e na teologia luterana, já está bem presente no Antigo Testamento. Quem era o povo de Israel para ser eleito por Deus? Era um povo insignificante, era praticamente nada, e, ainda assim, foi escolhido por Deus! Foi amado por Deus!
10. Embora tenha feito uma aliança com o povo de Israel, o amor de Deus alcança todas as pessoas. Assim lemos no Evangelho de João: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). O amor de Deus é também o amor de Cristo: “logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2.20). Pelo amor de Deus e de Jesus Cristo, fazemos parte da nova aliança (Marcos 14.24; 1 Coríntios 11.25). Em Cristo, nos tornamos povo de Deus: “Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus” (1 Pedro 2.10).
11. “Portanto, ame o SENHOR, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e com toda a sua força” (Deuteronômio 6.5). Coração e alma representam a integralidade do ser humano. Na Bíblia, o coração é lugar de emoções, sentimentos, conhecimento, percepção. Dele partem a decisão, a vontade e a determinação para a ação. A alma designa o fôlego da vida, a energia vital do ser humano. É também a personalidade da pessoa, com tudo o que a move. Não está em oposição ao corpo, mas, junto com o corpo, constitui o ser humano. Corpo e alma não são separáveis. O terceiro elemento – “com toda a sua força” – reforça a ideia de que o ser humano deve amar a Deus com todo seu ser, sem reservas e restrições.
12. Ame o SENHOR, ame o seu próximo! “Ame” é um imperativo, e o imperativo tem a função de levar uma pessoa a fazer algo. Isto significa que o amor é uma exigência, que somos obrigadas e obrigados a amar? Embora seja um mandamento, não se trata de amor por obrigação. Para entender isto, é necessário considerar aquilo que antecede o mandamento. Primeiro, Deus amou e agiu em favor do seu povo. A partir do amor de Deus surge o amor a Deus e às pessoas. O amor de Deus é o fundamento, o nosso amor é o efeito. Por isso, o amor não será praticado por imposição ou medo, mas como resposta à ação de Deus. Quando reconhecemos o que Deus faz por nós, amamos a Deus. Quando amamos a Deus, amamos também as pessoas.
QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DO AMOR?
13. O amor vai além do sentimento, da mística ou da afetividade. Também não se limita a palavras. Falar de Deus e chamar Jesus de “Senhor” não significa necessariamente amar a Deus. Jesus já advertiu: “Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mateus 7.21). Amar a Deus requer disposição para seguir os seus mandamentos. Não se trata apenas de conhecimento teórico, mas de vivência prática no dia a dia. Significa submeter-se à vontade de Deus e direcionar toda a vida de acordo com ela. Amar a Deus e fazer a sua vontade é o mesmo procedimento, o mesmo ato.
14. Quem conhece e fala do amor de Deus não pode agir de maneira oposta à sua vontade. Não é da vontade de Deus que exista violência, ódio, discriminação, opressão, miséria, injustiça. Por isso não podemos nos conformar e calar diante da violência sofrida por pessoas idosas, mulheres, homens, crianças, pessoas negras, indígenas. A fé cristã é contrária a todo tipo de violência. Não podemos nos conformar com o aumento da pobreza e das desigualdades sociais. Não podemos nos conformar com a destruição da criação de Deus. A responsabilidade com o meio ambiente faz parte da fé! Não podemos nos conformar com a mentira disfarçada e enfeitada com o termo “fake news”. O amor não permite conformação, mas chama à conversão: “não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12.2).
15. “Ame o seu próximo como você ama a si mesmo” (Levítico 19.18). Esse mandamento está relacionado à compreensão de Israel como povo de Deus. Pessoa próxima pode ser alguém da família, da vizinhança, ou, de forma genérica, toda pessoa pertencente ao povo de Israel. E as pessoas que não faziam parte do grupo social “Israel”? O próprio texto de Levítico traz indicações: “Tratem o estrangeiro que peregrina entre vocês como tratam quem é natural da terra; amem o estrangeiro como amam a vocês mesmos, pois vocês foram estrangeiros na terra do Egito. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Levítico 19.34). Na parábola do bom samaritano (Lucas 10.25-37), aprendemos que o próximo pode ser a pessoa que necessita de ajuda e a pessoa que oferece ajuda. A pergunta não é somente “quem é a pessoa próxima?”, mas “quando e como eu me disponho a ser pessoa próxima” de alguém.
16. Em Levítico 19 há uma série de instruções que mostram as consequências do amor às pessoas. Os versículos 9 e 10 tratam da colheita e determinam queparte dela seja deixada para pessoas pobres e estrangeiras. Na linha dos Dez Mandamentos, os versículos seguintes falam de roubo, mentira, falsidade, falso testemunho. Quem engana, utilizando o nome ou a Palavra de Deus, profana a santidade do nome de Deus e descumpre o segundo mandamento. Na compreensão hebraica, oprimir é utilizar violência para impor sua própria opinião e interesse. Também significa enganar, ludibriar e chantagear com o objetivo de obter vantagens. Isto é contrário à vontade de Deus, assim como reter ou atrasar o salário de pessoas trabalhadoras diaristas. O pagamento deve ser pago no fim do dia, para que a pessoa possa adquirir alimentos. Em resumo, prejudicar outra pessoa é absolutamente contrário à vontade de Deus.
17. Além de não prejudicar, o mandamento do amor às pessoas inclui a promoção do bem-estar. Não fazer o mal e promover o bem são as duas dimensões do amor às pessoas. Neste tempo de pandemia de Covid-19, enfrentamos muito sofrimento e percebemos também muita solidariedade. Pessoas, comunidades e instituições vinculadas à IECLB praticaram diversas ações diaconais, ajudando pessoas em necessidade. Pessoas mantiveram distanciamento, usaram máscaras e seguiram protocolos de saúde para proteger a própria vida e a vida de outras pessoas. Mensagens de consolo e esperança foram divulgadas de diferentes formas. Na dor e no luto, pessoas se uniram em oração e ação para diminuir o sofrimento. Isto tudo é prática do amor, é promoção do bem.
18. A execução da vontade de Deus pressupõe o aprendizado: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus” (Salmo 143.10). É preciso aprender a vontade de Deus, guardá-la no coração e transmiti-la: “Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração. Você as inculcará a seus filhos, e delas falará quando estiver sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se” (Deuteronômio 6.6-7). É para a dimensão do aprendizado que aponta uma das palavras – ensine – da arte do Tema do Ano.
“SE NÃO TIVER AMOR, NADA SEREI” (1 Coríntios 13.2)
19. Não existia Internet quando Deus deu os mandamentos ao povo de Israel e quando Jesus resumiu todos os mandamentos no amor a Deus e às pessoas. Neste tempo de pandemia, percebemos a importância dos meios de comunicação para realizar a missão que Deus nos confiou. Graças à Internet, um sistema global de aparelhos interligados, podemos nos conectar e propagar a vontade de Deus. Infelizmente este espaço de comunicação e contato também se tornou terreno fértil para disseminação de mentiras e de ódio. Em vez de edificar e promover o bem das outras pessoas, buscam-se o aniquilamento, a destruição. E isso, algumas vezes, é feito em nome de Deus. Tais pessoas pensam que estão na luz, mas seguem as trevas: “quem odeia o seu irmão está nas trevas, anda nas trevas e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos” (1 João 2.11).
20. O Tema e o Lema do Ano 2022 chamam a atenção para a característica básica da fé: o amor. Sem amor, a fé não se efetua. Sem amor, nada somos. A arte do Tema do Ano traz cinco verbos: acolher, servir, ensinar, pacificar, dialogar. Neles, manifesta-se o amor a Deus e às pessoas. Também aqui os verbos estão no imperativo e representam um chamado, uma necessidade. Para viver a fé e ter um mundo melhor, precisamos colocar esses verbos em prática. “Não amemos de palavra, nem da boca para fora, mas de fato e de verdade” significa amar através de ações. Ame, acolha, sirva, ensine, pacifique, dialogue: este é convite que o Tema do Ano e o Lema do Ano nos fazem!
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