Prédica: Lucas 9.51-56
Autor: Walter Hoppe
Data Litúrgica: Domingo Oculi
Data da Pregação:18/03/1990
Proclamar Libertação - Volume: XV
I — O texto e seu contexto
A perícope é tomada do evangelho de Lucas. Ela está no início de um bloco dedicado à subida de Jesus para Jerusalém (9.51-19.28). Esta subida está toda voltada ao acontecimento pascal, sendo o texto o início da caminhada. O conjunto é antecedido por 4.14-9.50, que trata da ação de Jesus na Galiléia, e seguido por 19.28-21.38, que trata da ação de Jesus em Jerusalém. O contexto menor do texto trata de palavras de Jesus aos discípulos (9.46-50) e palavras sobre o seguimento (9.57-62).
Como sabemos, o evangelho de Lucas não nos quer dar apenas uma biografia da vida de Jesus, mas nos retrata Jesus como meio do tempo entre o Antigo Testamento e a história da Igreja.
II — A Mensagem
Jesus tem a firme intenção de subir para Jerusalém, o que é enfatizado em 13.31-35. Deve-se, pois, situar o texto próximo aos últimos dias de Jesus. Os dias estão completos, ele — Jesus — está caminhando para a saída que vai cumprir em Jerusalém (9.31), sua morte e glória. Neste sentido Jerusalém virá a ser o seu túmulo. Seu palácio, o Gólgota e sua cruz, o trono. O v. 51 nos mostra que o que segue está concentrado na ação de Jesus. Seu tempo está cumprido, chegou o tempo para a volta ao Pai. Sua ida a Jerusalém poderia ter como função o juízo (semblante intrépido), mas esta interpretação não deve ser feita aqui. Seu semblante aqui está voltado para Deus, isto faz com que ele se torne aberto e voltado para tudo e todos. Quanto ao acontecimento com os samaritanos (v.52), trata-se de um acontecimento comum na época. Desde a destruição de seu templo no monte Grazirim (128 a.C.) a inimizade dos samaritanos em relação aos judeus se tornou muito grande. Daí que vem o fato de samaritanos não receberem o messias judeus (v. 53). Os discípulos perguntam se devem pedir a destruição dos samaritanos. A ideia é refutada por Jesus. Afinal ele não veio para destruir, mas para salvar, o que toda sua vida até aí havia mostrado (v. 54-55). Com estas palavras (v. 55) Jesus rejeita o milagre de castigo (2 Rs 1.10), dizendo que mesmo aqueles que não o querem receber devem viver. No texto mostra-se de forma nítida o que é comunidade de Deus no mundo: comunidade a caminho, comunidade em missão salvadora, em missão de vida, mas, também, comunidade malvista e que sofre por causa disso rivalidade e perseguição.
III — Pontos para a prédica
O texto e tudo o que Jesus diz, a partir daí, preparam o tempo da Igreja, tempo que virá depois do mistério pascal. Ele nos mostra o conflito no qual esta igreja irá viver por ser comunidade salvadora, libertadora, proclamadora de justiça e direito em meio a um mundo de destruição, injustiça e perseguição. Conflito que a igreja ainda hoje vive quando leva a sério sua missão. Também hoje cristãos são excluídos, despedidos e encarcerados por causa de seu testemunho. O lema do domingo (Lc 9.62) chama a Igreja à fidelidade ao seu Senhor no caminhar em meio a este mundo.
É importante para mim retratar sempre de novo a Igreja como corpo a caminho, não parada. O texto nos abre espaço para isso, mostrando a comunidade a caminho na figura dos discípulos com Jesus. Jesus não formou uma comunidade parada e salva, mas a caminho e salvadora, isto é, voltada para os outros. Também hoje existem forças contrárias à salvação de Deus e isto dentro da própria comunidade, onde falar de compromisso com o próximo é dilema, mas somos chamados a ir adiante.
Importante, também, é colocar que a reação dos discípulos é nossa reação em muitas situações contra as pessoas que se fecham para a vida trazida em Jesus. Assim a palavra que Jesus dirige ao final do texto aos discípulos, também se dirige a nós, sua Igreja. Somos chamados à missão salvadora, missão nem sempre entendida e aceita, mas jamais destruidora.
IV — Subsídios litúrgicos
1. Confissão de pecados: Querido Deus, aqui estamos nós, tua comunidade, para novamente ouvir de ti, também queremos conversar contigo. Iniciamos contando-te um pouco de nós: Nós temos ouvido tua palavra, mas não a temos praticado. Estamos em meio a este mundo, vemos a destruição, a injustiça, a fome, e nos calamos. Nem ao menos nos temos preocupado com os nossos que também sofrem. Estamos parados, já não olhamos para tua vontade e a substituímos por aquela que nos agrada. Por isso, querido Pai, perdoa-nos em nome de teu Filho e reconduze-nos para o teu caminho.
2. Oração de coleta: Amado Pai, é teu amor que aqui nos reúne. Se aqui estamos, é sinal de que tu ainda nos queres. Dá-nos a visão para podermos ver teu Filho e segui-lo. Fala-nos em nossos corações, para que não esqueçamos o que dizes. Dirige-nos como teus filhos para o mundo, para que todos venham saber da tua vontade. Amém.
3. Oração final: A oração final deve retomar os pontos centrais desenvolvidos na prédica. Deve pedir e comprometer a todos com a missão de Deus, pedir por proteção de Deus nesta missão e fidelidade a ela. Devem ser incluídos os movimentos e grupos que buscam a vida, paz e justiça, pois neles se mostra e acontece o que deveria ser preocupação e ação da Igreja. Pedir pela Igreja e pelos cristãos, para que fiquem fiéis à cruz, ao Crucificado.
4. Sugestão de hinos: 166, 156,154,130 (Hinos do Povo de Deus).
V — Bibliografia
- JEREMIAS, J. Jerusalém no Tempo de Jesus. São Paulo: Edições Paulinas.
- GEORGE, A. Leitura do Evangelho de Lucas. São Paulo: Edições Paulinas.
- SCHWEITZER, E. Das Evangelium nach Lucas. NTD. Göttingen: Vandenhoeck e Ruprecht.
- KLAAS, W. Okuli - Lucas 9,51-56. In: EICHHOLZ, Herr, tue meine Lippen auf. Die neuen Evangelien. Evangelischer Verlag: Wuppertal, 1947.