Paróquia Ferrabraz

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"Quem dizeis que eu sou?" | Mateus 16.13-20

8º Domingo após Pentecostes

18/07/2021

 

Amados irmãos, amadas irmãs,

Em meio ao ministério terreno do Senhor Jesus, muitas pessoas o seguiam sem conhecê-lo. As multidões acompanhavam a Jesus por causa dos sinais e milagres que realizava. Depositaram nele a esperança da libertação completa da opressão de Roma. Os discípulos e uma multidão seguem um homem misterioso que realizava grandiosos feitos entre o seu povo.

O texto bíblico que ouvimos anteriormente tem tudo a ver com o centro da nossa fé. Afinal de contas, quem foi Jesus Cristo? Um simples homem que passou pela terra anunciando uma mensagem de amor e paz? Ou ele era algo a mais do que isso? Quem foi Jesus?

O próprio texto menciona que o próprio Senhor Jesus perguntou a seus discípulos sobre quem ele era. “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?”, perguntou Jesus. Em seguida, lemos que as respostas variavam muito. Alguns acreditavam que ele era João Batista, que já havia sido morto. Ou seja, um grupo de pessoas seguiam a Jesus por crer que ele era aquele que batizava com água; outros diziam que ele era Elias. Lembrando sua história, Elias foi um homem temente a Deus que não passou pela morte, mas foi levado em uma carruagem de fogo que subiu em um redemoinho ao céu. Havia uma profecia que dizia que antes da vinda do Messias, o Salvador de Israel, antes disso o próprio Elias voltaria a terra. Logo, algumas pessoas que seguiam a Jesus pensavam ser ele o Profeta Elias que havia voltado à terra. Vale lembrar que o nome Elias significa “Meu Deus é o Senhor”; Outros diziam que Jesus era o profeta Jeremias, pois seus anúncios eram parecidos. De fato, percebemos que havia muitas opiniões diferentes sobre a pessoa de Jesus. Além dos nomes mencionados, diz o texto bíblico que outros o comparavam ainda a outros profetas do passado.

Não apenas naquela época, mas também hoje continua de pé a pergunta do próprio Cristo: “quem diz o povo ser o Filho do Homem?” Para alguns, ele não passa de uma pessoa bondosa que viveu no passado e deixou sua marca na história; outros dizem que ele é um comerciante de milagres: quanto mais você dá, mais você recebe. Três milagres por um real; outros dizem que ele foi um libertador do pensamento; outros dizem que ele era simplesmente um homem com uma ideia nova a respeito do amor; outros o comparam a um revolucionário; outros dizem que ele foi um profeta morto apenas por abrir demais a boca. Enfim, não apenas naquela época, mas ainda hoje se faz muita confusão quando não se entende, de fato, quem era a pessoa de Jesus Cristo e qual era a sua obra.

Na época de Lutero também havia esta confusão. Cristo era comparado a um rei e juiz pronto a castigar as pessoas se não pagassem os altos valores cobrados pela igreja na venda de cartas que, segundo o costume, garantiam um terreno para a alma no céu. Lutero, após ler e estudar com profundidade as Escrituras, percebeu claramente que este Cristo era muito estranho diante do Jesus da Bíblia. Quantos permanecem seguindo a um Jesus inventado pelas suas mentes e que apenas satisfaz os seus desejos pessoais. Deus passa a ser domesticado pelos nossos desejos e pelos nossos méritos.

A pergunta que Jesus fez continua ecoando, mesmo que tenham se passado praticamente dois mil anos: Quem é o Cristo? Quem é Jesus?

Esta mesma pergunta Jesus, agora, faz aos seus discípulos. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Antes era o que os outros diziam; agora é o que vocês dizem de mim. Quem eu sou para vocês? Por que estão me seguindo?

Pedro, um pobre e humilde pescador, respondeu a esta pergunta com muita sabedoria: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. (v. 16). Sim, tu és o próprio Filho de Deus que se tornou ser humano. Tu és o Deus que habitou entre nós. Não um simples ser humano, mas o próprio Deus que se fez carne e habitou entre nós. O Filho de Deus Pai, que está vivo!

Não cremos em um Deus morto. Não cremos em um Deus que é só uma ideia e que não existe. Bem ao contrário: nossa fé está baseada no Deus vivo! Isso faz toda a diferença. Não é simplesmente um homem; não é simplesmente um profeta; não é simplesmente um milagreiro: É o próprio Filho de Deus. Em tudo igual a nós, exceto no pecado. Deus e homem ao mesmo tempo.

O Deus eterno se torna extremamente fraco e habita entre nós, acampa em nosso meio. Graças a Deus que temos um Deus que se fez fraco. O Deus todo poderoso se humilhou a carne e osso para estar ao nosso lado e é simpático com nossa fraqueza. Ele sofre conosco, compartilha dos sofrimentos humanos. Jesus não está alheio aos sofrimentos humanos, pois Deus sofre junto conosco. De fato, não haveria fé e esperança para o ser humano se Deus não sofresse junto ao ser humano.

Por causa do amor incondicional de Deus, nós podemos ir até Jesus. No homem Jesus vemos o rosto do Pai, vemos o coração do Pai que é cheio de misericórdia e de bondade. Jesus sofreu todas as tentações, ele não se envergonha da nossa fraqueza, pelo contrário, Jesus é nosso irmão, ele se faz presente em meio às provações da vida.

Cristo é a destruição dos modelos racionais que nós criamos sobre Deus. Imaginamos Deus como um ser castigador, e Jesus o revela como misericordioso; imaginamos Deus como alguém que nos odeia, Jesus o revela como alguém que nos ama apesar das nossas imperfeições; imaginamos Deus como um justo juiz, Jesus o revela como nosso advogado de defesa em meio ao tentador. Em Cristo, o próprio Deus veio nos dizer quem ele é: misericordioso, amoroso e compassivo.

Não apenas o Deus que se faz humano, mas também que assume o nosso pecado e o elimina em sua cruz. Na cruz do Deus que morreu, encontramos a reconciliação com o Pai, o Deus vivo. O que o apóstolo Paulo chamou em 1 Coríntios 1.18-25 de loucura. É loucura crer em Jesus como Filho do Deus vivo, pois ele quebra aquilo que nós imaginamos ser Deus. Ele vem e diz “Eu sou o Deus de vocês e os amo muito”. E não apenas isso, mas este mesmo Deus revelado envia a nós o Consolador para que pudéssemos crer em sua Pessoa e Obra. De fato, sem o Espírito Santo nós não podemos crer.

Este Deus que se faz fraco ao nosso lado é o centro da pregação que o apóstolo Paulo irá fazer em suas viagens missionárias. Ele diz em 1 Coríntios 2.2: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” Quem é Jesus? O Deus que morreu na cruz e ressuscitou ao terceiro dia. Deus pode realizar curas e milagres. Porém, se não o faz, certamente sofre a nossa fraqueza ao nosso lado, conhece-nos muito bem e não nos deixa sozinhos no momento de aflição.

E este Cristo Jesus só pode ser recebido por nós pela fé. Lutero dizia que se vê o coração do Pai a partir do Cristo. Para Lutero, Jesus é tão humano que Maria amamentou Jesus em seus seios, deu banho nele, embalou e carregou Deus. Pilatos e Herodes o mataram. Lutero redescobriu a essência do Evangelho: a boa notícia do Deus que se igualou a nós.

E é assim que continua o texto. Jesus respondeu a Pedro que ele foi bem-aventurado em sua resposta. E continua: “não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus”. (v. 17). A confissão de Pedro foi obra do Pai nos céus.

Aqui Lutero também dará ênfase na obra de Deus que nos faz crer. Ninguém pode crer em Jesus e saber quem ele é por si mesmo, pois a nossa imaginação nos prejudica. Ao contrário, podemos crer de fato em Cristo quando o Espírito Santo nos dá o dom da fé. Então tudo passa a fazer sentido. Pedro respondeu corretamente porque o próprio Deus colocou a fé e a resposta certa em seu coração. Lutero diz ao explicar a terceira parte do Credo Apostólico em seu Catecismo Menor:

Creio que, por minha própria inteligências ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé”1.

Nós só podemos crer e confessar a Jesus como Senhor e Salvador se recebermos do próprio Deus o dom da fé. Do contrário, perdidos estamos. Cristo é o Salvador, o Filho do Deus vivo. Se não for isso, não é ele. Corra! Fuja! Não se perca em falsas propagandas que usam o nome de Deus para fazer grande o nome de homens.

Em seguida o texto bíblico menciona o fundamento da Igreja: o Cristo vivo. O mesmo fundamento que o Apóstolo Paulo mencionará em 1 Coríntios 3.11: “Ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo.” Do contrário, se o fundamento for milagres, o dízimo, o rebatismo, guardar o sábado, mais isto, mais aquilo lá... a construção certamente cairá. O fundamento tem que ser o Cristo morto e ressurreto, conforme revelado nas Escrituras Sagradas. E diz o texto bíblico que se a igreja estiver sobre o fundamento de Cristo, nem mesmo as portas do inferno poderão atacá-la. Uma igreja unida é reflexo do seguimento a Jesus como Filho do Deus vivo. Uma igreja dividida é reflexo da falta de amor a Deus e ao próximo.

E inclusive quando nós, como irmãos, nos unimos a Deus em oração, ele as ouve e pode as atender. Diz o v. 19: “o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus”. A Igreja do Deus Vivo conversa com o Deus Vivo.

No último versículo, Jesus nos pega de surpresa. De repente, ele mesmo nos diz que os discípulos não dissessem aos outros que ele era o Cristo, ou seja, o ungido de Deus. Por que Jesus faz isto?

Ao contrário de muitos do nosso tempo, Jesus não quer fazer um alarde se exibindo como único e poderoso Filho de Deus. Como humano humilde, ele prefere manter a discrição. A explicação desta atitude do Senhor se encontra no próprio texto bíblico, no v. 14. O povo não sabia quem era Jesus. Ao contrário, Jesus sabia o que o povo esperava dele: que fosse um grande Rei que pela guerra libertaria o povo da opressão de Roma. Este não era o seu objetivo principal.

O povo estava ansioso para torná-lo um rei. Mas Jesus queria seguir o caminho para a cruz. A sua Salvação não seria realizada apenas para o povo judeu em seu sofrimento; Não! Ele queria dar a Salvação eterna a todas as pessoas da terra e abriu este caminho ao morrer por nós em uma cruz. Se naquele momento, Cristo tivesse sido proclamado rei de Israel, permaneceríamos longe da salvação. Mas, ao contrário, ele preferiu ser um humilde Cordeiro que, ao morrer na cruz, tirou o pecado do mundo.

Para nós, hoje, em 2021, fica a pergunta do próprio Cristo: e vocês, quem dizem que eu sou? Só poderemos encontrar a resposta correta ao lermos cada vez mais a Palavra de Deus e confiarmos no agir do Espírito Santo que nos ensina a crer.

A vida dá as suas pancadas; mas nos lembremos das pancadas que este Senhor Jesus Cristo levou na sua cruz. Ele sabe e sente as nossas dores, se faz fraco e sofre ao nosso lado. Esta é a loucura da Salvação.

Que possamos ter ouvidos atentos para não cairmos nas ciladas que há no mundo afora. Fala-se muito de Jesus, mas não dele como Filho do Deus vivo que veio nos redimir de nossos pecados e nos reconciliar com o seu Pai. Muitos já caíram nas falsas pregações da Palavra de Deus; que nós possamos permanecer firmes nas promessas do Senhor.

Paulo diz em 2 Timóteo 4.3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de estres segundo as próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos.” Quantos procuram um Deus domesticado que faça apenas as suas vontades pessoais. Que nós possamos permanecer no Deus vivo, pois Cristo está vivo e voltará para nos levar para o seu lar eterno.

E vós, quem dizeis que eu sou?

E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus, amém.


8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | VERDE | TEMPO COMUM | ANO B

18 de Julho de 2021


P. William Felipe Zacarias


1 LUTERO, Martim, Catecismo Menor. 16. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2011. p. 11.


Autor(a): P. William Felipe Zacarias
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio dos Sinos / Paróquia: Sapiranga - Ferrabraz
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 63589
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