DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO 2011 - CHILE
TEMA: QUANTOS PÃES VOCÊS TÊM?
ESTUDO BÍBLICO 1
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Texto: Velho Testamento - 1 Reis 17.1-16
HISTÓRICO
Situemos o texto no tempo: o Reino de Israel estava dividido entre o Reino do Norte e o do Sul. O rei Acabe governava o Reino do Norte e não era fiel ao Deus Yahvé.
“Acabe ofendeu ao Senhor com sua conduta, mais que todos que o antecederam”. (I Re 16.30). Como explicação, diz-se que Acabe se casou com uma princesa sidonita e introduziu o culto ao deus Baal em Israel. Construiu a Baal um templo em Samaria. O deus Baal simbolizava chuva, fertilidade e crescimento. Render-lhe culto significava boas colheitas e bem estar.
Por outro lado está Elias, homem do Deus Yahvé. Ele desafia o rei Acabe e faz-lhe ver que seus falsos deuses levarão Israel a um desastre.
LEITURA
I Reis 17.1-9
Elias, originário de Tisbé, é fiel a Yahvé. Ele enfrenta diretamente o rei Acabe, para demonstrar que seu culto aos falsos deuses não tem futuro. Jurou pelo Deus Yahvé que essa traição ia ter consequências. Uma vez que a força dos falsos deuses se manifestava através das chuvas e boas colheitas, o profeta Elias ameaça o rei Acabe com uma seca. Em conseqüência dessa ameaça, O rei Acabe e sua esposa Jezabel querem matar Elias. O profeta tem que fugir e Deus se encarrega de sua proteção e sobrevivência. Na torrente de águas Querit, Elias sente pessoalmente a preocupação de Yahvé pelos seus. Porém, depois de algum tempo, o arroio seca e Elias sente fome. Yahvé envia Elias a Sarepta de Sidon, onde promete resolver seu problema.
I Reis 17.9
Elias encontra em Sarepta uma mulher, viúva, sem marido, sem estatus social, pobre e mãe de um filho enfermo.
Naquele tempo, em Israel, uma viúva* – almanah – era uma mulher marginalizada, desolada, privada de todo e qualquer apoio. Não apenas havia perdido seu marido, mas também com ele seu estatus social e segurança econômica. Sua única alternativa era ser aceita e alimentada pela família de seu marido ou por seus filhos. Essa viúva de Sarepta vive sozinha com seu filho enfermo; está abandonada e desesperada: a comida só dá para um dia.
(*trata-se de uma viúva fora de Israel, em Sidon. Esse fato é ressaltado por Jesus na passagem de Lucas 4.26).
I Reis 17. 10-12
Escassez e entrega
A viúva rende-se ao seu destino: sabe exatamente o pouco que lhe resta e quanto tempo durará. Está disposta a preparar a última refeição para ela e para seu filho e entregar-se à morte certa: “... comeremos e logo morreremos”. Está esgotada com a luta pela sobrevivência. Com a seca não há nenhuma possibilidade de semear, cultivar e colher; não vê nenhuma alternativa para ela e para seu filho.
Nesse momento obscuro, enquanto está juntando lenha para fazer fogo, na entrada da cidade, aparece Elias, um forasteiro que lhe pede água, elemento valioso em tempos de seca. E a viúva resolve ajudá-lo e vai buscar água para o forasteiro. Bem ali, o que ouve soa forte aos ouvidos, ao menos lendo o texto com “olhos de mulher”. Quando ela ia buscar a água, Elias chamou-a: “Traga-me também um pouco de pão”. Yahvé havia dito a Elias que procurasse a viúva. Mas ela se espanta por ele pedir-lhe pão. Acaso não era óbvio que ela não tinha nada? Será que ele sabe?
I Reis 17.12
É mais que compreensível que a mulher, em um primeiro momento, explique sua situação. Diz exatamente o que tem. Ao reconhecer e saudar o Deus de Elias, ela mostra com mais força sua desesperança e decepção. Invoca a Yahvé como testemunha de sua situação desesperada: “Vive o Senhor teu Deus, não tenho nenhum pão”.
I Reis 17.13
Mas Elias insiste em seu pedido, diz a ela que não tenha medo, que faça o que deve fazer, que confie nele e o convide para comer um pedaço de pão. Elias faz uma promessa: “O SEU Deus, o Deus Yahvé, o Deus de Israel, se encarregará de que não lhe falte nada até o término da seca.
I Reis 17.15-16
A viúva de Sarepta confia, abre seu coração a um forasteiro, sente que as palavras e as promessas que ele pronuncia são verdadeiras. Ela abre seu coração e reparte o último que lhe resta: prepara o pão, entrega-o ao profeta, o homem estrangeiro, e logo se produz o milagre: por um longo tempo não mais lhe faltou comida nem para ela, nem para seu filho.
Confiando na promessa do profeta, impressionada por suas palavras acerca do Deus de Israel, ela entrega, compartilha e renuncia ao pouco que lhe restou e dessa maneira encontra a plenitude, a satisfação, a abundância.
INTERPRETAÇÃO
O profeta de Deus se hospeda na casa da viúva.
Deus se mostra nas pequenas coisas: escolhe uma mulher, viúva, pobre, marginalizada, para dar-se a conhecer ainda que fora dos limites de Israel. Deixa-se comover pelo desespero dessa mãe e não a deixa em abandono total.
Mesmo essa mulher não tendo nome, tinha uma voz: apesar de sua complicada situação, ela denuncia a escassez econômica que havia em sua casa e obriga o profeta à ação. Com base na promessa do profeta, ela age: confiada de que o amor de Deus a ela apresentaria algo inesperado em meio a sua pobreza, abre seu coração, amassa o pão, privilegia a necessidade do outro diante dela e de seu filho e entrega tudo o que tem: água e pão. Primeiro prepara o pão para Elias. Deus se faz presente através da entrega dessa mulher: ela compartilha a mesa, compartilha o pão, compartilha sua história e seu destino. Ela confia em que algo novo pode acontecer e está disposta a confiar.
Deus se posiciona entre duas mulheres
Este relato do Velho Testamento está cheio de imagens contrastantes:
Morte – vida;
Abandono – presença de Deus;
Fome – saciedade;
Solidão – companhia;
Silêncio – Palavra de Deus.
Mas embora não se faça menção a Jezabel no texto escolhido para o culto, ela faz parte do texto de I Reis. No cenário, distingue-se a história de duas mulheres, de dois estilos de vida.
A viúva de Sarepta com seu modo de ser, é a antítese da rainha Jezabel, esposa do rei Acabe (ver Reis 16. 29-34). Enquanto a rainha Jezabel vive no Palácio uma vida de luxos, riquezas, desperdício às custas do povo, a viúva dá o último que tem e alimenta primeiro o profeta antes de pensar em si mesma.
Enquanto Jezabel introduz no reino do Norte a idolatria a Baal – a viúva encontra o verdadeiro Deus e o adora fora dos limites de Israel. Enquanto Jezabel persegue o profeta, a viúva o recebe em sua casa.
Jezabel e seu marido mandam matar Elias – a viúva acusa Elias pela morte de seu filho, mas reconhece finalmente o poder de Iahvé que lhe devolve a vida.
Jezabel traz desgraças e morte ao seu povo – a viúva faz o que Deus, através do profeta, lhe pede, e ainda que lhe seja custoso inicia, com seus atos, um tempo de bênçãos para ela e seu filho.
Dois conceitos de vida estão em jogo; mas o Deus de Israel, o Deus Iahvé se coloca claramente ao lado da viúva e entrega “plenitude de bênção” através dela.
A quem adoramos hoje?
Olhemos Acabe: Que deuses adoramos em nossos dias? Seguimos os mais variados ídolos modernos: o dinheiro e o poder, a fama, o “fitness” e a moda. E, como Acabe, sentimos as conseqüências: a “seca” econômica, o desespero pessoal são as conseqüências por havermos abandonado o projeto de Iahvé, havermos traído o plano de Deus para nós e havermos seguido os falsos deuses.
A mensagem do texto bíblico consiste no convite da viúva: conhecer a nós mesmos, ter confiança em Deus, compartilhar o único (e o último) que temos, abrir a casa e o coração a quem pedir, acolher o forasteiro e escutá-lo. A atitude de abertura, de entrega, de repartir, pode trazer uma mudança em nossas vidas.
Exemplos do Chile
< Padre Alberto Hurtado: Dar até doer.
Aqui no Chile é muito conhecida a vida e obra do Padre Alberto Hurtado, que abriu seu coração aos gritos dos desamparados e iniciou os “Lares de Cristo”, lugares onde se acolhem e apoiam pessoas marginalizadas e excluídas da sociedade do êxito e do consumo. O Padre Alberto organizava campanhas sob o lema: “DAR ATÉ DOER”, para financiar os diversos lares: de mães adolescentes, de mulheres abandonadas, de anciãos, de meninos de rua - a quem ele chamava de ”patronzitos”. Isso prossegue até os nossos dias.
< As mulheres acolhem em suas casas suas visitas com pão feito por elas junto com um chá mate ou chá de ervas perfumadas do campo.
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO:
1 – Nós podemos dar nomes aos “lugares de seca” de nosso tempo?
2 – O que dizem as vozes proféticas nessa situação?
3 – Quais são os falsos deuses no mundo de hoje?
4 – Qual é a nossa atitude frente ao forasteiro, ao estrangeiro que bate em nossa porta?
5 – A viúva entrega o pão, o último que tem. O que nós compartilhamos? Qual é o nosso conceito “do que é suficiente”?
Texto de:
Sabine Peterman – Teóloga Católica
Misci Castro Diaz – Igreja Metodista do Chile