Na segunda-feira, bem cedo, espio qual será o texto de pregação para o próximo culto. Na sequência, vou refletindo, pesquisando e fazendo anotações. Por último, me dedico a escrever o sermão. Na semana passada deparei-me com um relato bíblico que, a princípio, não entendi muito bem, o qual por fim me trouxe uma agradável lembrança recém-compartilhada. Além disso, nos estudos, percebi uma boa surpresa, a qual passo a repartir com vocês.
Recordando... No culto anterior, refletimos sobre o duplo desafio de Jesus, tanto ao serviço, quanto ao ser como uma “criança”. É preciso vencer o preconceito, estendendo, tanto o coração, quanto as mãos àqueles que são à margem de nossa sociedade. O tema continua nesta noite, com questões bem práticas sobre o serviço e preconceito. Assim escreve o evangelista: “DISSE JOÃO: MESTRE! VIMOS UM HOMEM EXPULSANDO DEMÔNIOS EM TEU NOME E PROCURAMOS IMPEDI-LO, PORQUE ELE NÃO ERA UM DOS NOSSOS. NÃO O IMPEÇAM! DISSE JESUS. NINGUÉM QUE FAÇA UM MILAGRE EM MEU NOME, PODE FALAR MAL DE MIM LOGO EM SEGUIDA, POIS QUEM NÃO É CONTRA NÓS ESTÁ A NOSSO FAVOR. EU LHES DIGO A VERDADE: QUEM LHES DER UM COPO DE ÁGUA EM MEU NOME, POR VOCÊS PERTENCEREM A CRISTO, DE MODO NENHUM PERDERÁ A SUA RECOMPENSA” (MARCOS 9:38-41).
De antemão, é necessário refletir sobre a questão: Por que afinal alguém que se diz discípulo de Jesus não está com ele, mas faz “milagres” à parte. Seria muito natural que um sujeito que está sendo discipulado pelo Mestre caminhe ao seu lado, aprendendo e assim crescendo. Inclusive, é bom recordar que, nos dias anteriores, os discípulos se perderam em conversas fiadas com os fariseus sem conseguir ajudar um menino com dificuldades. O pai precisou apelar para Jesus, que interviu e socorreu. Todavia, agora alguém opera por conta, longe do Mestre e tem êxito. Os discípulos estranham e questionam. Pode ou não pode?
Jesus não o condena o sujeito. Mas, também não é separatista. Ele não é a favor da divisão entre os seus discípulos, nem na Galileia, muito menos hoje. Vale destacar que a divisão da igreja em grupos e denominações só revela a natureza humana, que é pecadora. A divisão é fruto do orgulho humano, da falta de humildade e de arrependimento. A divisão é artimanha do maligno que se aproveita das intrigas para nos afastar da comunhão. No início da igreja, já havia aqueles que seguiam a Pedro, outros Paulo ou Apolo. Sempre de novo, os próprios apóstolos precisavam alertar que é necessário focar e seguir a Cristo. Na tentativa de harmonizar pensamentos é que surgiu o “Credo Apostólico”.
É importante que o assunto “divisão” próximo ao Dia da Reforma. Na cabeça de muitos, os “protestantes” dividiram a igreja. O que, em parte, é verdade. Mas, não totalmente. Como já citei, desde o início, houve movimentos separatistas. A primeira grande divisão da igreja ocorreu no ano 1000. A Igreja Católica passou a ser: Romana (ocidente) e Ortodoxa (oriente). São dois ritos e lideranças distintas. Em 1500, Lutero e seus amigos tentaram “reformar” a igreja. Como não houve acerto, os “protestantes” acabaram sendo expulsos, donde surgiu a igreja reformada ou luterana. Mas, logo em seguida, houve outro racha, onde alguns não queriam dar continuidade à prática do Batismo de crianças, passando a batizar adultos nas águas. Lutero permaneceu no costume católico, enfatizando com mais determinação ainda a questão da “graça”. O Batismo não é e não pode ser obra humana. É presente de Deus. Assim, sucessivamente, por uma ou outra questão, a igreja foi se dividindo ao ponto que se vê hoje. Quantas denominações há na pequena Garuva? Quais são as diferenças entre elas? Todavia, mais importante é refletir sobre o que nos une? É uma questão primordial à boa convivência. O que nos une sempre foi, é e será superior aos motivos de separação.
Mas, os discípulos perguntam para Jesus o que deve ser feito com o “separatista”. O Mestre o deixa livre, dando-lhe autorização à ação. Se faz o bem, que continue fazendo. É importante recordar aqui outro momento no qual Jesus afirma que “se conhece a árvore pelo fruto”. Vivemos tempos estranho com muitos operando curas, dentro e fora da igreja, usando e abusando do nome de Deus, ou ainda usando o nome de deuses estranhos. Os milagres acontecem? Sim! Vem de Deus? É outra questão bem diferente. Mesmo dentro da igreja há uma busca desenfreado por dinheiro e poder. A fé da pessoa é manipulada. Nisso não podemos concordar. Em casos de charlatanismo, a lei civil precisa ser aplicada para proteger o povo. Infelizmente, a igreja deixou de ser igreja e passou a ser uma empresa que gera emprego e lucro.
Por outro lado, Jesus alerta para uma questão bem mais simples e de suma importância. O que é o milagre? Será sempre algo extraordinário e inexplicável. Então, Jesus faz um esclarecimento importante. Ele estimula os discípulos a simplesmente estender a mão e alcançar ao outro um copo de água ou uma palavra, que seriam atos de caridade, revelando o cuidado e amor de Deus. Ao invés de ficar com os olhos nas nuvens, o Mestre insiste para que os pés estejam no chão. As atitudes simples do cotidiano também revelam a presença de Deus. Então, a dedicação ao próximo se torna um milagre. Novamente, aos discípulos de ontem e da atualidade cabe a lição: Não basta clamar por poder ou aguardar o extraordinário se não há disposição para fazer o ordinário. A fé se revela no dia a dia, nas pequenas atitudes. Amém!
Vamos orar juntos com as palavras de Lutero: SENHOR! OBRIGADO POR AGIRES POR INTERMÉDIO DA VIDA DE OUTRAS PESSOAS. LEVA-ME A PERCEBER DE BOM GRADO AQUELES MILAGRES E MISERICÓRDIAS QUE TU REVELAS POR MEIO DE CADA PESSOA DO TEU POVO. AMÉM!
Do Padre Zezinho, “Canção Ecumênica”...