Tiago 3.1-12
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam entre nós. Amém
O apóstolo Tiago nos traz hoje importantes orientações em relação a assuntos práticos da vida cristã. Em sua carta ele fala de pobreza, riqueza, tentação, preconceito; sobre a maneira de viver, de falar, de agir e de criticar; fala do orgulho, da humildade, da paciência, da oração e da fé. Ele enfatiza que não basta somente crer, mas importante também é agir.
No texto que ouvimos a pouco, ele chama a atenção para um pequeno órgão do nosso corpo, que muitas vezes, é difícil de controlar: a língua!
É difícil dominar a língua! Trazendo, com isso, grandes e graves problemas nos diversos relacionamentos com os irmãos e irmãs na comunidade e na sociedade, e muitas vezes, até dentro da própria família. Com a chegada da internet, podemos constatar que as palavras não se articulam apenas através da língua, mas elas saem também pelos nossos dedos. É incrível o que as pessoas conseguem dizer uns aos outros pela internet. É doloroso ver que muitas palavras que são postadas, tem somente o propósito de machucar e ofender o outro. Quem nunca leu ou ouviu palavras como: insuportável, sonso, burro, incompetente, idiota, mentiroso, explorador, ingrato, competitivo, preguiçoso, enfim, palavras que podem acabar com o dia de qualquer um de nós.
Por isso, o apóstolo Tiago nos alerta sobre o poder de nossa língua e de nossas palavras. Ele diz que a pessoa cristã deveria se distinguir das outras pessoas, que a pessoa cristã deve cuidar do que fala (ou do que escreve).
A pessoa cristã deve ser diferente das outras pessoas porque ela deve ter equilíbrio entre o falar e o agir, e deve assumir responsabilidades com o que se diz. Por isso, a comunidade cristã – a igreja cristã – se distinguie de qualquer outro grupo de pessoas deste mundo. Na comunidade cristã não deveria haver lugar para os males do mundo. Para o apóstolo Tiago o ser humano pode ser bom, se ele quiser ser bom, se ele conseguir controlar o seu comportamento e principalmente a sua língua (as suas palavras). Assim, portanto, não fale mal de nada e muito menos de ninguém, não fale pelas costas de ninguém. Fale bem de tudo e de todos (inclusive os seus inimigos), mesmo quando devesse depreciá-los. Pratique sempre o bem e afaste-se do mal. Se o coração do ser humano for bom, ele vai fazer coisas boas. Acaso pode uma fonte jorrar água doce e amarga? Uma figueira pode dar azeitonas? Uma videira pode produzir figos? Uma fonte de água salgada não pode dar água doce. Portanto, a carta de Tiago é muito bonita porque ela fala da coerência que deve haver entre o que se diz e o que se crê, entre aquilo que se fala com aquilo que se faz. E enfatiza dizendo que fé sem obras, é uma fé morta. E isso é muito certo.
No entanto, Jesus havia advertido os seus discípulos que a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12.34). E quando um coração está cheio de auto-confiança, por exemplo, costuma não ter lugar para Deus. E sem a presença de Deus, o coração humano se enche de orgulho, de prepotência, de egoísmo, de falsidade. Pois, o sentimento natural do ser humano é ser egoísta. Isso nós podemos ver nas crianças pequenas. A solidariedade, a compaixão, a renúncia, o compartilhar são coisas que precisam sem ensinadas pelos pais. E normalmente quando os pais/mães querem ensinar isso, as crianças embirram. O amor ao próximo não é um sentimento natural no ser humano. Ele precisa ser ensinado.
Martin Lutero disse que só faltou o apóstolo Tiago dizer uma coisa: Que o ser humano não consegue fazer isso sozinho. Pois, mesmo querendo fazer o bem, o ser humano acaba trocando as mãos pelos pés. As boas intenções das pessoas muitas vezes acabam dando errado. Desta forma, não basta só a boa vontade do ser humano. A boa vontade e até os bons conselhos, muitas vezes são como fogo de palha.
Por isso, as boas intenções não salvam ninguém. Pois uma coisa é querer ser uma pessoa boa e outra coisa é permanecer sendo uma pessoa boa. O pecado no coração humano não nos permite permanecer sendo pessoas boas.
Martin Lutero dizia que a nossa vontade deve ser conduzida pela vontade de Cristo. E para isso não basta só crer em Jesus, é preciso crer como Jesus. É a fé que nos salva, mas não a fé do ser humano em si mesmo. A fé que nos salva é a fé em e como a fé de Jesus. Desta maneira, o ministério de um apóstolo autêntico de Jesus – de um ministro ou ministra da igreja – não está em enaltecer o ser-humano, mas está em pregar a respeito do sofrimento, da ressurreição e do ministério de Cristo. Todo esse sofrimento, morte e ressurreição de Jesus não teria sido necessário – a cruz não teria sido necessária - se o ser-humano pudesse se libertar sozinho de sua inclinação natural ao pecado. Se as boas intenções fossem suficientes para tornar qualquer pessoa boa. Mas, somos pessoas pecadoras por natureza. E nossa única possibilidade de permanecer sendo pessoas boas é com a ajuda de Deus. Precisamos que Deus nos perdoe e nos justifique, todos os dias. Precisamos que ele ilumine nosso caminho e que abra nossos olhos para a sua vontade.
Por isso, o ministro/ministra, a Igreja de Cristo, precisa dar testemunho de Cristo, precisa promover e enaltecer a Cristo. (Dareis testemunho de mim, Jo 15.14).
Uma predica bonita não é aquela que elogia e enaltece o ser-humano, que diga que somos todos pessoas boas e que Deus vai nos abençoar por isso. Que se fazemos coisas boas, poderemos exigir algo de Deus no futuro. Para Lutero, esse é o nosso grande engano, pois tudo o que somos hoje, tudo o que conseguimos fazer – tudo isso só foi possível pela graça de Deus. Por isso, uma pessoa luterana deve cultivar um sentimento em seu coração: a gratidão a Deus. A gratidão a Deus faz brotar em nossos corações o amor a Deus e ao próximo. O verdadeiro amor nasce da gratidão. Uma pessoa é realmente cristã quando ela é grata a Deus.
A gratidão faz com que eu veja que tudo provém de Deus. Até mesmo a fé em Deus não nasce dentro de nós, ela é um presente que vem de Deus. Quando dizemos “Eu tenho fé”, isso não é mérito nosso.
Afinal, o que mais se vê em nossos tempos são pessoas que dizem ”Eu tenho fé” mas usam a Palavra de Deus para fazer justamente o contrário do que a Palavra de Deus ensina. Em nome de Deus semeia-se ódio, violência, discriminação e preconceito. E quem faz isso, não conhece a Jesus.
Por isso, podemos dizer que apesar dessa confusão religiosa, apesar do mau testemunho de pessoas que dizem ter fé em Deus, apesar do ódio e da intolerância, apesar do abuso do nome de Deus para enganar, mentir e até matar, - que ainda haja pessoas com fé em Jesus, isso é um milagre operado pelo próprio Deus. Que ainda haja pessoas que - como nós - se reúnem em culto e reconhecem com gratidão o amor de Deus em suas vidas, que aceitam a Palavra de Deus e que transformam as suas vidas por gratidão diante do amor recebido de Deus - isso é um sinal de que o verdadeiro Jesus ainda está entre nós e abriu os nossos corações.
Mas, não devemos pensar que nós somos melhores do que os outros. Não devemos esquecer o ensinamento de Martin Lutero: Não basta apenas ter fé é preciso também permanecer na fé em Deus. E isso não conseguimos fazer por nós mesmos. Nossa natureza humana vai sempre nos afastar de Deus e nos levar constantemente para o pecado. Mas o amor de Deus – em Cristo Jesus - nos chamará sempre de volta. Por isso, somos pessoas pecadoras, constantemente justificadas pela graça de Deus. Precisamos que Jesus nos abra constantemente os ouvidos para a mensagem do Evangelho e nos anime para o convívio comunitário. Pois a fé se alimenta somente da Palavra de Deus que nos desafia, que nos admoesta, que nos consola e nos anima. Essa Palavra de Deus que ouvimos toda vez que nos reunimos para orar e louvar a Deus. Por isso, deixe a fé em Deus te florescer, a gratidão a Deus te recosntruir e o amor de Deus te conduzir.
Que o Deus da vida ajude nosso pensar e nosso falar
Que Jesus Cristo abençoe o nosso agir e que o Espírito Santo nos ajude a espalhar a solidariedade e a misericórdia.
Amém.